domingo, 23 de novembro de 2008

Os jogos nossos de cada ano

Achei que iria perder de ver Jogos Mortais 5 no cinema mas consegui graças a um feriado. E agora é oficial: cansei da série. Eu sempre tive uma atração por ela que durou principalmente até o terceiro filme. Lembro que gostei do quarto só que agora um ano depois, não tenho nenhuma lembrança dele. Ao assistir o quinto, eu reconhecia os rostos mas sem lembrar o que fizeram antes porque o único personagem dos três primeiros filmes que ainda sobrevive é o Jigsaw (eu acho) através de flashbacks. Está claro agora que estão sofrendo para criar novas idéias. A maior revelação deste é que a Amanda não era a única aprendiz do Jigsaw. Partindo desta premissa, a série pode durar eternamente. Ainda é curioso como são cuidadosos ao referenciar os filmes anteriores numa tentativa de nunca perder a ligação entre eles. Até o personagem do Danny Glover no primeiro é mencionado. Este é o único ponto que ainda vejo de positivo. E o final deste não tem aquele impacto surpresa dos outros, estão sofrendo da falta de criatividade. Este quinto também me desagradou por ter o grupo de personagens novos mais irritantes desde o segundo. Eu já queria ir embora após os trinta minutos iniciais. Tem uma cena em que a viúva do Jigsaw chora ao assistir um vídeo que o marido deixou. Fico imaginando o que o diretor fala para a atriz se emocionar nesta situação e num filme do porte de Jogos Mortais. Enfim, o filme vai ter continuação. Ele custa 10 milhões de dólares e este valor já retorna para o estúdio só com as exibições no primeiro dia. O que vem a partir do sábado é lucro. Se eu ainda tiver paciência, verei a sexta parte e provavelmente o que escrevi neste post servirá também para o próximo ano.

Nota: **

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Vilão ou vítima?

Eu tenho quase certeza que assisti ao vivo o incidente do ônibus 174 naquele ano de... O que lembro é da minha indignação provocada pela situação, tanto por causa do Sandro e principalmente pelo tiro errado que matou a pobre moça. Muita gente não sabia, inclusive eu que descobri quase agora, que a Geisa não morreu pelo tiro do policial pois este pegou de raspão. Mas o tal tiro não deixa de ser o responsável pela morte dela mesmo que indiretamente. É até normal sentir raiva do Sandro e considerá-lo o vilão da história porque é difícil aceitar uma justificativa para o que ele fez. Aí vem o Bruno Barreto e filma a vida dele colocando-o como vítima do sistema. Só fiquei com mais raiva ainda. Ser sobrevivente da chacina da Candelária e apanhar da polícia, só para citar dois exemplos, não é desculpa para viver no mundo do crime. Concordo que se revolte contra a injustiça sofrida mas ele tinha a escolha de não seguir esta vida. Então não aprecio um filme que faz o Sandro de coitadinho. Não estou dizendo que Última Parada 174 seja uma carta de amor para o Sandro mas fazer com que as pessoas conheçam a sua história me parece uma forma de deixar os seus atos mais compreensíveis. Não duvido nada que Lindemberg seja o próximo.

A decisão de fazer este filme veio após o documentário Ônibus 174 do José Padilha em que Barreto se interessou pelo fato de a única pessoa no enterro do Sandro ter sido sua mãe adotiva. Última Parada deve ser melhor classificado como uma ficção baseada em fatos reais. O seu maior problema é ser preguiçoso e querer pegar carona no sucesso de Cidade de Deus. E olhe que o filme do Meirelles já tem mais de cinco anos. Também não é novidade que ambos tenham sido escritos pelo Bráulio Mantovani. Os diálogos são tão exageradamente recheados de palavrões que é como se fosse uma linguagem mecânica de uma fórmula. Isto me irritou profundamente. Última Parada oscila bastante, são estes momentos que odiei e outros até bem convincentes graças aos dois atores principais iniciantes que entregam atuações de primeira. Gostei bastante da personagem Soninha, a prostituta e parceira do Sandro. Ao lado dela, o rapaz é um poço de imaturidade.

Não gostei de certas gracinhas introduzidas nas cenas do sequestro do ônibus. Quando ouvi o público rindo naquele momento supostamente dramático, fiquei com a impressão de que faltou um pouco de respeito com o incidente. Não vou mentir que fiquei arrepiado quando o Sandro e a Geisa descem do ônibus e o policial dispara a arma. Mas o efeito logo passou e só lamento por esta ser a indicação brasileira para o Oscar. Última Parada é um filme pipoca que não detestei por completo pois ele flui bem até o final, é totalmente assistível. Fiquei convencido de que este estilo precisa evoluir. Não é surpresa que meus filmes brasileiros preferidos deste ano sejam Estômago, Os Desafinados e Linha de Passe.

Nota: ***

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Nem tão cegos assim

Texto com vários detalhes da história.

Como eu queria acreditar que as críticas negativas a Ensaio Sobre A Cegueira eram injustas. Queria até ser um pouco ufanista agora mas não tem como. Cegueira é decepcionante. Eu corri para ler o livro antes do filme e tenho que concordar quando dizem que adaptá-lo é uma tarefa quase impossível. Eu quis acreditar que o Meirelles tinha feito um trabalho excepcional principalmente por causa do famoso vídeo com o Saramago chorando. O filme peca pela ausência da profundidade que o livro alcança. A percepção de uma pessoa que não leu o romance vai ser diferente da minha naturalmente. Acho que quem estiver afim de um pretexto para comer pipoca, vai aproveitar o filme. A sessão aqui lotou em plena segunda-feira e ouvi gente dizendo que o filme é muito forte. Isso vai depender do puritanismo de cada um, não é? Devem ter ficado chocados com as cenas de nudez e estupros. Aliás, o Meirelles aliviou demais neste quesito porque não tem a mesma repugnância do livro. Tal momento foi o mais chocante da minha leitura. Ele decidiu pegar leve porque nas primeiras exibições de teste para o público especializado, as pessoas iam embora durante estas cenas. Eu acredito que o problema não estava nestas cenas exatamente mas em todas as coisas que ocorreram até aquele momento do filme, o que deixou os estupros com cara de decisão aleatória. Vamos colocar só para criar polêmica, por exemplo. Sabe quando você sente que vai ter problemas após assistir somente os dois primeiros minutos? Cegueira me deu está impressão. A partir daí, eu já comecei a lamentar. Não gostei de como o primeiro cego ficou cego. Foi tudo com muita frieza. Por que não mostrar o rapaz por breves segundos antes de tirar a visão dele? Eu não senti o impacto à medida que os personagens principais iam cegando. Achei esta parte inicial bem apressada.

Pode-se dizer que o roteiro é muito fiel ao livro com certas passagens sendo puladas. Aceitar a fidelidade ao material original vai de cada um mas o roteiro do Don McKellar (também atuando como o ladrão do carro) poderia ser mais ousado. Sobrou para o Fernando Meirelles encontrar os meios de filmar uma história em que todos estão cegos. Acima de tudo, o diretor merece o reconhecimento pela tentativa. Sim, ele falhou em vários pontos. Em alguns diálogos, os atores não pareciam cegos. O Mark Rufallo (médico) é o campeão nesta questão. Já a quantidade de telas brancas está bem dosada. Um cineasta inexperiente poderia rechear o filme com vários minutos de imagens brancas para representar a visão dos personagens. Eu confesso que tinha este medo. Felizmente, o uso delas não acabou atrapalhando. Outro ponto problemático foi não saber impôr ao público o real significado de uma cena. Por exemplo, a maioria das pessoas riu quando o garotinho estrábico se esbarra numa mesinha. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Eu não ri apesar de ter ficado em dúvida se realmente ela foi colocada de forma cômica. Mas houveram outras que definitivamente eram sérias e provocaram risos. Eu até me perguntei como estas pessoas eram capazes de rir da desgraça alheia. No entanto, quando a situação é recorrente nem tem como culpar tanto o público. O momento em que o médico pede para que todos a favor na votação levantem a mão é realmente engraçada, é também assim no livro.

A mulher do médico (Julianne Moore) deveria ser o personagem mais marcante devido a sua importância mas quem causou mais impacto mesmo foi o Gael García Bernal. Apesar da sua participação pequena, ele consegue se destacar ao ponto de apagar os outros atores em cena. Acho que nem é questão de talento, os outros personagens é que estão apagados. A rapariga dos óculos escuros (Alice Braga), o velho da venda preta (Danny Glover) não chegam a mostrar a que vieram. É muita maldade dizer que até o cão das lágrimas não mostrou a que veio? O mesmo vale para o primeiro cego e sua esposa que são japoneses no filme. Não fazia sentido para mim quando era mostrado o casal discutindo o relacionamento, não parecia acrescentar nada. O que não fazia sentido também era o carinho da rapariga dos óculos escuros com o garotinho estrábico, o heroísmo da mulher do médico. De onde vinha tanta motivação?

Eu tive mais prazer depois que eles saíram do alojamento. A quarentena já estava cansando. Um dos meus momentos preferidos no livro é quando as mulheres tomam banho de chuva na varanda do apartamento do médico. Provavelmente, esta deve ser a única situação que deve ter ficado melhor no filme porque ela foi mudada de lugar e ficou muito mais bonita na rua com todos os cegos. Também gostei da recuperação da visão, eu quase tive a mesma sensação que tive no livro. Eu não tinha nenhuma esperança que eles fossem voltar a enxergar então quando acontece, senti como se fosse comigo. É um momento comovente no filme. Será que algum novato com a história vai se questionar sobre o que aquela cegueira representa? De onde veio? Por que uma pessoa não cegou? Assistindo só o filme, a resposta é não. Ele não estimula a reflexão.

Antes mesmo do início das filmagens, já cogitava-se uma possível indicação da Julianne Moore ao Oscar. A confiança dada a este projeto ambicioso permitia estas apostas. Mas duvido muito que ela seja indicada. É muito difícil também que o Meirelles receba por direção. Fotografia... talvez. É mais fácil direção de arte. As imagens de São Paulo refletindo a degradação humana chegam a impressionar. É interessante que o filme tenha sofrido protestos por parte de grupos de deficientes visuais. O Saramago realmente exagerou no nível de degradação. A humanidade, com certeza, iria continuar vivendo como se nada tivesse acontecido. O desespero dos cegos no livro é muito ilusório, é claro. Para a felicidade deles, o filme teve um desempenho pavoroso nos Estados Unidos. Pode-se afirmar categoricamente que ninguém foi ver Cegueira por lá. De acordo com o Box Office Mojo, o filme só ficou em cartaz duas semanas!! É muito triste que uma das produções mais grotescas do ano como Disaster Movie tenha sido mais vista do que Cegueira.

