sábado, 31 de maio de 2008

Beatles para todas as ocasiões

Eu iria até ver Homem de Ferro e Speed Racer se não fosse a minha preguiça então um jejum forçado de três semanas resultou somente num único post no mês de maio!! Mas finalmente entrou aqui Across The Universe, o musical baseado nas músicas dos Beatles. O filme foi quase uma aula porque não sabia que algumas daquelas músicas eram do quarteto de Liverpool. E se eu sabia, havia esquecido. Across The Universe tem seus defeitos mas é tão adorável que não vou conseguir ser negativo. É um filme inofensivo e prefiro lembrar dele desta forma. Vou divido-lo em duas partes: a.B. e d.B., antes de Bono e depois de Bono. Achei que depois da participação do líder do U2, o filme perdeu bastante o ritmo.

A primeira parte funciona melhor porque é a parte mais fácil do roteiro com os personagens sendo apenas apresentados, os números músicas contagiantes moldando a estrutura do filme, a narrativa criando forma, etc. É a base de tudo. Jude (Jim Sturgess que meses depois seria mais visto em Quebrando A Banca) é um artista inglês que decide ir aos EUA durante a década de 60, auge da guerra do Vietnã. Lá conhece várias pessoas, uma delas é a Lucy (Evan Rachel Wood) por quem irá se apaixonar. Em NY, dividirão um apartamento com outros novatos na Big Apple. A Lucy é a mais engajada com o pacifismo já que o seu antigo namorado foi convocado pelo exército. Inclusive ela já demonstrava este lado quando explicou a origem do feriado de Ação de Graças ao Jude. É muito divertido como as canções dos Beatles vão se encaixando com todas as cenas. Bem, isto é natural já que ninguém seria louco de escrever toda a história antes e só depois procurar as músicas que se encaixassem. Os números musicais são bastante variados. Tem desde o Jim apenas cantando para a câmera quando abre o filme até aqueles com toques psicodélicos como o da sala de boliche. Nenhum deles são grandiosos já que o objetivo, acredito eu, tenha sido focar a simplicidade, criatividade e até criar uma poesia visual. E nesta primeira parte o filme cumpre seu papel com excelência.

Quando os conflitos são introduzidos, os personagens parecem perdidos num tiroteio e alguns deixam de ter uma função na história. Seguem-se sequências de ações sem motivações que tiram o gosto agradável da primeira parte. A idéia de abordar de forma mais séria não convence. Neste quesito, Hair é infinitamente melhor como um ato pacifista. Acho que Across não faz despertar o desejo de se juntar àquela multidão para lutar pelo mundo ideal. O gosto amargo persiste por bastante tempo até que perto do final o filme se recupera ao som de Hey Jude e All You Need Is Love. Chega até a levantar o seu astral. E pela falta de Twist And Shout, a gente percebe que Ferris Bueller a imortalizou e seria um sacrilégio reusar a canção.

Nota: ****

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Senhores da Saúde

Mais uma sessão dupla no fim de semana resulta em um post único. Independente de suas visões políticas, o Michael Moore sabe fazer um documentário que prende a atenção do começo ao fim. Talvez por isso muitos achem que ele é melhor cineasta do que um documentarista. Ainda não vi Tiros em Columbine mas gostei bastante do Fahrenheit 9/11. Sicko é tão arrasador quanto o anterior. Tem o característico humor ácido que o Michael incorpora em assuntos sérios. Desta foi foi a decadência do sistema de saúde americano. Na verdade, nem é a decadência já que o tal sistema nunca funcionou. Fala principalmente dos interesses econômicos dos planos de saúde e da autonomia que o governo Bush deu às indústrias farmacêuticas para venderem os medicamentos pelo preço que quiserem. O Michael ainda visita a Inglaterra, França e Cuba e descobre a “gratuidade” dos sistemas de saúde nestes países. O documentário está cheio de casos reais absurdos. O depoimento que mais me afetou foi a de uma funcionária de um serviço que informa cotações de preços dos planos. Ela relatou o caso de um casal que ficou aliviado por achar que conseguiu um plano de saúde mas ela, a funcionária, sabia que em alguns dias o pedido do casal seria negado e ela não podia falar nada. É de partir o coração. Mas o fato mais inacreditável é o que aconteceu com o dono do maior site anti-Michael. Só assistindo para saber do que se trata. Mal vejo a hora de ver o que o Michael vai atacar em seguida.
Nota: *****

Estive esperando por Senhores do Crime desde setembro de 2007 quando vi o trailer e achei fantástico. Aí corri para assistir a parceria David Cronenberg/Viggo Mortensen em Marcas da Violência que ainda não tinha visto. Gostei mais da segunda metade dele. Senhores do Crime já começa ganhando porque as duas metades são equilibradas. Mas confesso que fiquei só um pouquinho desapontado. Embora eu tenha gostado bastante, senti que faltou alguma coisa que também não sei dizer o que seria. O Viggo está espetacular e o seu personagem, um mafioso russo, transmite um ar enigmático que persiste mesmo depois do final da sessão. A Naomi Watts também está ótima. Eu gosto dela pela sua diversidade. Os seus papéis em, por exemplo, Cidade dos Sonhos, O Chamado, O Despertar de uma Paixão, King Kong e 21 Gramas são tão diferentes e ela não decepciona em nenhum deles. A Naomi faz em Senhores uma parteira que irá investigar o passado de uma garota que morreu durante o parto e o seu possível envolvimento com os mafiosos. Eu adorei a narração do diário da garota durante o filme. O estilo violento explícito e chocante do Cronenberg está lá. Não basta cortar a garganta do rapaz com uma navalha em um único movimento, ele tem que serrar. Uma moça ao meu lado se incomodou. E quando a garota grávida sangra entre as pernas, ela deixa a sala de cinema. Acho que não custa nada se informar um pouco antes de ver o filme. É um Cronenberg, então vai ter sangue. Bem, minha experiência com o diretor só envolve dois filmes e vendo o making-of de Marcas da Violência, percebi que ele gosta de sangue, de como seus personagens morrem, etc. Mas havia alguém bem informado atrás de mim pois ele falou “É agora” quando a sauna apareceu. O fato interessante é que Senhores do Crime seria a mesma coisa sem a violência? Acho que não. É como Os Sonhadores sem o sexo. Não funcionaria. E mais ainda, a violência de Senhores não se torna gratuita. É um grande filme e possui umas reviravoltas bem sacadas no final.
Nota: ****