segunda-feira, 21 de abril de 2008

A vida de Sweeney Todd num orfanato

O cinema alemão tem produzido verdadeiras preciosidades nos últimos anos como Adeus, Lênin (2003) e Edukators (2004). Sou muito fã destes dois, principalmente do segundo que deve ser um dos meus preferidos de todos os tempos. Agora vi A Vida dos Outros, vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2007. Em termos comparativos, prefiro Lênin e Edukators por serem mais leves. A Vida é muito denso e exige certa concentração para acompanhar mas não deixa de ser genial mesmo assim. O ministro da Alemanha Oriental ordena que a vida de um escritor de peças seja observada por acreditar que ele tenha "tendências ocidentais". O encarregado de executar as tarefas de escuta terá o seu compromentimento com o trabalho (lealdade ao governo) abalado após o início das observações. É aí que está a grande sacada do filme. Como é que um homem casado com os trabalhos de interrogação do regime ditatorial amolece ao penetrar na vida de um cidadão e sua esposa? O fato mais curioso é que eu não estava achando A Vida um grande filme até um simplório detalhe nos instantes finais que fez mudar toda a minha concepção. Eu estava gostando, só não estava fascinado. Anos depois, o escritor em questão lança um livro e a sua dedicatória é o que faz de A Vida dos Outros um filme realmente lindo.
Nota: *****

Eu acho o terror espanhol tão superior ao asiático e as suas refilmagens americanas. E fico mais convicto disto após ver O Orfanato. Ele não tem o mesmo valor artístico que O Labirinto do Fauno (que não é uma produção 100% espanhola) mas a ótima recepção da crítica é bastante justa. O filme tem todos os clichês possíveis do gênero e o mais interessante é que funcionam! O Orfanato assusta de verdade. Fazia tempo que eu não lacrimejava de medo. A produção tem o dedo do Guillermo del Toro e naturalmente o seu nome é o mais destacado nos pôsteres de divulgação mesmo ele sendo apenas um dos quatro produtores. Eu nem vou mencionar nada da trama porque saber detalhes demais tirariam o charme. Eu apenas sabia que era a história de uma mulher (Belén Rueda de Mar Adentro) que planeja reabrir o orfanato onde cresceu e ela tem um filho que possui amigos imaginários. Um dos grandes triunfos do filme é o desfecho do seu maior mistério. Eu queria que não fosse apenas uma série de cenas para dar sustos. Mas o final é realmente satisfatório. E emocionante. Os eternos amantes do Chaves ainda têm uma razão para ver O Orfanato já que o Edgar Vivar (Sr. Barriga) faz uma participação. E aquela imagem do menino com o saco na cabeça...
Nota: ****

Sweeney Todd é o resultado do que Tim Burton sabe fazer melhor. Todas as características que o tornaram um grande diretor estão neste musical trágico. E o clima é pesado. A fotografia mais monocromática reflete perfeitamente o tom fúnebre da obra. É tudo tão caprichado desde o figurino até a Londres vitoriana. Fica repetitivo elogiar o trabalho técnico do filme. Fico pensando em alguma coisa que não tenha gostado mas não consigo achar. No final não fiquei com aquela vontade de ver novamente como Hairspray. Mas não acredito que isto seja um comentário negativo. Gostei das músicas, do elenco (Depp, Carter, Rickman, Spall e Cohen), dos exageros da história. Os assuntos abordados como o desejo de vingança do Todd, o amor oculto da Sra. Lovett, a cobiça do juíz, o interesse do jovem marinheiro pela garota prisioneira estão todos em perfeita sintonia. Sweeney Todd é um musical estranho e com sangue que não pára de jorrar.
Nota: *****