Neste exato momento, eu lembro que cheguei a acompanhar os primeiros posts do blog de Blindness. É uma pena que a riqueza dos textos do Meirelles não tenha tido efeito no trabalho final. É por isso que foi decepcionante. O seu idealismo nas fases de produção só foi enxergado por ele. E pelo Saramago. Independente do resultado, foi gratificante ver desde o primeiro cego perdendo a visão em seu carro até a mulher do médico olhando para o céu branco e achando que chegou a sua vez. Tenho certeza que irei gostar mais quando assistir uma segunda vez.

Nota: ***

domingo, 19 de outubro de 2008

Família que dribla

Eu não estou conseguindo agora colocar Linha de Passe numa ordem de preferência dos filmes do Walter Salles porque precisaria rever Abril Despedaçado e Diários de Motocicleta. Uma coisa é certa, Central do Brasil continua sendo meu preferido. Linha de Passe é um filme de ritmo lento pois o momento da cena é mais importante do que a narrativa da história. Isto pode explicar os sussuros de insatisfação das pessoas no fim da sessão por causa do seu final "sem final" como em Onde Os Fracos Não Têm Vez. É verdade que em Linha é como se o clímax fosse interrompido, a gente espera por algo que sabemos que vai acontecer mas os créditos finais sobem. Eu não tenho esta necessidade visual então achei o mais recente trabalho do Walter e sua amiga de longa data Daniela Thomas uma verdadeira jóia. É a trajetória de cinco personagens, uma mãe e seus quatro filhos, em busca de uma identidade. Uma curiosidade é que o Vinícius de Oliveira é o único dos cinco que já atuou em cinema antes. Sandra Corveloni, a mãe, foi a melhor atriz em Cannes. Acho que o júri a elegeu em virtude do seu personagem pois a sua atuação me pareceu um pouco limitada.

Para tratar de cinco pessoas com suas histórias distintas, é necessário um roteiro perfeitamente escrito que equilibre bem os dilemas de todos os personagens. Neste quesito, Linha é impecável. Bráulio Mantovani colaborou com o roteiro em sua finalização. O título Linha de Passe é referência a uma jogada do futebol e é pedir demais para que eu saiba do que se trata. Só sei que futebol é a paixão da Cleuza (Sandra) e do Dario (Vinícius). Inclusive, o esporte é a única carreira que ele se acha capaz de seguir. Dênis é um motoboy com tendências marginais, Dinho encontrou Jesus e Reginaldo, o caçula, está à procura do seu pai. A família agora está completa. Engano meu. Faltou o quinto filho que ainda está na barriga de Cleuza. Eu me identifiquei com todos eles, pude compreender suas vidas sofridas devido à falta de dinheiro e de uma identidade, como disse antes. É bacana como o filme não faz parecer que a falta de um pai abala a estrutura familiar. Mesmo quando a Cleuza pergunta se nenhum homem da casa é capaz de desentupir a pia da cozinha, ela não está reclamando da ausência de um marido. Quando o Dênis decide praticar furtos, não é por ser apenas uma forma de arrumar dinheiro fácil. É uma atitude ingênua de um ser humano à beira do desespero. A sua consciência da realidade ainda está presente. E se o roubo não dá certo, a sua complexidade vem à tona. Foi uma das minhas cenas preferidas quando ele meio que sequestra um carro e pede para o motorista levá-lo para longe. Neste momento, o Dênis não quer dinheiro. Já o Dinho foi buscar Jesus para atenuar sua realidade. Eu sempre questionei a sua fé, não por achar que fosse falsa mas por ele, inconscientemente, não saber o que ela representa. Um dos seus grandes momentos é quando comente um ato de violência sem necessidade. E quem disse que é possível condená-lo? O pequeno Reginaldo é uma espécie de pestinha. Algumas malcriações podem ter sido gratuitas mas não foi nada que atrapalhasse a nossa compreensão da obsessão do garoto em encontrar o pai. A história do Dario me causou menos impacto talvez por ele ser bem introvertido. Mas é comovente sua insistência em se tornar jogador após tantos fracassos. E mais uma vez como é possível condená-lo por falsificar sua data de nascimento?

Linha de Passe é um daqueles casos onde os atores do elenco se completam. Tem como destacar só um de Pequena Miss Sunshine? É claro que não. Em 2006, o prêmio de melhor atriz em Cannes foi para todo o elenco de Volver já que seria injusto premiar só uma. Pois em Linha também acho injusto só destacar a Sandra. O que importa mesmo é que Walter e Daniela entregaram mais uma vez um excelente trabalho de direção e fico com uma sensação de tarefa cumprida pois queria muito assistir Linha de Passe.

Nota: *****

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sem medo do ridículo

A Meryl Streep disse numa entrevista que só aceitou fazer Mamma Mia! para deixar a filha (ou filhas, não lembro) envergonhada. Bem, não é só a filha que deve ter ficado. Não existe aquela expressão da síndrome da vergonha alheia quando você se envergonha por outra pessoa? Foi exatamente assim que eu me senti. O caso se complica para a Meryl quando Mamma Mia! já é o musical mais rentável da história. O lado bom é que o número de espectadores nem se compara ao de uma Noviça Rebelde, por exemplo. Mas posso entender o seu sucesso estrondoso. É divertido, o elenco não tem medo ser ridículo, as músicas do ABBA são contagiantes e dá vontade de assistir de novo. Sucesso garantido. Gostei mais do que Across The Universe porque é praticamente estável do começo ao fim. O filme baseado nas músicas dos Beatles despenca depois da metade. Mamma é tão irresistível que não tem como não se deixar levar. Ficou evidente que o elenco se divertiu o máximo durante os ensaios e as filmagens. Mamma é um musical pastelão e funciona por ser exatamente assim. É gostoso ver aquelas três atrizes que já passaram dos seus 50 anos esbanjando vitalidade.

Se você já ouviu falar do musical então deve saber que é a história de uma garota (Amanda Seyfried de Meninas Malvadas) que vai se casar e convida para o casamento os seus três possíveis pais (Colin Firth, Pierce Brosnan e Stellan Skarsgård) já que nem ela e nem a mãe (Meryl Streep) sabem quem é o felizardo. As principais músicas do ABBA estão presentes. Acho que não conhecia somente três delas. O número que mais gostei é o de Dancing Queen quando as duas amigas da Meryl (Julie Walters e Christine Baranski) começam cantando e vão arrastando todas as mulheres da região. Outros bem legais são o de Mamma Mia e Voulez-Vous. Lay All Your Love On Me juntamente com Mamma Mia são os dois que mais me deixaram com vergonha. O que são aqueles homens dançando com os pés de pato? Eu juro que me encolhi na poltrona para não correr o risco de alguém conhecido me ver. As belas paisagens gregas estão lá mas senti que poderiam ser melhor aproveitadas. A igrejinha no topo do morro com sua escadaria é linda. Imagino que os convidados deviam considerar bastante os noivos para subirem aquelas dezenas de degraus. A Meryl sobe correndo logo após o seu monólogo em The Winner Takes It All. Ela até que canta bem mas os meus ouvidos sofreram neste número específico. É sério, ela grita mesmo. A Julie Walters está ótima. Ela reclamou na época do Billy Elliot sobre um número de dança deste filme que exigia demais dela. Mal sabia o que iria fazer quase 10 anos depois. É curioso como alguns números são criados só como pretexto para usar uma certa música e eles nem fariam falta para a trama principal. Does Your Mother Know é um deles. Eu nem acho isto ruim, desde que não atrapalhe a evolução da história. E não lembro de nenhum número de Mamma que tenha atrapalhado. A cena na igreja possui as frases que mais gostei do filme. Uma é quando a Amanda fala para a Meryl que não se importa se a mãe já dormiu com mais de cem homens. Outra é uma que o Colin Firth diz mas não vou citar por ser um spoiler. Mamma pode parecer uma celebração do sagrado matrimônio mas felizmente não o encarei desta forma.

Eu tive uma surpresa boa no final em relação à solução do mistério da paternidade por não ser a resolução que eu esperava. E quem vai ficar com Meryl? É óbvio desde o começo. Mamma peca nos aspectos técnicos. A edição gera erros de continuidade nos números, a iluminação nas cenas de estúdio não é uma das melhores, a fotografia deixa os atores com umas cores estranhas em alguns momentos, etc. Mas isto tudo se perde quando você entra no clima do filme. Só eu percebo o Mamma se tornando um clássico com o passar dos anos? Xanadu que é o campeão dos bregas se tornou. Mamma Mia! merece minha generosidade.

Nota: *****

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Desafinando de verdade

Eu nunca tinha ouvido falar de Os Desafinados até poucos dias antes de sua estréia aqui. E ouvi falar tão bem que não pude deixar de criar uma certa expectativa. É simples assim: o segundo melhor filme nacional que vi este ano depois de Estômago. Enquanto este último parte para o lado gastronômico, Os Desafinados é mais ou menos um musical de bossa nova que conta a trajetória de um quarteto (Rodrigo Santoro, Ângelo Paes Leme, André Moraes e Jair Oliveira, o eternamente Jairzinho) carioca em busca do sucesso nos anos 60. Eles tentarão a carreira se mudando para a Big Apple onde conhecerão uma vocalista (Cláudia Abreu) para o grupo. E ainda tem o Selton Mello, um cineasta amigo do pessoal que está tentando acabar o seu filme. Isto tudo é contado através de flashbacks porque o tempo atual acontece na velhice dos personagens. Eu achei lindo os breves momentos em que os atores jovens e velhos foram colocados na mesma cena para fazer a transição entre o passado e o presente. Foi um detalhe mínímo que aconteceu umas duas ou três vezes mas achei bem marcante.

