sábado, 3 de janeiro de 2009

2008

205 foi o número exato de filmes que assisti em 2008. A nova comédia de erros dos irmãos Coen, Queime Depois de Ler, foi o último do ano. O mês de dezembro foi um desastre porque o show da Madonna tirou todo o meu interesse por cinema. Foram somente 5 filmes no último mês do ano. Aproveitei para publicar os textos que comecei a escrever mas nunca acabei por alguma razão.

Em 2007, eu reclamei que não tinha opções para fazer um top 10 de preferidos do ano. Agora sobraram opções. Vamos à lista dos meus preferidos de 2008:

10 - Sweeney Todd: O musical do Tim Burton abre a lista por ser tecnicamente impecável. É um espetáculo visual.

9 - Linha de Passe: Um critério que uso para opinar sobre um filme é o quanto ele sobrevive ao tempo. Este filme do Walter Salles vence Os Desafinados nesta questão. Eu ainda mantenho a opinião positiva sobre o musical brasileiro mas a busca da família de Linha de Passe por uma identidade só aumentou no meu conceito.

8 - Wall-E: A primeira e não única animação da minha lista também aparece nas listas dos outros meios. A surpresa da história do robô que se apaixona foi instantânea e marcante.

7 - Desejo e Reparação: O romance durante a 2ª Guerra Mundial está aqui não somente pelas mesmas razões de Sweeney Todd. Mas também por provocar uma análise da menina que é tudo menos cupido.

6 - Estômago: O meu filme brasileiro preferido de 2008. Gastronomia e humor podem andar juntos.

5 - Persépolis: Não tenho medo nenhum em dizer que Persépolis me agradou muito mais do que Wall-E.

4 - Piaf - Um Hino ao Amor: Até eu fico surpreso com a posição de Piaf. Nunca escrevi sobre ele porque só pude ver em DVD e foi paixão à primeira assistida. Atuação comovente de Marion Cottilard e um roteiro não linear bem inteligente. E as músicas de Edith Piaf!

3 - Batman - O Cavaleiro das Trevas: O melhor filme de super-herói já feito. Ponto.

2 - Sangue Negro: Eu poderia empatar as duas primeiras posições mas elas foram desempatadas há pouco tempo. A ganância sobre a exploração do petróleo fica atrás do que vem a seguir.

1 - Onde Os Fracos Não Têm Vez: Eu entendi o filme todo errado, comprei o DVD e decidi que seu lugar é este mesmo. Hoje eu revi Fargo e curiosamente a detetive dele me fez compreender mais o xerife de Fracos. Finais idênticos. Por que funcionaria naquele ano e não neste?

Texto inacabado: Vicky Cristina Barcelona

O Woody Allen completou 73 anos e no dia do seu aniversário, assisti Vicky Cristina Barcelona. Eu escrevi no texto sobre O Sonho de Cassandra que até hoje nunca vi muita coisa do diretor. Não o publiquei porque nunca acabei. Mas basicamente já vi o Woody dirigindo suas musas Diane Keaton, Mia Farrow e agora a Scarlett Johansson. O que importa é que VCB superou muito minhas expectativas. É a comédia sobre relacionamentos que o Woody sabe fazer como ninguém. Duas amigas americanas (Rebecca Hall - Vicky e Scarlett Johansson - Cristina) que divergem sobre o amor viajam para Barcelona onde serão tentadas pelo pintor garanhão Javier Bardem, um recém-divorciado de um casamento problemático com Maria Elena (Penélope Cruz, sensacional!). Eu tinha lido antes umas reclamações sobre a narração excessiva emVCB. Como sua intenção não é mastigar a história para o público então nem me incomodou tanto. Embora realmente canse como um recurso narrativo.

Eu dividiria o filme em duas partes: antes e depois de Maria Elena, sendo a segunda superior. O maior problema da primeira é se tornar cansativa depois de um certo momento. A história parece que pára de evoluir. Vicky e Cristina não funcionam em cena sozinhas, elas precisam de um suporte que é dado pelo Javier Bardem. A cena inicial delas com ele é incrível. O Javier se aproxima e praticamente diz (mudei as palavras mas a idéia é a mesma): "Querem passar o fim de semana comigo no lugar X para transarmos?". Só o Woody Allen para não deixar a situação absurda, sem falar que o Javier está tão natural que não tem como não deixar a coisa toda crível. Quando ele parece criar uma relação estável com uma delas, eu comecei a cochilar. Não era hora de nenhum equilíbrio então surge - felizmente! - Penélope Cruz para desistabilizar o casal.