sábado, 19 de abril de 2008

O assassinato de Charlie Wilson

Vou juntar dois filmes em um único post porque não fiquei empolgado para escrever sobre eles, embora tenha gostado muito do primeiro. Há uma semana, assisti O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford com o Brad Pitt fazendo o Jesse, o primeiro grande e idolatrado fora-da-lei americano. Mas acho que o protagonista seja o Robert Ford (Casey Affleck). Pelo menos, o seu personagem é o mais enigmático e interessante. E o Casey é quem está melhor em cena mesmo. Então não foi surpresa o Brad ter sido deixado de lado nas indicações aos prêmios no começo do ano. Assassinato é extremamente longo e deixa transparecer isto ao focar exaustivamente as histórias dos membros da gangue do Jesse. Um filme com este título deixa a impressão de que todo o enredo será voltado ao assassinato e suas motivações mas não é bem assim. O lado positivo é que o elenco de coadjuvantes também está excelente então o filme não se torna um martírio. A parte que mais gostei foram os instantes que antecederam a morte do Jesse. Ele pega o jornal que não deveria, Robert e o irmão não podem esperar mais... É uma tensão bem sutil. Depois o filme se estende por algum tempo parecendo que não vai acabar nunca mais.
Nota: ****

O segundo foi Jogos do Poder. Não tenho como falar de um filme que não foi feito pra mim. Eu até já sabia que poderia não conseguir acompanhá-lo quando vi o trailer. É muita complexidade para a minha pobre cabeça, não consegui entrar no clima das piadinhas sarcásticas. Ele é altamente político e não perde tempo para explicar o que você já deveria saber. Como eu não sabia, fiquei perdidinho e ainda dormi bastante. Charlie Wilson (Tom Hanks) foi um congressista do Texas responsável por induzir o governo americano a armar o Afeganistão contra os soviéticos durante a Guerra Fria. Entram na jogada a Julia Roberts que não entendi sua função na história e o Philip Seymour Hoffman, um dirigente de uma divisão específica da CIA.
Nota: ***

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Viva a Igreja da 3ª Revelação

Se Sangue Negro não for melhor que os Fracos dos irmãos Coen, é tão ótimo quanto este. Acho que o filme do Paul Thomas Anderson (de Magnólia - que ainda não vi e tenho certeza que seria perdoado de tal pecado pela Igreja da 3ª Revelação) tem a vantagem de ser mais eletrizante no sentido de provocar reações mais fortes. Algumas sequências são de encher os olhos graças aos excelentes trabalhos do Daniel Day-Lewis e Paul Dano, uma trilha sonora pertubadora e montagens belíssimas. Tudo isto em quase 160 minutos que raramente se tornam cansativos. O primeiro diálogo só é dito uns 15 minutos depois do início do filme (11:33 para ser exato). O explorador Daniel Plainview (Day-Lewis) de minas de prata encontra petróleo e decide mudar de ramo. Parece que a única atividade que dava dinheiro no final do século XIX e começo do XX naquela região desértica da Califórnia era extrair o tal líquido. Daniel recebe informações de um certo lugar onde o petróleo parece pedir para ser extraído e decide ir investigar com o seu filho. Lá ele se instala e começa o seu negócio mais lucrativo. A sua ganância e o conflito com o pastor local (Paul Dano) são os aspectos centrais de Sangue Negro.

Eu achei fantástica a sequência com o poço de perfuração expelindo o gás e entrando em combustão. O acidente é importante porque vai mudar a relação do Daniel com o filho devido ao que acontece com o garoto, só achei que faltou mostrar a reação da comunidade local em relação ao incidente. Imaginei que haveriam protestos. Tecnicamente falando, a montagem é riquíssima. Agora pude comprovar porque a trilha sonora (composta pelo Jonny Greenwood do Radiohead) foi bastante elogiada. A composição que toca nesta sequência é hipnotizante e tão intensa que você sente um alívio quando termina. É interessante como Onde Os Fracos Não Têm Vez deve ser seco mesmo e Sangue Negro funciona por optar pelo contrário. Sangue tem muito mais efeitos sonoros, além da trilha sonora.