A primeira coisa que vale citar é como o filme não parte para uma história de ascensão e decadência mesmo que você fique com esta impressão no começo. Os Desafinados, aliás, muda de rumo tão fortemente que não parece mais o mesmo filme. Fiquei um pouco incomodado, devo dizer. Mas no caminho para casa fiquei pensando como esta foi a melhor saída. Ou eles faziam algo mais Mamma Mia! (ainda não vi) ou algo mais Across The Universe. Escolheram a segunda opção. Repito. Os Desafinados é mais ou menos um musical, melhor, é um drama musical. Quando resolvem destacar a luta do cineasta do Selton para divulgar o filme, nenhum vestígio sequer de que seja musical existe. A censura caindo em cima, os militares ocupando as ruas, é a cena política daquela época sendo explorada de forma crua. E também a cultural quando mencionam a vitória do Brasil em Cannes com O Pagador de Promessas. Eu não sei se foi a direção de arte, a fotografia ou o figurino que não me convenceu de que a história se passa principalmente nos anos 60. Muita coisa ali parecia tão contemporânea. É bem diferente de O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, um viagem ao passado praticamente. O AdoroCinema classifica o filme como comédia romântica! Faz até um pouco de sentido, quando eu disse que muda de rumo, muda mesmo. O personagem do Santoro é casado com a Alessandra Negrini (sempre uma graça), ele a trai com a Cláudia Abreu que se envolve com o Ângelo depois e por aí vai. Também não entendi porque alguns foram deportados se em nenhum momento a hipótese de que eles foram ilegalmente é criada.

As canções são excelentes, só engrandecem a experiência. E o Santoro nem desafina! A Cláudia Abreu visivelmente não é a dona da voz de suas músicas. E visível também ficou o Selton dublando o ator que faz sua versão mais velha. Todo o quarteto masculino mais o Selton transmite realmente uma energia agradável e inspiradora que parece transceder a tela do cinema. Eu não falei??!! Descobri agora que o Ângelo, o André, o Jair e a Branca Lima que dá voz às canções da Cláudia resolveram seguir com o grupo e já estão até fazendo shows. Os Desafinados do filme nunca alcançaram o sucesso e é um pouco amargo vê-los na velhice, não por causa da idade, mas porque o grupo foi vítima de certas infelicidades que afetaram o seu destino. O número final é o mais forte de todos por justamente servir de referência a um passado cujas vitórias foram apagadas pelos infortúnios da vida.

Nota: *****

sábado, 6 de setembro de 2008

Vamos todos virar comida dos insetos gigantes

Chegou aqui O Neveiro que eu achei que não iria ver tão cedo principalmente por causa dos inúmeros adiamentos. Até eu tive que adiar minha ida duas vezes durante a semana. O que importa é que já assisti e foi um daqueles onde a expectativa era muito alta. O tombo existiu mas foi insignificante perante as suas qualidades. Esta é a terceira vez que o Frank Darabont dirige algo do Stephen King. As outras duas foram com Um Sonho De Liberdade e À Espera De Um Milagre. Adoro ambas. Pensando bem, gostei de todas as adaptações do King que já assisti, desde os terrores de O Iluminado e Carrie até o drama de Conta Comigo. Até Colheita Maldita de 1984 não achei ruim. O Nevoeiro é sobre um grupo de pessoas que ficam presas num supermercado depois que uma misteriosa névoa invade a região. O perigo que ela trás é o de menos quando o triunfo do filme está nos conflitos ideológicos dos personagens e nas suas duríssimas críticas ao exército americano e a uma certa parte daquela sociedade.

O problema inicial para mim foi o tempo levado para o filme ganhar forma e mostrar que não é apenas uma celebração do cinema trash. A partir do momento que a fanática religiosa da Marcia Gay Harden vai ganhando espaço, comecei a me envolver cada vez mais com o clima. E só fui conquistado de verdade pela cena final. Magnífica!!! Eu li que o Darabont mudou radicalmente o final do conto original do King que era bem ruinzinho. Quando eu penso que esperei duas horas para ficar grudado na poltrona quase sem respirar por causa da cena final, lembro que o filme decepciona um pouco no quesito suspense. Apesar de uns sustos isolados, não passei por nenhum momento alarmante. Se o terror revela desde o início como são os monstros e não deixa o público imaginar, não consigo ver o porquê de sentir medo. Eu já sei que em algum momento eles irão aparecer, atacar e matar. Mas como eu disse antes, as consequências do isolamento é o que mais importa. Diversos tipos ficam presos no supermercado e como cada um vai reagir à pressão da situação? A personagem da Marcia é a pedra preciosa daquele ambiente. Os seus discursos dizendo que o nevoeiro representa a ira de Deus por sermos pecadores, apoiadores das pesquisas em células-tronco e pró-aborto estão lá para satirizar os conservadores. Comparando o elenco em geral com o de Liberdade e Milagre, este está bem fraquinho. Embora eu ache que o elenco de Milagre tenha sido fundamental para o seu desempenho, ele não importaria tanto para O Nevoeiro desde que a religiosa não decepcionasse e a Marcia está inspiradíssima. Enfim, terror com conteúdo e referências a eventos importantes definem O Nevoeiro.

Nota: ****

terça-feira, 26 de agosto de 2008

E todos não viveram felizes para sempre

A sinopse espanta. A direção é de Breno Silveira de 2 Filhos de Francisco e você lembra que odeia música sertaneja. Então por que assistir esta maldição? Ou o que esperar de Era Uma Vez...? Que tal um filme com os assuntos mais ultrapassados possíveis e que rende ótimos momentos? É assim o resultado. Só para constar, eu gostei bastante de 2 Filhos e fiquei comovido que nem um condenado. Infelizmente este sofrimento não se repetiu desta vez e uma das propostas do diretor era criar um tearjerker como a história dos sertanejos. Eu não vi ninguém saindo chorando da sessão. Só foi uma pequena frustação minha.

Era Uma Vez... é filmão para público e digo isto no bom sentido mesmo. Tudo bem que o número de pessoas que já assistiram até agora não é animador. Rapaz de favela carioca se interessa por garota rica e vice-versa. Percebam o clima de romance socialmente inaceitável. Não para o público do cinema que torce por eles, é óbvio. A favela tem seus moradores decentes, a polícia é racista, os traficantes comandam os morros, a classe média é preconceituosa, está tudo lá como pano de fundo para interferir na história de amor. Uma das razões para o filme é funcionar é o carisma da jovem dupla de protagonistas Thiago Martins (Dé) e Vitória Frate (Nina). Ele está bem melhor do que ela até porque o filme é sobre ele. Há mais espaço para o rapaz diversificar sua atuação já que está mais em evidência. O terceiro personagem mais importante é o irmão do Dé feito pelo Rocco Pitanga. É ele quem impulsiona a melhor sub-trama da história.

O roteiro é previsível em sua maior parte. É tão proposital que não tem como não resistir. Você conhece o inevitável mas o grau de envolvimento chega a um nível em que você torce com todas as suas forças para estar enganado. E quando a tragédia acontece, a última gota de esperança que ainda restava vai embora. A sensação é desagradável, um sentimento de inaceitação cresce de tal forma que só piora quando o ator Thiago Martins narra sua breve história real durante os créditos finais.

No entanto, a relação deles tem seus momentos verdadeiramente ternos sem cair nas armadilhas dos romances colegiais feitos para as pré-adolescentes. Talvez por criar um pano de fundo mais injusto e não menos verdadeiro, o romance convence bem pois satisfaz o desejo do público de elevar o seu espírito. O destaque de cena mais hilária vai para o pai de Nina (Paulo César Grande) e o porteiro fofoqueiro do prédio. É até estranho lembrar este tipo de momento quando já se conhece o final do filme. Fica mais doloroso.

Nota: ****

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Noites de mirtilo

Eu vinha esperando por My Blueberry Nights desde que o filme estreou em Cannes em 2007 o que dá uns quinze meses atrás. Um Beijo Roubado é o seu título nacional. Foi até uma boa saída porque traduzi-lo ao pé da letra ficaria estranho. Blueberry foi a estréia do diretor chinês Wong Kar-Wai em língua inglesa. Eu só lembrava que o Jude Law e a Norah Jones (ótima para uma cantora que nunca foi atriz) estavam no elenco, aí durante os créditos inicias aparece o nome da Natalie Portman também e achei que iria ver um novo Closer já que os filmes do Kar-Wai que conheço são todos romances. Blueberry não alcança o nível de Amor à Flor da Pele, por exemplo, mas não deixa de ser apaixonante mesmo não sendo explicitamente uma história de amor. É mais um ensaio sobre relacionamentos impossíveis e decepções amorosas. O seus pontos fortes são os diálogos e a direção do Kar-Wai que preserva a sua marca.

Norah Jones é uma moça que começa a visitar o mesmo bar todas as noites após descobrir que o local era onde o seu namorado a traía com outra mulher. Ela e o dono do bar (Jude Law) passam as noites fazendo companhia um ao outro e refletindo sobre suas vidas amorosas. Norah decide seguir em frente mudando de cidade e o filme se torna um road movie em que ela irá conhecer pessoas que transformarão significativamente aquele momento de sua vida. É onde entram David Strathairn (Boa Noite e Boa Sorte), Rachel Weisz (!!!) e a Natalie Portman. Irei omitir a ligação entre eles.

Blueberry é muito lento, tem que saber apreciar o seu ritmo. Cada situação tem seu valor, mesmo que pareça estar se repetindo. Há paisagens que eu acho fascinantes em filmes, uma delas é o ambiente urbano durante a madrugada quando não existem mais pessoas nas ruas e as luzes dos postes acesas iluminando o asfalto para ninguém. Tem uma cena em que a Norah e a Rachel conversam num ambiente exatamente assim, sem falar que o momento é bem delicado. A gente fica esperando que a Norah revele algo mas, como é um filme do Wong Kar-Wai, a cena é direcionado de outra forma e ela não fala nada. Eu gostei da melancolia refletida pelos personagens e suas ações surpreendentes nos finais de suas histórias. Eu achei bem interessante como o Kar-Wai põe uma espécie de barreira entre a câmera e os personagens. Ao filmar o Jude Law conversando com sua ex-namorada, a câmera está dentro do bar, os atores fora e o vidro com letreiros no meio. É uma característica mantida em várias cenas. Talvez seja para transmitir mais intensamente para o espectador a idéia de que ele seja um mero observador do filme. E imagino também que seja uma representação para os obstáculos que os personagens têm que vencer porque todos ali estão buscando por algo mas antes uma barreira precisa ser ultrapassada.