Penélope encarna a ex-esposa que acabara de tentar o suicídio. Achei de uma sensibilidade incrível como ele a acolhe em sua casa uma vez que está comprometido com uma das amigas americanas. Ele tinha tudo para ser o "pegador" insuportável mas em nenhum momento ele chega perto deste tipo. Mas o que chama a atenção nesta segunda parte é como a Penélope dá a Maria Elena um senso de desequilíbrio sem faltar sensatez. A cena final dela é de rir histericamente, é algo que me lembrou Mulheres à Beira de um Ataquede Nervos.

As divergências sobre o amor de Vicky e Cristina são colocadas em prática quando Vicky (a quase casada) se culpa pelo romance de uma única noite e Cristina (solteira) se envolve numa relação a três.

Texto inacabado: Control

Fui ver Control, a cinebiografia do Ian Curtis do Joy Division, só mesmo por curiosidade já que não conhecia muito dele e da banda. Acho que no meu caso era mais difícil de entrar no seu mundo por isso acabei não gostando. Não encontrei nenhum grande ponto em que pudesse me identificar com o Ian. E como o filme só enfoca a vida pessoal do rapaz (é baseado na biografia escrita pela sua esposa), não pude conhecer a trajetória da banda e sua importância para a cena musical daquela época. É até aceitável que o objetivo não tenha sido mesmo criar novos fãs do Joy Division então cabe a nós apenas assistir para julgarmos se as atitudes do Ian eram compreensíveis ou não.

O seu casamento prematuro, a epilepsia e até a própria banda foram os síntomas para o suicído aos 23 anos de idade. Fiquei com a impressão de que certos problemas podiam ser amenizados como a vida conjugal. É difícil de entender como ele continuou o casamento após reconhecer que foi muito cedo. Fiquei muito incomodado por ele mentir para a esposa ao dizer que acabaria com a Annik, a amante belga, quando ele sabia que não seria capaz de fazer isto. Mas fiquei sensibilizado em outra cena quando ele pergunta se não pode amar duas pessoas. A coitada da esposa Deborah parecia sentir um amor incondicional e talvez o Ian percebesse e mentia achando que a estivesse protegendo.

(...falar dos ataques epilépticos...)

Apesar de tudo, algo que gostei muito foi a qualidade técnica. A bela fotografia preto e branco cria um clima de documentário, as imagens parecem restauradas de registros antigos. A dupla Sam Riley e Samantha Morton está afiadíssima, o Sam mais ainda quando está encarnando o Ian no palco. Totalmente inspirado.

Texto inacabado: O Sonho de Cassandra

Mesmo com o meu conhecimento quase nulo sobre Woody Allen, o Sonho de Cassandra deve ser um dos seus mais fracos e ainda assim está longe de ser um filme ruim. Não é como o Kika do Almodóvar que vi recentemente. Este não é somente um dos seus mais fracos como também achei péssimo. O trailer de Cassandra é bastante informativo e confuso. Duas semanas depois quando pude assistir o filme, achei que Cassandra fosse o interesse romântico dos dois irmãos da história. Eles iriam disputar o amor da moça. Mas não é nada disso e a história real é muito melhor do que minhas suposições. Ewan McGregor e Colin Farrell são dois irmãos em busca da estabilidade financeira. Ewan ajuda o pai no restaurante e sonha em abrir uma rede de hotéis. Colin trabalha numa oficina de carros e passa o tempo livre nos jogos de azar. A situação piora quando o Colin perde uma bela quantia nas cartas e Ewan decide sair do restaurante para investir nos hotéis. Só uma pessoa pode ajudá-los: o tio rico podre de rico (Tom Wilkinson). Até este momento o filme tem um ritmo excelente e também gostei muito da química entre o Colin e o Ewan. A relação deles é totalmente amigável mas um clima de suspense de que algo pode mudar persiste durante todo o tempo. Quando eles pedem dinheiro ao tio, o filme muda de estilo e melhora ao alcançar um novo patamar. É que a dupla vai ter que realizar uma tarefa antes para receber a recompensa. Eu cansei perto do final porque o ritmo do começo não existe mais. No entanto, o clímax ainda estaria por vir e iria valer a pena.