O Daniel atua tão bem que fiquei tentando achar um ponto de identificação com o seu personagem. Acredito que ele não tenha uma natureza perversa. Desde que você não atrapalhe os seus negócios, sua vida está salva. Foi o que aconteceu quando o possível irmão dele surge no meio do filme. Já o desprezo pelo filho no final não me conveceu. Não acredito que o garoto só tenha sido usado pela imagem. Nunca é tarde para fazer um protesto político mas se Sangue Negro tivesse sido lançado no auge da invasão ao Iraque, seria tão mais voraz.

Eu nem sabia que o Paul Dano era um ator tão ótimo. Ele passa metade do Pequena Miss Sunshine mudo mas já percebi muito talento ali. Inclusive, vi no ano passado um filme pavoroso chamado The King com o Gael García Bernal em que o Paul fazia um filho de pastor. Mas em Sangue Negro, o cinismo do seu pastor da Igreja da 3ª Revelação é impagável. E ele batizando o Daniel e devolvendo as bofetadas? Achei hilário. Até lembrei de uma sessão de exorcismo numa Igreja Universal aqui perto de onde moro. Sempre passo pela frente dela e uma vez estava ocorrendo o exorcismo de uma moça. As sátiras de Sangue Negro a estes cultos são divertidas de verdade. É tão gratificante quando um diretor faz um filme ambicioso e consegue cumprir sua tarefa.

Fui conferir a trilha do filme e fiquei desapontado (e muitos outros pelos comentários postados na Amazon.com) pela falta da composição mais marcante tocada em Sangue Negro. Aí descubro que ela foi composta para outro filme, também pelo Jonny.

Nota: *****

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Mulher também usa armadura

Histórias sobre monarcas não me atraem muito então vejo sem o compromisso de querer gostar. Mas se eu gostar, encaro como uma surpresa. E foi o que aconteceu com Elizabeth – A Era de Ouro. Não é que eu queira agora pendurar um quadro dela no meu quarto mas é um filme bem agradável. Há um ano atrás foi a vez de Maria Antonieta que eu até devo ter gostado. Mas A Era de Ouro é bem melhor que o filme da Sofia Coppola e um pouco melhor também que o Elizabeth anterior que mesmo tendo visto somente há pouco tempo, não lembro mais do que ele aborda especificamente. A Era de Ouro foi a época em que a Inglaterra, governada pela rainha protestante, lutou contra a imposição do catolicismo pelo rei Felipe da Espanha. Ou você se tornava católico, ou acabava conhecendo o diabo mais cedo. A Inglaterra foi o único país que não se converteu.

Cate Blanchett retorna, 10 anos depois, ao papel que a deixou famosa mundialmente. Só vê-la explorando todas as nuances do personagem já vale o ingresso. Geoffrey Rush também continua como o seu conselheiro e o Clive Owen agora é visto com outros olhos pela rainha. Além da Guerra Santa, o filme trata, talvez este seja o ponto principal, sobre o título de Rainha Virgem da Elizabeth. Tem até um concurso de pretendentes e quem chama a sua atenção é o velejador-conquistador-pirata-não-sei-mais-o-que feito pelo Clive. Mas a relação está longe de ser amorosa porque nem a rainha sabe o que sente por ele. A cena em que ela descobre o caso do Clive com uma de suas damas é ótima. O medo da chegada dos espanhóis e a sua vida pessoal ser afetada por traições a deixam transtornada. E traição se pagava com o pescoço, pelo menos quando se trata de assassinar a rainha.

O que mais gostei mesmo foi a firmeza da Elizabeth em lutar contra o fanatismo religioso do rei espanhol. Há uma parte onde ela fala algo parecido com lutar pelo direito de crença do seu povo. Tudo bem que este direito só se refere ao protestantismo mas pelo menos ela está lutando contra a imposição de uma religião dita como a salvação. É até uma imagem marcante quando ela aparece de armadura em seu cavalo. Já a única coisa que me incomodou foi a falta de uma estrutura política que fizesse a rainha tomar decisões porque durante o filme todo a sua única decisão é lutar ou não contra o domínio católico. E a marinha inglesa vence a guerra. Será que ela não erra?

A direção foi mais uma vez do indiano (?) Shekar Khapur que utiliza alguns movimentos de câmera bem caprichados.