Tenho visto mais filmes do que minha disposição para escrever permite. Talvez eu escreva sobre Hancock que acabei vendo logo depois de Batman. A coisa é tão ruim que ainda não esqueci. Também vi Persépolis e fiquei babando.

Nota: ****

sábado, 26 de julho de 2008

Todo herói tem sua crise existencial

Um colega me perguntou se eu iria assistir Hancock e respondi que não porque só aguento o Will Smith uma vez por ano. E a cota dele se esgotou lá em janeiro com Eu Sou A Lenda. Já o Christian Bale é outra história e ele faz parte da minha lista de atores e atrizes que me fazem ver um filme só por causa da sua presença. Naturalmente esta não foi a única razão para ter assistido o novo Batman, inclusive foi a menor delas. Hancock foi feito para reinventar o gênero mas os primeiros roteiros possuiam cenas tão apelativas que até foram cortadas depois. Mesmo assim, eu ainda posso viver sem a história do herói bêbado. O Cavaleiro das Trevas mostrou que não é necessário seguir um rumo diferente para fazer um filme excelente de super-herói. Eu achei ótimo de verdade mas não é a obra-prima que achei que fosse.

O diretor Christopher Nolan ressucitou o herói em Batman Begins de forma brilhante após as duas palhaçadas feitas pelo Joel Schumacher. Só estou repetindo o que dizem por aí sobre as versões do Joel já que não assisti nenhuma. O que mais gosto no Begins é ironicamente o início, tudo o que leva o Bruce a se tornar o homem-morcego, deve ser os 60% iniciais do filme. O resto é só o Batman combatendo o crime daquela trama. Pois o estilo apresentado neste resto de Begins foi intensificado e amadurecido para ser tornar a sequência. Foi como se aqueles 60% não estivessem presentes no Cavaleiro. Eu achei que poderia analisar o novo Batman como um filme que transcende o gênero dos super-heróis mas me enganei. O Cavaleiro das Trevas não deixa de ser um filme de super-herói. O seu diferencial é por não ser apenas uma exibição de efeitos especiais, não subestimar a inteligência do espectador e ter o Coringa, o melhor vilão que deve existir - pelo menos para mim que não conheço nada de quadrinhos.

Gotham City está tomada pelos mafiosos que são combatidos não somente pelo verdadeiro Batman mas também por uma legião de seguidores do Morcego que se fantasiam como o seu ídolo. O Coringa, um ladrão de bancos a princípio, faz uma parceria com os mafiosos para juntos matarem o Batman. Só que o Coringa joga sozinho, ele é uma espécie de personificação do caos. Enquanto o Homem-Aranha só questionou sua existência no terceiro filme (ou foi no segundo que ele já se cansou?), o Batman do Nolan passa pela mesma situação de crise existencial no segundo. Ele se sente responsável pelas mortes de inocentes e abandona o uniforme. Mas por pouco tempo, é óbvio. Gotham também tem um novo promotor público e os fiéis companheiros do Batman continuam na sequência. Acho que não existe um filme deste gênero com um elenco tão ótimo como os dois Batman do Nolan. Morgan Freeman e Michael Caine repetem seus papéis e adoro a importância deles para a vida do Bruce Wayne. O policial do Gary Oldman também. Katie Holmes não pôde participar deste (felizmente), Maggie Gyllenhaal assume o seu lugar de Rachel, a paixão de infância do Bruce. Dentre todos os personagens, Rachel é a menos explorada e parece um pouco perdida dentro da história. O Aaron Eckhart é o novo promotor e gostei da visão que tiveram para não deixá-lo para o próximo filme. Tem que assistir para entender o porquê.

Heath Ledger é o que há de melhor! É extraordinário pensar que o sucesso financeiro do filme foi por causa dele. A recepção da crítica teria sido a mesma se o ator ainda estivesse vivo mas a euforia do público não. Na fila quilométrica que enfrentei, as pessoas só falavam do ator que já morreu. Ele era a maior razão para eu ver este filme (não por causa da morte) e depois por ser a terceira parceria entre o Christopher Nolan e Christian Bale. Eu lembro que a primeira vez que vi o trailer de Cavaleiro foi num cinema e aquela imagem da cabeça do Heath maquiada em close me deu um aperto no coração de susto. Foi aí que começou a minha expectativa. Este Coringa é uma mistura de loucura e sanidade incrível. Em certos momentos a maquiagem está tão pesada que ele consegue atuar só com o olhar. A voz e a postura não lembram nada o ator. Este tipo de vilão é tão mais interessante do que os outros concorrentes. Também gostei do Lex Luthor do Kevin Spacey. A cena do Coringa saindo do hospital já é antológica. Outra decisão sábia foi não ter explicado a origem dele. Acho que tiraria o espaço das ótimas cenas presentes.

O título original do filme é apenas O Cavaleiro das Trevas, não contém a palavra "Batman" como no título nacional. É como se o público brasileiro precisasse de ajuda para saber que se trata de um filme do Batman. E também não entendi porque deixaram o título do anterior sem tradução quando poderiam ter colocado Batman - O Início.

O filme é muito bem executado, a direção do Christopher é segura mas tem uma cena do Batman, sua moto e uma parede que provocou risos pelo motivo errado. Não chega a ser constrangedora mas é engraçada. Aliás, filme de herói rico parece ser mais divertido. Não acho que o Peter Parker seja mais humano do que o Bruce Wayne só porque tem que trabalhar.

Nota: *****

sábado, 12 de julho de 2008

Fim do Shayamalan?

Fui contra a maré e aprovei o mais recente Shayamalan. A sacada é encará-lo como uma divertida sátira aos filmes de catástrofe que tentam analisar profundamente seus personagens mas sem êxito. As atuações em Fim dos Tempos são medíocres, os dialógos toscos e alguns acontecimentos absurdos. Não acredito como muita gente levou isto a sério e odiou o filme. Apesar de tudo, o Shayamalan não faria algo tão ruim sem deixá-lo aberto a outras interpretações. Não vou opinar sobre A Dama na Água porque não vi. É como assistir A Vila e querer que ele seja um terror, não vai funcionar. Esperar que Fim dos Tempos tenha um final surpreendente é a mesma coisa. O barato é se divertir com as caras ridículas do Mark Wahlberg. Por favor, ele é um excelente ator. Nem o pior diretor do mundo seria capaz de dirigi-lo tão mal. O que gosto no M. Night, além de ser um diretor autoral, é que depois de O Sexto Sentido, todos os seus filmes foram encarados como um evento independente de você gostar dele ou não. Quem não gosta vai lá ver só para falar mal. Ele consegue ser assunto. O roteiro foi escrito durante o auge do documentário do Al Gore logo este é o mais ecológico e fica fácil de adivinhar quem é o vilão da história. As pessoas de uma cidade começam a agir de forma estranha até que cometem suicídio. Suspeita-se que um ataque químico esteja acontecendo. É hora de abandonar a cidade! O Mark Wahlberg é um professor que foge com a esposa e um amigo também professor com sua filha. O casamento não vai nada bem. Já percebeu que vai rolar discussões sobre o relacionamento nos momentos mais inapropriados. Adorei uma parte em que eles encontram do nada um rádio pendurado numa cerca de uma fazenda durante a fulga e usam para saber das notícias sobre o ataque. Totalmente sem noção. O elenco de apoio de civis também em fulga é um show a parte. Nem dá para decidir quem faz a melhor expressão de medo. Há um diálogo impagável do Mark com a esposa em que ele começa a contar sobre uma moça que deu bola para ele, história para fazer ciúmes. O texto é tão ridículo e inacreditável que só me resta pensar que tudo no filme é ruim intencionalmente. E nem é preciso dizer que eles irão redescobrir o amor no momento de maior perigo. Não é o que acontece sempre? O suspense característico do Shayamalan está lá mas desta vez parece que ele está parodiando a si próprio o que se encaixa naturalmente. Uma coisa é certa, assim como A Vila, Fim dos Tempos não é vendido da forma que ele deve ser visto.

Nota: ****

terça-feira, 8 de julho de 2008

Cuidado com o que você come

Estômago é a estréia em longas de ficção do diretor Marcos Jorge e o rapaz já veio chamando a atenção já que o filme foi o grande vencedor do Festival do Rio de 2007. Pude assisti-lo há uma semana atrás quase sem querer numa sessão tripla com Chega de Saudade e Shine A Light. Mal sabia o que estava perdendo. Estômago deve ser a maior surpresa do cinema nacional. Não é nenhuma obra-prima mas já começa valendo por fugir dos temas abordados constantemente. Ele não se passa em favela, não tem casais da classe média carioca discutindo o casamento e não faz humor de apelo sexual ambientado no interior nordestino.

Um rapaz do interior abandona sua terra para tentar a vida na cidade grande. Logo ele descobre seu talento para a culinária, se apaixona por uma prostituta e acaba na prisão. Achei Estômago bastante original. Seu começo é um longo monólogo sobre o queijo gorgonzola. Hã? E as muitas situações bem humoradas envolvendo comida? Todas funcionam (ou quase todas). São principalmente estas situações que carregam o filme. E ele é dividido em duas linhas narrativas que são contadas paralelamente. Sua chegada à cidade grande e à prisão são mostradas mais ou menos ao mesmo tempo. Enquanto vemos sua vida atrás das grades, a outra sequência vai narrando os fatos que o levaram a ser preso. Mas ambas são unidas por pontos comuns descritos pelas transformações sofridas pelo protagonista de um ser vulnerável em um novo ambiente para alguém capaz de realizar uma ação que ninguém esperava que ele fosse capaz. Seu nome é Raimundo Nonato, interpretado pelo ator João Miguel que eu ainda não conhecia mas já tem uma ótima filmografia. Talvez por eu não conhecê-lo, achei algumas de suas cenas tão naturais que pensei que ele não estivesse atuando. Fazia umas expressões faciais que pareciam deixá-lo envergonhado. Engano meu. Foi tudo intencional e estava fazendo o personagem. Sem falar que o João Miguel já foi bastante premiado.

