terça-feira, 26 de agosto de 2008

E todos não viveram felizes para sempre

A sinopse espanta. A direção é de Breno Silveira de 2 Filhos de Francisco e você lembra que odeia música sertaneja. Então por que assistir esta maldição? Ou o que esperar de Era Uma Vez...? Que tal um filme com os assuntos mais ultrapassados possíveis e que rende ótimos momentos? É assim o resultado. Só para constar, eu gostei bastante de 2 Filhos e fiquei comovido que nem um condenado. Infelizmente este sofrimento não se repetiu desta vez e uma das propostas do diretor era criar um tearjerker como a história dos sertanejos. Eu não vi ninguém saindo chorando da sessão. Só foi uma pequena frustação minha.

Era Uma Vez... é filmão para público e digo isto no bom sentido mesmo. Tudo bem que o número de pessoas que já assistiram até agora não é animador. Rapaz de favela carioca se interessa por garota rica e vice-versa. Percebam o clima de romance socialmente inaceitável. Não para o público do cinema que torce por eles, é óbvio. A favela tem seus moradores decentes, a polícia é racista, os traficantes comandam os morros, a classe média é preconceituosa, está tudo lá como pano de fundo para interferir na história de amor. Uma das razões para o filme é funcionar é o carisma da jovem dupla de protagonistas Thiago Martins (Dé) e Vitória Frate (Nina). Ele está bem melhor do que ela até porque o filme é sobre ele. Há mais espaço para o rapaz diversificar sua atuação já que está mais em evidência. O terceiro personagem mais importante é o irmão do Dé feito pelo Rocco Pitanga. É ele quem impulsiona a melhor sub-trama da história.

O roteiro é previsível em sua maior parte. É tão proposital que não tem como não resistir. Você conhece o inevitável mas o grau de envolvimento chega a um nível em que você torce com todas as suas forças para estar enganado. E quando a tragédia acontece, a última gota de esperança que ainda restava vai embora. A sensação é desagradável, um sentimento de inaceitação cresce de tal forma que só piora quando o ator Thiago Martins narra sua breve história real durante os créditos finais.

No entanto, a relação deles tem seus momentos verdadeiramente ternos sem cair nas armadilhas dos romances colegiais feitos para as pré-adolescentes. Talvez por criar um pano de fundo mais injusto e não menos verdadeiro, o romance convence bem pois satisfaz o desejo do público de elevar o seu espírito. O destaque de cena mais hilária vai para o pai de Nina (Paulo César Grande) e o porteiro fofoqueiro do prédio. É até estranho lembrar este tipo de momento quando já se conhece o final do filme. Fica mais doloroso.

Nota: ****

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Noites de mirtilo

Eu vinha esperando por My Blueberry Nights desde que o filme estreou em Cannes em 2007 o que dá uns quinze meses atrás. Um Beijo Roubado é o seu título nacional. Foi até uma boa saída porque traduzi-lo ao pé da letra ficaria estranho. Blueberry foi a estréia do diretor chinês Wong Kar-Wai em língua inglesa. Eu só lembrava que o Jude Law e a Norah Jones (ótima para uma cantora que nunca foi atriz) estavam no elenco, aí durante os créditos inicias aparece o nome da Natalie Portman também e achei que iria ver um novo Closer já que os filmes do Kar-Wai que conheço são todos romances. Blueberry não alcança o nível de Amor à Flor da Pele, por exemplo, mas não deixa de ser apaixonante mesmo não sendo explicitamente uma história de amor. É mais um ensaio sobre relacionamentos impossíveis e decepções amorosas. O seus pontos fortes são os diálogos e a direção do Kar-Wai que preserva a sua marca.

Norah Jones é uma moça que começa a visitar o mesmo bar todas as noites após descobrir que o local era onde o seu namorado a traía com outra mulher. Ela e o dono do bar (Jude Law) passam as noites fazendo companhia um ao outro e refletindo sobre suas vidas amorosas. Norah decide seguir em frente mudando de cidade e o filme se torna um road movie em que ela irá conhecer pessoas que transformarão significativamente aquele momento de sua vida. É onde entram David Strathairn (Boa Noite e Boa Sorte), Rachel Weisz (!!!) e a Natalie Portman. Irei omitir a ligação entre eles.

Blueberry é muito lento, tem que saber apreciar o seu ritmo. Cada situação tem seu valor, mesmo que pareça estar se repetindo. Há paisagens que eu acho fascinantes em filmes, uma delas é o ambiente urbano durante a madrugada quando não existem mais pessoas nas ruas e as luzes dos postes acesas iluminando o asfalto para ninguém. Tem uma cena em que a Norah e a Rachel conversam num ambiente exatamente assim, sem falar que o momento é bem delicado. A gente fica esperando que a Norah revele algo mas, como é um filme do Wong Kar-Wai, a cena é direcionado de outra forma e ela não fala nada. Eu gostei da melancolia refletida pelos personagens e suas ações surpreendentes nos finais de suas histórias. Eu achei bem interessante como o Kar-Wai põe uma espécie de barreira entre a câmera e os personagens. Ao filmar o Jude Law conversando com sua ex-namorada, a câmera está dentro do bar, os atores fora e o vidro com letreiros no meio. É uma característica mantida em várias cenas. Talvez seja para transmitir mais intensamente para o espectador a idéia de que ele seja um mero observador do filme. E imagino também que seja uma representação para os obstáculos que os personagens têm que vencer porque todos ali estão buscando por algo mas antes uma barreira precisa ser ultrapassada.

Tenho visto mais filmes do que minha disposição para escrever permite. Talvez eu escreva sobre Hancock que acabei vendo logo depois de Batman. A coisa é tão ruim que ainda não esqueci. Também vi Persépolis e fiquei babando.

Nota: ****