Texto inacabado: Desejo e Reparação

Desejo e Reparação chegou aqui neste fim de semana quando eu não tinha mais esperança vê-lo no cinema. É claro que fui conferir com bastante empolgação e não me decepcionei nenhum pouco. A primeira surpresa foi como o diretor Joe Wright não recebeu a indicação ao Oscar? Não lembro agora como Orgulho e Preconceito foi nas premiações há poucos anos mas um dos grandes triunfos de Reparação é o trabalho de direção do Joe. Só levou por Trilha Sonora que foi bem merecido. O trio Keira Knightley, James McAvoy e Saoirse Ronan está ótimo mas só a garota Saoirse foi indicada. E famosa cena sem cortes do campo de concentração? Uma direção de arte espetacular. Reparação é tecnicamente impecável. Eu não era muito fã destes romances de época da Jane Austen quando assisti Orgulho e Preconceito. De lá pra cá, já vi Feira das Vaidades (fraquinho) com a Reese Witherspoon, Razão e Sensibilidade (maravilhoso) do Ang Lee e O Despertar de uma Paixão (2006). É um gênero que aprecio mais hoje em dia.

Reparação narra uma história de amor (James/Keira) interrompida pela mentira de uma criança (Saoirse) e como esta atitude vai influenciar sua própria vida. Eu senti que o roteiro parece manipular o espectador. Você vai julgando a Briony (Saoirse) durante as suas três fases mostradas no filme. Aos treze anos, você a odeia por causa da mentira. Aos dezoito, você quer que ela sofra de remorso em virtude da enorme descoberta sobre sua amiga de infância. E na sua velhice, é hora de condenar de vez. Você não tem escolha a não ser julgá-la desta maneira. Isto nem é reclamação porque não me incomodou a ponto de comprometer o resultado final.

DeR utiliza uma linguagem antiquada mas sem ficar muito distante do contemporâneo. (continua...)

Aquele do título complicado

Eu nem sei o que escrever sobre o novo filme do James Bond, o 22º da série. Só sei que gostei muito mais que o anterior Cassino Royale. Quantum of Solace, aquele-cujo-título-não-é-traduzível, começa onde Cassino terminou. Se eu não tivesse revisto recentemente cenas aleatórias dele incluindo a final, nem lembraria como terminou. Gostei mais do Solace por ser muito mais enxuto, é um filme que vai direto ao ponto e não fica enrolando para acabar. Só para ter uma idéia, Cassino era uns 40 minutos mais longo. Quando eu pensava que iria acabar, Bond ainda tinha mais uma tarefa para executar. Quantum é justamente o contrário. É uma beleza de agilidade, a ação é mais impressionante e tem uma trama mais leve. Quem vai ver James Bond, acredito eu, procura puro divertimento ao invés de um filme cabeça, não é? Acho que a única coisa que gostei mais em Cassino foi a Bond girl. Eva Green tinha mais presença de cena do que a nova girl Olga Kurylenko. Como tudo indica que o Daniel Craig vai fazer uma trilogia a princípio, a Olga pode voltar para o terceiro já que continuou viva. Uma Bond girl pode participar de mais de um filme? Eu não sei, só assisti dois 007 em toda a minha vida.

Quantum começa com uma perseguição de carro incrível. Inclusive o veículo que o Bond usa parece mais indestrutível que o batmóvel. Depois parte para uma luta física de tirar o fôlego. Não tem uma sequência de ação que decepcione. A minha preferida foi a do avião pois chegou a ser sufocante. Bond está atrás dos chefões daqueles que mataram a Vesper em Cassino. E como está sedento de vigança, ele sai matando qualquer um que aparece na sua frente o que faz M interferir na licença do agente gerando cenas bastante divertidas graças a Judi Dench.

Foi muita coincidência eu ter assistido Chinatown do Polanski um dia antes pois ambam falam da “indústria da água”. O vilão de Quantum (Mathieu Amalric de O Escafandro e a Borboleta) é o chefe de uma organização que derruba líderes políticos. É mais ou menos assim: ele ajuda os militares da Bolívia num golpe para derrubar o presidente e recebe um pedaço de terra do país para estocar água. E a tal organização é conhecida mundialmente por comprar terras para a preservação ambiental, ou seja, só de fachada. Os interesses americanos estão também envolvidos na jogada mas não lembro mais os detalhes já que assisti o filme há mais de três semanas. Convenhamos que um filme de James Bond não fica na memória por muito tempo.

É difícil eu aproveitar algo só pela ação e Quantum of Solace proporcionou justamente isto. Não houve nenhuma situação que tenha me irritado então foi um ótimo divertimento.

Nota: ****