Estômago diverte mesmo, além de ousar e esbanjar criatividade. Há uma cena em que a iluminação é tão artística. A atriz que faz a prostituta entra nua numa cozinha sem iluminação, se dirige à geladeira e abre sua porta o que faz com que a luz do aparelho revele o seu corpo. O relacionamento dela com o Raimundo é uma mistura de sinceridade com amargura. Você torce por eles mas o destino dos dois é incerto. E para não fugir da proposta do filme, eles começam o relacionamento porque ela se encanta com a coxinha dele. E o macarrão nem se fala.

Nota: *****

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Onde está Wall-E?

O que resulta recesso escolar mais animação da Pixar – dublada? Uma fila gigantesca formada por famílias inteiras e muita gente sem poder entrar porque a lotação máxima foi atingida. Fui um dos últimos a conseguir entrar na minha sessão e, é lógico, peguei um dos piores lugares. O melhor de tudo é que Wall-E compensou todo o sacrifício. É sério, já estou achando que é a minha animação preferida do estúdio batendo até Procurando Nemo que eu adoro. Gostei muito de Ratatouille no ano passado e ainda preciso rever porque eu estava com a cabeça longe naquele dia. Wall-E não é tão divertido quanto Nemo mas possui elementos que o torna mais marcante e por que não um dos melhores filmes do ano? E este é infinitamente superior ao Robôs da Fox de 2005.

Desta a vez a Pixar avança 700 anos e cria uma realidade em que a humanidade não vive mais na Terra e os robôs são os únicos trabalhadores. O nível de poluição e lixo atinge um nível tão absurdo que é impossível morar no planeta. A população restante vai viver numa nave gigante – de fazer inveja àquela do clássico do Kubrick e naturalmente Also Sprach Zarathustra é tocada em algum momento – que vagará pelo espaço enquanto robôs são deixados na Terra para fazer a limpeza. Nem eles dão conta do trabalho e Wall-E é o único robô “sobrevivente”, tão solitário. Vive colecionando objetos abandonados pelos humanos. Will Smith em Eu Sou A Lenda não está com nada. Enquanto este tinha um cão como companheiro, o robô tinha uma barata. Perfeito, não? Certo dia, um outro robô chamado de Eva é deixado no planeta por uma espécie de nave que, por enquanto, a gente não sabe o que é. Wall-E se apaixonará por ela. Um detalhe é que Eva foi desenhada pelo maior designer da Apple, grande parceira da Pixar. Não é gratuita a aparição de um iPod no filme. Eu gostei de como os sentimentos dados aos robôs não ficaram forçados principalmente por eles se distanciarem da forma física humana. É como criarmos uma relação afetiva com um quadrado. É claro que o quadrado possui algo com função de olhos, por exemplo, mas não passa disto. Está mais relacionado ao seu comportamento. Eu me diverti muito com o robozinho da limpeza.

A gente percebe a grandeza do filme quando os humanos entram em cena. Imagine gerações e gerações que só nascem para comer e dormir. É uma ótima sátira ao avanço tecnológico e ao comodismo exagerado. Infelizmente são duas coisas diretamente proporcionais e querer separá-las não parece estar nos nossos planos.

Eu sou bem pessimista em relação à preservação do meio-ambiente. Eu imagino um futuro cheio de calamidades onde as condições de vida vão se tornando cada vez mais escassas. Mas será que é mais fácil criar um novo ambiente fora da Terra do que reverter o mal já existente? O filme impulsiona estas discussões. Quantas verdades inconvenientes são necessárias para salvar o planeta? Espero mesmo que o público infantil que vá ver Wall-E tenha sua consciência ecológica despertada.

A direção dele ficou com o Andrew Stanton, o mesmo de Procurando Nemo e elogiar o trabalho dos animadores é chover no molhado.

Nota: *****

terça-feira, 1 de julho de 2008

Vivendo para dançar

Ainda não vi Bicho de Sete Cabeças, o primeiro longa-metragem da diretora Laís Bodanzky que recebeu dezenas de prêmios. O seu segundo longa Chega de Saudade me chamou logo a atenção há alguns meses por lembrar O Baile do italiano Ettore Scola, filme que eu tinha visto há pouco tempo e achado bastante curioso. A diferença é que o filme da Laís tem o salão de baile como pano de fundo para o desfile dos seus personagens: pessoas da terceira idade, cada uma com sua história que será explorada nos 90 minutos do filme. Há casais passando por problemas conjugais, solteiras procurando um relacionamento, ciúmes e traições mas tudo se resume ao simples ato de viver.

A produção acontece toda dentro de um salão desde a chegada do público enquanto o sol ainda brilha até o seu final tarde da noite. A música rola solta ao som de muito samba, bolero, forró e Elza Soares em carne e osso. Eu gostei bastante da agilidade inicial do roteiro de Luiz Bolognesi (marido da Laís) ao apresentar os personagens e seus principais traços. Mas a partir de um certo ponto, ele se torna repetitivo e pára de avançar. E o final do baile veio de forma brusca. Já a direção da Laís é uma aula. É maravilhoso como a câmara dança junto com aquelas pessoas no salão. Ela faz um passeio sempre destacando o que enche os olhos do espectador. Direção e roteiro foram, inclusive, os dois prêmios que Chega de Saudade levou no último Festival de Brasília.

Nota: ****

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pedras que não param de rolar

Desde quando Shine A Light é documentário? Se eu soubesse do que se tratava nem teria ido assistir. Não é nada contra os Rolling Stones, eu até gostos deles, fazem parte da lista dos músicos "cool", etc. Mas o que o filme vai acrescentar? 90% dele é somente o show! Os três minutos iniciais são os bastidores da criação dos dois shows e breves entrevistas antigas são exibidas entre as canções. Para quem não conhece as músicas, depois da metade se torna extremamente exaustivo. Eu lembro que um colega me perguntou "Sabe alguma música dos Stones que não seja Satisfaction?" na época do show em Copacabana. Se o filme fosse com o U2, por exemplo, uma banda que gosto mais e conheço mais músicas, teria sido mais agradável sem dúvida mas injustificável do mesmo jeito que Shine A Light.

O Mick Jagger chamou Martin Scorsese para documentar toda a turnê mas o diretor preferiu uma abordagem mais intimista. O resultado foi que Scorsese acabou dirigindo dois shows parecendo que foram direcionados apenas para os fãs da banda. No começo, ele mostra sua preocupação em posicionar as câmeras para capturarem as melhores imagens. E isto ele consegue. Aliás, tecnicamente o show é impecável. Você se contagia com as primeiras canções, com a vitalidade do Jagger, os convidados Jack White e Christina Aguilera não decepcionam. As entrevistas em vários momentos da carreira deles são ótimas mesmo, escolhidas com muita convicção. É uma pena que são mínimas.

Nota: ***

sábado, 31 de maio de 2008

Beatles para todas as ocasiões

Eu iria até ver Homem de Ferro e Speed Racer se não fosse a minha preguiça então um jejum forçado de três semanas resultou somente num único post no mês de maio!! Mas finalmente entrou aqui Across The Universe, o musical baseado nas músicas dos Beatles. O filme foi quase uma aula porque não sabia que algumas daquelas músicas eram do quarteto de Liverpool. E se eu sabia, havia esquecido. Across The Universe tem seus defeitos mas é tão adorável que não vou conseguir ser negativo. É um filme inofensivo e prefiro lembrar dele desta forma. Vou divido-lo em duas partes: a.B. e d.B., antes de Bono e depois de Bono. Achei que depois da participação do líder do U2, o filme perdeu bastante o ritmo.

A primeira parte funciona melhor porque é a parte mais fácil do roteiro com os personagens sendo apenas apresentados, os números músicas contagiantes moldando a estrutura do filme, a narrativa criando forma, etc. É a base de tudo. Jude (Jim Sturgess que meses depois seria mais visto em Quebrando A Banca) é um artista inglês que decide ir aos EUA durante a década de 60, auge da guerra do Vietnã. Lá conhece várias pessoas, uma delas é a Lucy (Evan Rachel Wood) por quem irá se apaixonar. Em NY, dividirão um apartamento com outros novatos na Big Apple. A Lucy é a mais engajada com o pacifismo já que o seu antigo namorado foi convocado pelo exército. Inclusive ela já demonstrava este lado quando explicou a origem do feriado de Ação de Graças ao Jude. É muito divertido como as canções dos Beatles vão se encaixando com todas as cenas. Bem, isto é natural já que ninguém seria louco de escrever toda a história antes e só depois procurar as músicas que se encaixassem. Os números musicais são bastante variados. Tem desde o Jim apenas cantando para a câmera quando abre o filme até aqueles com toques psicodélicos como o da sala de boliche. Nenhum deles são grandiosos já que o objetivo, acredito eu, tenha sido focar a simplicidade, criatividade e até criar uma poesia visual. E nesta primeira parte o filme cumpre seu papel com excelência.

Quando os conflitos são introduzidos, os personagens parecem perdidos num tiroteio e alguns deixam de ter uma função na história. Seguem-se sequências de ações sem motivações que tiram o gosto agradável da primeira parte. A idéia de abordar de forma mais séria não convence. Neste quesito, Hair é infinitamente melhor como um ato pacifista. Acho que Across não faz despertar o desejo de se juntar àquela multidão para lutar pelo mundo ideal. O gosto amargo persiste por bastante tempo até que perto do final o filme se recupera ao som de Hey Jude e All You Need Is Love. Chega até a levantar o seu astral. E pela falta de Twist And Shout, a gente percebe que Ferris Bueller a imortalizou e seria um sacrilégio reusar a canção.