Nota: ***

terça-feira, 1 de abril de 2008

É melhor pular

Se você, assim como eu, não tinha escolha a não ser ver Jumper, meus pêsames. Se puder, pule mesmo. Espere a programação da próxima semana ou veja algum filme novamente. Eu queria ter revisto os Fracos porque descobri que não tinha percebido um detalhe importantíssimo. É vergonhoso. Como foi em cima da hora, tive que prestigiar a ficção-científica dos saltadores. A idéia é bastante inspiradora, só que está tão mal aproveitada e mal explorada que fico com a impressão de que o público alvo seja a garotada de até 12 anos. Uma anomalia genética permite que alguns individuos possam se teletransportar para qualquer parte do planeta desde que já tenha estado no lugar antes ou visto através de uma fotografia. Há os caçadores de Jumpers chamados de Paladinos que pregam a onipresença exclusiva de Deus. Os saltadores seriam como as bruxas durante a Inquisição o que não deixa de ser uma analogia interessante. Mas o que poderia ser um filme promissor (um novo Matrix?), não passa de uma história sem graça focada num protagonista mais sem graça ainda que tem uma vida também sem graça e uma namorada... sem graça. Seguindo esta lógica, nem preciso dizer o que achei do caçador-chefe de Jumpers. E quando tudo parecia perdido, veio a salvação!

O protagonista da história é o Hayden Christensen (Anakin Skywalker). Ele pode ser qualquer coisa menos ator. Ainda na época colegial sofrendo nas mãos dos colegas, ele descobre o seu poder e a primeira coisa que faz é fugir de casa e viver roubando bancos porque, é claro, é o sonho de qualquer garoto. Ele leva esta vida fácil por oito anos. Foi difícil aguentar isto no filme. Qual é o sentido em mostrar o Hayden fazendo um refeição no topo da esfinge no Egito? É o tipo de coisa que faz com que a gente não leve este filme a sério. Depois somos apresentados ao Samuel L. Jackson que entendi ser o chefe dos Paladinos. Vem ação pela frente porque ele vai perseguir e tentar matar o Hayden até o final do filme. Os Paladinos pregam que somente Deus pode estar em vários lugares ao mesmo tempo mas como eles têm uma máquina de teletransporte? Vale negar os próprios conceitos para acabar com um Jumper? Pfff.

A Rachel Bilson (The O.C.) é o interesse romântico do Hayden. Eles não se vêem há anos e quando o Hayden decide visitá-la no bar onde a moça trabalha, ele a convida para ir a Roma. Ela aceita na hora sem questionar. A Rachel está melhorzinha que o Hayden mas o seu papel é tão chatinho. Não dá para entender como ela aceita os segredos do seu namorado. E sua única função é só servir de isca. Todos os filmes de heróis têm isso. O Hayden, na verdade, um anti-herói. Mas sua imoralidade em viver roubando dinheiro é tão bobinha. Em sua jornada, ele conhece a única salvação do filme: o Jamie Bell (o eterno Billy Elliot)!

O Jamie também é um Jumper, só que um experiente em fugir. É muita covardia colocar o Hayden para contracenar com o Jamie. Este é um grande ator desde criança. Ele nunca fez um papel tão importante como o Billy Elliot mas o seu talento não foi perdido. Até já vi uma boa quantidade de filmes com ele e arrisco dizer que em Jumper ele faz o seu melhor trabalho (depois do Billy, é claro. O melhor filme depois do Billy é o Querida Wendy). O seu Jumper tem um sarcasmo excelente, é cativante em todos os momentos e coloca todo elenco embaixo do tapete. Só por causa dele, fui cativado pelos efeitos especiais na sequência de cenas em que ele e o Hayden ficam brigando pelo detonador.

Coitado do Doug Liman. Dirigiu a Identidade Bourne (!!) e depois só vem sendo rebaixado. Sr. E Sra. Smith não é tão ruim mas Jumper não tem justificativa. A sequência já foi confirmada para 2011 mas só irei ver se for centrada no Jamie Bell.

Nota: **