Nota: ****

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Senhores da Saúde

Mais uma sessão dupla no fim de semana resulta em um post único. Independente de suas visões políticas, o Michael Moore sabe fazer um documentário que prende a atenção do começo ao fim. Talvez por isso muitos achem que ele é melhor cineasta do que um documentarista. Ainda não vi Tiros em Columbine mas gostei bastante do Fahrenheit 9/11. Sicko é tão arrasador quanto o anterior. Tem o característico humor ácido que o Michael incorpora em assuntos sérios. Desta foi foi a decadência do sistema de saúde americano. Na verdade, nem é a decadência já que o tal sistema nunca funcionou. Fala principalmente dos interesses econômicos dos planos de saúde e da autonomia que o governo Bush deu às indústrias farmacêuticas para venderem os medicamentos pelo preço que quiserem. O Michael ainda visita a Inglaterra, França e Cuba e descobre a “gratuidade” dos sistemas de saúde nestes países. O documentário está cheio de casos reais absurdos. O depoimento que mais me afetou foi a de uma funcionária de um serviço que informa cotações de preços dos planos. Ela relatou o caso de um casal que ficou aliviado por achar que conseguiu um plano de saúde mas ela, a funcionária, sabia que em alguns dias o pedido do casal seria negado e ela não podia falar nada. É de partir o coração. Mas o fato mais inacreditável é o que aconteceu com o dono do maior site anti-Michael. Só assistindo para saber do que se trata. Mal vejo a hora de ver o que o Michael vai atacar em seguida.
Nota: *****

Estive esperando por Senhores do Crime desde setembro de 2007 quando vi o trailer e achei fantástico. Aí corri para assistir a parceria David Cronenberg/Viggo Mortensen em Marcas da Violência que ainda não tinha visto. Gostei mais da segunda metade dele. Senhores do Crime já começa ganhando porque as duas metades são equilibradas. Mas confesso que fiquei só um pouquinho desapontado. Embora eu tenha gostado bastante, senti que faltou alguma coisa que também não sei dizer o que seria. O Viggo está espetacular e o seu personagem, um mafioso russo, transmite um ar enigmático que persiste mesmo depois do final da sessão. A Naomi Watts também está ótima. Eu gosto dela pela sua diversidade. Os seus papéis em, por exemplo, Cidade dos Sonhos, O Chamado, O Despertar de uma Paixão, King Kong e 21 Gramas são tão diferentes e ela não decepciona em nenhum deles. A Naomi faz em Senhores uma parteira que irá investigar o passado de uma garota que morreu durante o parto e o seu possível envolvimento com os mafiosos. Eu adorei a narração do diário da garota durante o filme. O estilo violento explícito e chocante do Cronenberg está lá. Não basta cortar a garganta do rapaz com uma navalha em um único movimento, ele tem que serrar. Uma moça ao meu lado se incomodou. E quando a garota grávida sangra entre as pernas, ela deixa a sala de cinema. Acho que não custa nada se informar um pouco antes de ver o filme. É um Cronenberg, então vai ter sangue. Bem, minha experiência com o diretor só envolve dois filmes e vendo o making-of de Marcas da Violência, percebi que ele gosta de sangue, de como seus personagens morrem, etc. Mas havia alguém bem informado atrás de mim pois ele falou “É agora” quando a sauna apareceu. O fato interessante é que Senhores do Crime seria a mesma coisa sem a violência? Acho que não. É como Os Sonhadores sem o sexo. Não funcionaria. E mais ainda, a violência de Senhores não se torna gratuita. É um grande filme e possui umas reviravoltas bem sacadas no final.
Nota: ****

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A vida de Sweeney Todd num orfanato

O cinema alemão tem produzido verdadeiras preciosidades nos últimos anos como Adeus, Lênin (2003) e Edukators (2004). Sou muito fã destes dois, principalmente do segundo que deve ser um dos meus preferidos de todos os tempos. Agora vi A Vida dos Outros, vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2007. Em termos comparativos, prefiro Lênin e Edukators por serem mais leves. A Vida é muito denso e exige certa concentração para acompanhar mas não deixa de ser genial mesmo assim. O ministro da Alemanha Oriental ordena que a vida de um escritor de peças seja observada por acreditar que ele tenha "tendências ocidentais". O encarregado de executar as tarefas de escuta terá o seu compromentimento com o trabalho (lealdade ao governo) abalado após o início das observações. É aí que está a grande sacada do filme. Como é que um homem casado com os trabalhos de interrogação do regime ditatorial amolece ao penetrar na vida de um cidadão e sua esposa? O fato mais curioso é que eu não estava achando A Vida um grande filme até um simplório detalhe nos instantes finais que fez mudar toda a minha concepção. Eu estava gostando, só não estava fascinado. Anos depois, o escritor em questão lança um livro e a sua dedicatória é o que faz de A Vida dos Outros um filme realmente lindo.
Nota: *****

Eu acho o terror espanhol tão superior ao asiático e as suas refilmagens americanas. E fico mais convicto disto após ver O Orfanato. Ele não tem o mesmo valor artístico que O Labirinto do Fauno (que não é uma produção 100% espanhola) mas a ótima recepção da crítica é bastante justa. O filme tem todos os clichês possíveis do gênero e o mais interessante é que funcionam! O Orfanato assusta de verdade. Fazia tempo que eu não lacrimejava de medo. A produção tem o dedo do Guillermo del Toro e naturalmente o seu nome é o mais destacado nos pôsteres de divulgação mesmo ele sendo apenas um dos quatro produtores. Eu nem vou mencionar nada da trama porque saber detalhes demais tirariam o charme. Eu apenas sabia que era a história de uma mulher (Belén Rueda de Mar Adentro) que planeja reabrir o orfanato onde cresceu e ela tem um filho que possui amigos imaginários. Um dos grandes triunfos do filme é o desfecho do seu maior mistério. Eu queria que não fosse apenas uma série de cenas para dar sustos. Mas o final é realmente satisfatório. E emocionante. Os eternos amantes do Chaves ainda têm uma razão para ver O Orfanato já que o Edgar Vivar (Sr. Barriga) faz uma participação. E aquela imagem do menino com o saco na cabeça...
Nota: ****

Sweeney Todd é o resultado do que Tim Burton sabe fazer melhor. Todas as características que o tornaram um grande diretor estão neste musical trágico. E o clima é pesado. A fotografia mais monocromática reflete perfeitamente o tom fúnebre da obra. É tudo tão caprichado desde o figurino até a Londres vitoriana. Fica repetitivo elogiar o trabalho técnico do filme. Fico pensando em alguma coisa que não tenha gostado mas não consigo achar. No final não fiquei com aquela vontade de ver novamente como Hairspray. Mas não acredito que isto seja um comentário negativo. Gostei das músicas, do elenco (Depp, Carter, Rickman, Spall e Cohen), dos exageros da história. Os assuntos abordados como o desejo de vingança do Todd, o amor oculto da Sra. Lovett, a cobiça do juíz, o interesse do jovem marinheiro pela garota prisioneira estão todos em perfeita sintonia. Sweeney Todd é um musical estranho e com sangue que não pára de jorrar.
Nota: *****

sábado, 19 de abril de 2008

O assassinato de Charlie Wilson

Vou juntar dois filmes em um único post porque não fiquei empolgado para escrever sobre eles, embora tenha gostado muito do primeiro. Há uma semana, assisti O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford com o Brad Pitt fazendo o Jesse, o primeiro grande e idolatrado fora-da-lei americano. Mas acho que o protagonista seja o Robert Ford (Casey Affleck). Pelo menos, o seu personagem é o mais enigmático e interessante. E o Casey é quem está melhor em cena mesmo. Então não foi surpresa o Brad ter sido deixado de lado nas indicações aos prêmios no começo do ano. Assassinato é extremamente longo e deixa transparecer isto ao focar exaustivamente as histórias dos membros da gangue do Jesse. Um filme com este título deixa a impressão de que todo o enredo será voltado ao assassinato e suas motivações mas não é bem assim. O lado positivo é que o elenco de coadjuvantes também está excelente então o filme não se torna um martírio. A parte que mais gostei foram os instantes que antecederam a morte do Jesse. Ele pega o jornal que não deveria, Robert e o irmão não podem esperar mais... É uma tensão bem sutil. Depois o filme se estende por algum tempo parecendo que não vai acabar nunca mais.
Nota: ****

O segundo foi Jogos do Poder. Não tenho como falar de um filme que não foi feito pra mim. Eu até já sabia que poderia não conseguir acompanhá-lo quando vi o trailer. É muita complexidade para a minha pobre cabeça, não consegui entrar no clima das piadinhas sarcásticas. Ele é altamente político e não perde tempo para explicar o que você já deveria saber. Como eu não sabia, fiquei perdidinho e ainda dormi bastante. Charlie Wilson (Tom Hanks) foi um congressista do Texas responsável por induzir o governo americano a armar o Afeganistão contra os soviéticos durante a Guerra Fria. Entram na jogada a Julia Roberts que não entendi sua função na história e o Philip Seymour Hoffman, um dirigente de uma divisão específica da CIA.
Nota: ***

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Viva a Igreja da 3ª Revelação

Se Sangue Negro não for melhor que os Fracos dos irmãos Coen, é tão ótimo quanto este. Acho que o filme do Paul Thomas Anderson (de Magnólia - que ainda não vi e tenho certeza que seria perdoado de tal pecado pela Igreja da 3ª Revelação) tem a vantagem de ser mais eletrizante no sentido de provocar reações mais fortes. Algumas sequências são de encher os olhos graças aos excelentes trabalhos do Daniel Day-Lewis e Paul Dano, uma trilha sonora pertubadora e montagens belíssimas. Tudo isto em quase 160 minutos que raramente se tornam cansativos. O primeiro diálogo só é dito uns 15 minutos depois do início do filme (11:33 para ser exato). O explorador Daniel Plainview (Day-Lewis) de minas de prata encontra petróleo e decide mudar de ramo. Parece que a única atividade que dava dinheiro no final do século XIX e começo do XX naquela região desértica da Califórnia era extrair o tal líquido. Daniel recebe informações de um certo lugar onde o petróleo parece pedir para ser extraído e decide ir investigar com o seu filho. Lá ele se instala e começa o seu negócio mais lucrativo. A sua ganância e o conflito com o pastor local (Paul Dano) são os aspectos centrais de Sangue Negro.

Eu achei fantástica a sequência com o poço de perfuração expelindo o gás e entrando em combustão. O acidente é importante porque vai mudar a relação do Daniel com o filho devido ao que acontece com o garoto, só achei que faltou mostrar a reação da comunidade local em relação ao incidente. Imaginei que haveriam protestos. Tecnicamente falando, a montagem é riquíssima. Agora pude comprovar porque a trilha sonora (composta pelo Jonny Greenwood do Radiohead) foi bastante elogiada. A composição que toca nesta sequência é hipnotizante e tão intensa que você sente um alívio quando termina. É interessante como Onde Os Fracos Não Têm Vez deve ser seco mesmo e Sangue Negro funciona por optar pelo contrário. Sangue tem muito mais efeitos sonoros, além da trilha sonora.

O Daniel atua tão bem que fiquei tentando achar um ponto de identificação com o seu personagem. Acredito que ele não tenha uma natureza perversa. Desde que você não atrapalhe os seus negócios, sua vida está salva. Foi o que aconteceu quando o possível irmão dele surge no meio do filme. Já o desprezo pelo filho no final não me conveceu. Não acredito que o garoto só tenha sido usado pela imagem. Nunca é tarde para fazer um protesto político mas se Sangue Negro tivesse sido lançado no auge da invasão ao Iraque, seria tão mais voraz.

Eu nem sabia que o Paul Dano era um ator tão ótimo. Ele passa metade do Pequena Miss Sunshine mudo mas já percebi muito talento ali. Inclusive, vi no ano passado um filme pavoroso chamado The King com o Gael García Bernal em que o Paul fazia um filho de pastor. Mas em Sangue Negro, o cinismo do seu pastor da Igreja da 3ª Revelação é impagável. E ele batizando o Daniel e devolvendo as bofetadas? Achei hilário. Até lembrei de uma sessão de exorcismo numa Igreja Universal aqui perto de onde moro. Sempre passo pela frente dela e uma vez estava ocorrendo o exorcismo de uma moça. As sátiras de Sangue Negro a estes cultos são divertidas de verdade. É tão gratificante quando um diretor faz um filme ambicioso e consegue cumprir sua tarefa.

Fui conferir a trilha do filme e fiquei desapontado (e muitos outros pelos comentários postados na Amazon.com) pela falta da composição mais marcante tocada em Sangue Negro. Aí descubro que ela foi composta para outro filme, também pelo Jonny.

Nota: *****

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Mulher também usa armadura

Histórias sobre monarcas não me atraem muito então vejo sem o compromisso de querer gostar. Mas se eu gostar, encaro como uma surpresa. E foi o que aconteceu com Elizabeth – A Era de Ouro. Não é que eu queira agora pendurar um quadro dela no meu quarto mas é um filme bem agradável. Há um ano atrás foi a vez de Maria Antonieta que eu até devo ter gostado. Mas A Era de Ouro é bem melhor que o filme da Sofia Coppola e um pouco melhor também que o Elizabeth anterior que mesmo tendo visto somente há pouco tempo, não lembro mais do que ele aborda especificamente. A Era de Ouro foi a época em que a Inglaterra, governada pela rainha protestante, lutou contra a imposição do catolicismo pelo rei Felipe da Espanha. Ou você se tornava católico, ou acabava conhecendo o diabo mais cedo. A Inglaterra foi o único país que não se converteu.

Cate Blanchett retorna, 10 anos depois, ao papel que a deixou famosa mundialmente. Só vê-la explorando todas as nuances do personagem já vale o ingresso. Geoffrey Rush também continua como o seu conselheiro e o Clive Owen agora é visto com outros olhos pela rainha. Além da Guerra Santa, o filme trata, talvez este seja o ponto principal, sobre o título de Rainha Virgem da Elizabeth. Tem até um concurso de pretendentes e quem chama a sua atenção é o velejador-conquistador-pirata-não-sei-mais-o-que feito pelo Clive. Mas a relação está longe de ser amorosa porque nem a rainha sabe o que sente por ele. A cena em que ela descobre o caso do Clive com uma de suas damas é ótima. O medo da chegada dos espanhóis e a sua vida pessoal ser afetada por traições a deixam transtornada. E traição se pagava com o pescoço, pelo menos quando se trata de assassinar a rainha.

O que mais gostei mesmo foi a firmeza da Elizabeth em lutar contra o fanatismo religioso do rei espanhol. Há uma parte onde ela fala algo parecido com lutar pelo direito de crença do seu povo. Tudo bem que este direito só se refere ao protestantismo mas pelo menos ela está lutando contra a imposição de uma religião dita como a salvação. É até uma imagem marcante quando ela aparece de armadura em seu cavalo. Já a única coisa que me incomodou foi a falta de uma estrutura política que fizesse a rainha tomar decisões porque durante o filme todo a sua única decisão é lutar ou não contra o domínio católico. E a marinha inglesa vence a guerra. Será que ela não erra?

A direção foi mais uma vez do indiano (?) Shekar Khapur que utiliza alguns movimentos de câmera bem caprichados.

Nota: ***

terça-feira, 1 de abril de 2008

É melhor pular

Se você, assim como eu, não tinha escolha a não ser ver Jumper, meus pêsames. Se puder, pule mesmo. Espere a programação da próxima semana ou veja algum filme novamente. Eu queria ter revisto os Fracos porque descobri que não tinha percebido um detalhe importantíssimo. É vergonhoso. Como foi em cima da hora, tive que prestigiar a ficção-científica dos saltadores. A idéia é bastante inspiradora, só que está tão mal aproveitada e mal explorada que fico com a impressão de que o público alvo seja a garotada de até 12 anos. Uma anomalia genética permite que alguns individuos possam se teletransportar para qualquer parte do planeta desde que já tenha estado no lugar antes ou visto através de uma fotografia. Há os caçadores de Jumpers chamados de Paladinos que pregam a onipresença exclusiva de Deus. Os saltadores seriam como as bruxas durante a Inquisição o que não deixa de ser uma analogia interessante. Mas o que poderia ser um filme promissor (um novo Matrix?), não passa de uma história sem graça focada num protagonista mais sem graça ainda que tem uma vida também sem graça e uma namorada... sem graça. Seguindo esta lógica, nem preciso dizer o que achei do caçador-chefe de Jumpers. E quando tudo parecia perdido, veio a salvação!

O protagonista da história é o Hayden Christensen (Anakin Skywalker). Ele pode ser qualquer coisa menos ator. Ainda na época colegial sofrendo nas mãos dos colegas, ele descobre o seu poder e a primeira coisa que faz é fugir de casa e viver roubando bancos porque, é claro, é o sonho de qualquer garoto. Ele leva esta vida fácil por oito anos. Foi difícil aguentar isto no filme. Qual é o sentido em mostrar o Hayden fazendo um refeição no topo da esfinge no Egito? É o tipo de coisa que faz com que a gente não leve este filme a sério. Depois somos apresentados ao Samuel L. Jackson que entendi ser o chefe dos Paladinos. Vem ação pela frente porque ele vai perseguir e tentar matar o Hayden até o final do filme. Os Paladinos pregam que somente Deus pode estar em vários lugares ao mesmo tempo mas como eles têm uma máquina de teletransporte? Vale negar os próprios conceitos para acabar com um Jumper? Pfff.

A Rachel Bilson (The O.C.) é o interesse romântico do Hayden. Eles não se vêem há anos e quando o Hayden decide visitá-la no bar onde a moça trabalha, ele a convida para ir a Roma. Ela aceita na hora sem questionar. A Rachel está melhorzinha que o Hayden mas o seu papel é tão chatinho. Não dá para entender como ela aceita os segredos do seu namorado. E sua única função é só servir de isca. Todos os filmes de heróis têm isso. O Hayden, na verdade, um anti-herói. Mas sua imoralidade em viver roubando dinheiro é tão bobinha. Em sua jornada, ele conhece a única salvação do filme: o Jamie Bell (o eterno Billy Elliot)!

O Jamie também é um Jumper, só que um experiente em fugir. É muita covardia colocar o Hayden para contracenar com o Jamie. Este é um grande ator desde criança. Ele nunca fez um papel tão importante como o Billy Elliot mas o seu talento não foi perdido. Até já vi uma boa quantidade de filmes com ele e arrisco dizer que em Jumper ele faz o seu melhor trabalho (depois do Billy, é claro. O melhor filme depois do Billy é o Querida Wendy). O seu Jumper tem um sarcasmo excelente, é cativante em todos os momentos e coloca todo elenco embaixo do tapete. Só por causa dele, fui cativado pelos efeitos especiais na sequência de cenas em que ele e o Hayden ficam brigando pelo detonador.

Coitado do Doug Liman. Dirigiu a Identidade Bourne (!!) e depois só vem sendo rebaixado. Sr. E Sra. Smith não é tão ruim mas Jumper não tem justificativa. A sequência já foi confirmada para 2011 mas só irei ver se for centrada no Jamie Bell.

Nota: **

terça-feira, 25 de março de 2008

Where the weak ones have no chance

Minha experiência com os irmãos Coen antes de Onde Os Fracos Não Têm Vez se resume a apenas três filmes: O Grande Lebowski (*****), Na Roda da Fortuna (*****) e Gosto de Sangue (****). Todos vistos em 2008 e os asteriscos são as notas que coloquei aqui no meu arquivo. Nada mal porque Fracos vai levar também 5 estrelas (e bem merecidas!). É o melhor filme que vi nos últimos seis meses. Uma excelente aula de cinema. A ansiedade era tanta que eu vibrei com os dois primeiros assassinatos do Javier Bardem que abrem o filme. Eu só estava um pouco preocupado por causa da polêmica sobre o seu final ser insatisfatório mas achei o roteiro brilhante. O final não é fácil mesmo. É o mais cru que lembro de ter visto num filme. Quem ficou com o dinheiro? Para mim foi o Josh Brolin. Não conheço o livro do Cormac McCarthy então só estou supondo. Ouvi uns chiados das pessoas no fim da sessão. A aparente ausência do destino dos personagens foge dos padrões mas acho isto atraente. Não vá esperando ver o xerife comemorando por ter colocado o bandido atrás das grades.

A história é sobre um caçador (Josh Brolin) que acha um belo malote de dinheiro e o assassino frio Anton “Sugar” Chigurh (Javier) é enviado para recuperar os dólares. Tommy Lee Jones é o xerife que segue os rastros de maldade deixados pelo Sugar. O espanhol Javier Bardem (Mar Adentro, Carne Trêmula) está assustador de verdade. E nem é por causa do cabelo. Sua personificação deste monstro já se imortalizou na história do cinema assim como Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes. Parece que estes dois vilões liberam o nosso lado sádico. Se você não tem este lado como eu, vai sentir da mesma maneira um certo prazer pelas maldades nas duas horas do filme. A única coisa que não gostei no Javier foi a sua voz de Darth Vader. O Josh também fez um trabalho expecional e ainda tem a Kelly Macdonald (que fez Trainspotting quando era novinha) como sua esposa. Não há o que reclamar do elenco individualmente e é melhor ainda quando estão contracenando. É uma maravilha ver os personagens serem construídos em camadas. O Javier atuando com o dono da loja, com o Josh, com a Kelly... Cada um deles representa uma camada que vai adicionando algo em nossa percepção sobre o Javier com o passar do tempo. Isto vale para outros personagens. Pegue todas as pessoas com quem o Josh Brolin atuou e você vai perceber também sua construção complexa. Só depois percebi que o Javier não matava todo mundo que cruzava o seu caminho. Normalmente ele costuma usar uma moeda para decidir. Parece absurdo mas se encaixa perfeitamente com sua mente psicótica. Alguns sabem domar a fera como a dona dos trailers e o Sugar a deixou viva sem consultar sua moeda. Mas no fundo eu queria que ele acabasse com ela. Há uma cena hilária de um grupo de mariachis cantando para o Josh, a fulga vai parar no México.

Deveria ser proibida a entrada de pessoas com alimentos barulhentos (=pipoca). Aquele longo e silencioso início no deserto do Texas ao som de crack-crack não é muito agradável. Aliás, o filme todo é assim seco, sem trilha sonora, lento. Eu achei fascinante esta narração árida quando vi A Criança dos Dardenne. Parece que tudo fica mais intensificado. Os momentos de suspense de Fracos são de primeira. Quem quase não teve um ataque cardíaco quando o Javier arromba a porta do quarto do Josh? Fracos explora um pouco de vários gêneros igualmente sem partir para um específico. É suspense, terror, ação, até lembra um filme noir. Nenhum estilo fica devendo ao outro. Perto dos Coen, os fracos não têm vez.

PS: Uma semana depois, descubro que entendi o filme todo errado.

Nota: *****

segunda-feira, 17 de março de 2008

Shiva, o Deus dos advogados honestos

Foi uma benção ter entrado Conduta de Risco, assim eu pude fugir de 10.000 a.C. já que a experiência só com o trailer dele foi sofrível. Conduta ainda não é o que mais quero ver e nem sei o que escrever sobre ele pra falar a verdade. Eu gostei mais ou menos porque achei confuso. As subtramas da vida do Michael Clayton (George Clooney) me atrapalharam. Não compreendi a história dele com o restaurante e nem com a família. Já a linha de desenvolvimento central foi mais fácil de seguir. Eu não gosto muito de filmes sobre advocacia, a área em si não me atrai. O lado bom é que Conduta não é um filme com cenas de tribunal como Um Crime de Mestre (se bem que gostei deste). Está mais para um suspense investigativo em vários momentos. Conduta serve melhor como instrumento para grandes atores mostrarem o que sabem fazer. As três indicações ao Oscar de atores são justificáveis.

George Clooney trabalha numa empresa de advocacia cujo objetivo é limpar a sujeira de seus clientes. Para entender até que ponto isto pode chegar, o Tom Wilkinson, um advogado também da empresa, foi à loucura após passar os últimos seis anos limpando o nome de uma companhia de produtos agrícolas acusada de utilizar substâncias cancerígenas. A Tilda Swinton (a feiticeira das Crônicas de Nárnia) é uma espécie de conselheira da companhia em questão. Os melhores momentos de Conduta são quando estes três atores estão se confrontando. Os diálogos são bastante afiados e aquela narração do Tom Wilkinson logo no início já prova isto. Foi dele que eu gostei mais. Tendo assistido este filme agora, eu nunca apostaria na vitória da Tilda para atriz coadjuvante. Ela tem uma presença de cena incrível mesmo só enxugando o suor das axilas. Queria que seu personagem tivesse uma participação maior.

Conduta foi escrito e dirigido pelo Tony Gilroy (assumiu a direção pela primeira vez e muito bem) que também trabalhou nos roteiros da trilogia Bourne (!). Em relação ao roteiro, só não gostei da criação de um clima de suspense na cena com o rapaz instalando uma bomba no carro do Clayton. O Clooney vem se aproximando e será que o rapaz vai sair do carro a tempo? É claro que vai! A cena já foi mostrada no começo do filme.

Que interessante! Acabei de ler uma sinopse do filme que esclareceu todas as minhas dúvidas. É óbvio que não irei mudar o meu primeiro parágrafo.

E para terminar este post que escrevi só para arquivar Conduta de Risco, assisti também No Vale das Sombras do Paul Haggis. O filme não é ruim mas não merece um texto. Quero ver o que entra na próxima semana.

Nota: ***

terça-feira, 11 de março de 2008

A pipa do vovô não sobe mais

A adaptação de O Caçador de Pipas deve ser a maior de um best-seller depois de O Código Da Vinci. A diferença é que o Caçador não poderia gerar um blockbuster. E isto explica a passagem discreta dele pelos cinemas. Algumas pessoas que conheço amaram o livro, outras nem tanto. Fui para o filme conhecendo o básico: dois garotos e amigos afegãos vivem felizes em Cabul nos anos 70, algo irá romper a amizade, um deles foge para os EUA com o pai, etc. É uma pena dizer que odiei quase tudo neste filme e nem é por ele ter sido o responsável por eu ter perdido a liderança num bolão do Oscar. E fui com tanta boa vontade assisti-lo! Deve ser difícil fazer uma amizade honesta entre duas crianças sem adicionar pieguices. Para mim ficou bonitinho demais. Lembrei agora daquele A Cura com o Brad Renfro que está descansando em paz. Ou não. Prefiro a amizade destes dois de A Cura do que a do Amir e Hassan no Caçador. Por enquanto, esta é a parte feliz da história. O lado delicado vem com um bully (valentão) que atormenta o Hassan por ele ser um hazara. Não tem toda aquela segregação étnica mostrada em Hotel Ruanda? Aqui é parecido, só que sem as guerras civis. A discriminação só ficava nas palavras (pelo menos é o que está no filme).

Mesmo com campeonatos de pipas, idas ao cinema e declarações quase amorosas (juro que não estou sendo maldoso porque se eu acredito na pureza da amizade dos hobbits da Terra-Média, não tenho motivo para fazer piadinhas com os afegãos) de um garoto para o outro, um mal estar vai destruindo a relação deles. Até agora eu não consegui entender a razão que levou ao rompimento. E não fui só eu! Pude ouvir as conversas de pessoas que perguntavam ao vizinho por que os garotos agiam daquela forma. Às vezes, eu nem sabia quem era o Amir e o Hassan, quem era o filho de quem. O Amir ficou decepcionado porque o colega preferiu ser fiel e acabou sendo estuprado? E por que o próprio Amir não interveio e impediu os valentões? Não dá para negar que é arrasador quando vemos o Hassan assumindo o roubo do relógio que ele não cometeu mas eu não conseguia acompanhar tais atitudes. Pode ser lerdeza minha. Parece que o roteiro não quer perder tempo moldando o caráter dos personagens.

Há duas cenas que considero marcantes durante a infância deles. A primeira é o estupro do Hassan que eu não fiquei chocado, só aquele sangue pingando na neve enquanto o garoto caminhava é que me causou um pequeno impacto. O curioso que não foi por pena dele e nem por raiva do bully. Como posso sentir raiva de um personagem mal construído que já entra em cena implicando? A outra cena marcante é quando o Amir fica jogando os tomates no Hassan pedindo para ele reagir e tudo o que este consegue fazer é esfregar um tomate na própria cara. Foi o momento mais sensível de todo o filme e o único que considero verdadeiro. O problema é justamente querer ser sensível demais. Parece que quer forçar o público a se comover. Em algumas cenas eu imaginava um letreiro gigante sobreposto piscando "CHOREM! CHOREM!". É claro que não estou menosprezando os horrores pelos quais estas crianças passaram. Só acho que para transformar isto num filme não precisa de exageros melodramáticos. Pois bem. Após humilhações e traições, os garotos perdem o contato. E com a ocupação soviética, Amir e o pai são obrigados a fugir do Afeganistão e vão para a América.

Começa a vida adulta do Amir (que é um dos terroristas do EXCELENTE Vôo United 93). Não tem muito o que falar sobre esta parte. Ele termina uma faculdade, se casa com a filha de uma família de afegãos que também vive na Califórnia e se torna escritor. Não dá para deixar de notar as tradições de repressão contra a pobre moça. Era só um aperitivo do que estaria por vir quando Amir volta a sua terra natal. Achei bem desnecessária a cena em que o pai dele sai do consultório porque o médico é russo. Eu só ri porque fui influenciado pelos outros. A pior parte vem a seguir quando Amir recebe um telefonema que o faz voltar ao Afeganistão em 2000.

O regime talibã está tomando conta do país. Então, a princípio, Amir vai ao Paquistão. É só colocar uma barba e um turbante que os talibaneses permitem a entrada no Afeganistão. O motivo da viagem de Amir logo ganha um novo sentido quando um segredo é revelado, digno de qualquer novela mexicana. Imagine quando Guadalupe conta ao seu filho Pedro Daniel que Jorge Luiz não é o seu verdadeiro pai. Amir é obrigado a repensar em tudo de mal que causou ao amigo de infância. A mensagem moralista da história é que nunca é tarde para se redimir. Somos obrigados a aturar isto por longos minutos enquanto vemos Amir em várias situações que o fará “corrigir” os erros do passado. As cenas de agressões físicas, perseguições e tiroteios não se encaixam na proposta do filme. Agora o pior momento de todos é a cena do apedrejamento da mulher adúltera para mostrar os horrores do regime talibã. Por que ela está lá se todos já conhecem os absurdos pregados por estes radicais extremistas? Se o filme não vai condenar, ela nem precisa estar lá. Também não está defendendo as práticas. Acredito que ser neutro é motivo de orgulho para o regime fundamentalista.

Nem vou mencionar o elenco do filme, olha o nome de um dos atores: Sayed Jafar Masihullah Gharibzada. Mas vou colocar os principais nos marcadores como sempre. A adaptação foi dirigida pelo Marc Forster de A Última Ceia e Em Busca da Terra do Nunca. Ainda não vi ambos. Eu tenho um certo fascínio pela região desértica do Oriente-Médio e com a ótima trilha sonora do filme dá para apreciar alguma coisa que não teria como somente lendo o livro.

Nota: ***