quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Eu seguro melhor a câmera

Os críticos que foram generosos com Cloverfield dizem que o melhor do filme foi o fato de terem deixado o monstro como pano de fundo para a história dos personagens. Eu concordo perfeitamente com a afirmação. O problema é que a história dos personagens é muito, mas muito, menos interessante do que ver o distrito de Manhattan sendo destruído. Sinta o drama. A mensagem do filme é que uma catástrofe serve para que os pombinhos descubram o amor de um pelo outro. Parece que esta mensagem e a falta da mitologia do Clover não agradou o público. Exemplificando com o Brasil: o filme estreou em segundo lugar, na semana seguinte caiu para décimo primeiro e agora está em décimo nono. O boca-a-boca esperado não aconteceu. Acho que aconteceu o efeito inverso com as pessoas convencendo os amigos a não perderem tempo com este Godzilla fajuto. Ocorreram as mesmas quedas bruscas nos EUA. Existia um certo hype ao redor dele o que justifica a boa estréia. Há meses sua propaganda vinha sendo feita, através da internet também. A Bruxa de Blair não teve os mesmos meios de divulgação que os produtores de Clover (o badalado J.J. Abrams é um deles) tiveram e mesmo assim Bruxa foi um tremendo sucesso porque o boca-a-boca aconteceu. Até hoje nunca assisti Bruxa (tem a sequência que ninguém viu), por isso Clover foi minha primeira vez com um filme contado através da câmera de um dos personagens. E não fiquei com náuseas!

Cloverfield não ganharia mais pontos se o monstro nunca fosse revelado? Eu preferia deste jeito. Eu gostei muito da cena onde apenas a calda do bicho aparece partindo a ponte no meio. É aterrorizante. Mas a cada cena, mais detalhes dele vão sendo revelados até chegar o momento em que o seu rosto fica em close. Se é para mostrar tudo, então explicasse o que aconteceu com ele, de onde veio, etc. Epa! Acabei de descobrir que já está marcada uma continuação para 2009... Isto é motivo para eu desgostar mais da primeira parte.

Seria melhor também se seguisse o exemplo de Vampiros de Almas. A primeira adaptação para o cinema do livro Invasores de Corpos foi dirigida pelo Don Siegel em 1956 e ganhou o título de Vampiros de Almas. Tinha toda a questão implícita nele da perseguição aos comunistas pelo senador Joseph McCarthy. Vampiros funciona quando você o enxerga desta forma. E Cloverfield reflete os ataques do 11/9? Se sim então não faz sentido mostrar o Exército mandando bala no monstro. Do jeito que ficou, só aproveitei mesmo as cenas de destruição quando não sabia ainda a forma da criatura. E só vou creditar nos marcadores o diretor e o T.J. Miller que é quem segura a câmera porque o vi no David Letterman.

Nota: ***

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Escondam o microfone do gângster

Eu não estava muito disposto para enfrentar um filme com mais de 150 minutos. Mas O Gângster do Ridley Scott é tão envolvente que você lamenta quando acaba. As ótimas atuações de Denzel Washington, Russell Crowe e elenco, um roteiro sem enrolações e a firmeza do Scott fazem do Gângster um filme imperdível, principalmente com as opções atuais por aqui. É a história verídica de Frank Lucas (Washington), negro americano que passa de motorista ao maior comerciante de heroína dos EUA na década de 70. O negócio de Frank é o melhor porque ele não tem um fornecedor, recebe direto a mercadoria do produtor asiático trazida clandestinamente nos aviões do exército americano no Vietnã. Assim ele pode vender mais barato e ter mais prestígio do que os concorrentes brancos da máfia italiana, sem mencionar o fato da droga ser 100% pura. A coisa foi tão lucrativa que Frank somou uma fortuna de 250 milhões de dólares. Na contramão, temos Richie Roberts (Crowe), o policial mais honesto que você possa imaginar. Richie será encarregado de comandar uma equipe (uma espécie de Intocáveis) que vai combater somente contra o grande tráfico.

É bom ver como o filme não se trata apenas de uma luta entre polícia e bandido dentro dos valores que conhecemos. Enquanto Richie se orgulha de sua honestidade ao recusar dinheiro do tráfico e denunciar os colegas corruptos, ele não consegue a guarda do filho. Frank pode ser frio e violento mas a primeira coisa que faz quando começa a encher o bolso é dar uma casa para a mãe (Ruby Dee). Tem também o Josh Brolin (espero ansiosamente por Onde Os Fracos Não Têm Vez) que faz o lado corruptível da polícia. É só receber uma boa quantia todo mês do Frank e todo mundo fica em “paz”. A Ruby está magnífica no pouco tempo que está em cena. Até vou torcer para ela no próximo dia 24 mesmo sem ter visto ainda as outras concorrentes de atriz coadjuvante. E querer conhecer os indicados antes da premiação não é algo possível morando aqui.

Os anos antes da queda do império do Lucas foram uma espécie de época de ouro para os comerciantes e consumidores. Imagine ter três quartos dos policiais de Manhattan envolvidos não somente com as organizações do tráfico como também tirando uma grana extra através de outros meios. Não é à toa que Frank pode matar ao ar livre em plena luz do dia e sair andando como se nada tivesse acontecido. O Gângster tem cara de filme violento mas até que está bem dosado. Só o último tiroteio no prédio de produção da Lucas Inc. foi um pouco desnecessário, parece que foi para seguir a fórmula. Há uma cena que ainda não esqueci de um bebê chorando na cama e sua mãe morta ao lado de overdose.

Nunca vi um microfone aparecer tanto no topo da tela como neste. O lado positivo é que num filme como O Gângster, isto é um mero detalhe insignificante.

Nota: ****

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Que lenda?

A lenda do título é referência ao filme do Will Smith e não ao do Nicolas Cage. Aliás, este último é a continuação de uma primeira parte que nunca ouvi falar. É um horror em quase dois meses só ter ido assistir três filmes. As opções aqui estão péssimas. Há um ano atrás, foi a vez de À Procura da Felicidade que não achei lá essas coisas. Agora o astro de início de ano vem com Eu Sou A Lenda que achei bem pior. Nunca assisti muita coisa do Will Smith, seus quatro últimos vi com certeza. Por enquanto, ele fica me devendo. A premissa deste mais novo parece interessante. O ator sozinho em uma Big Apple abandonada. Isto daria um filme bastante profundo mas Lenda não passa de um filme de luta com monstros (vampiros mais modernos) que não param de rugir quando encontram o Will.

Um vírus que prometia ser a cura do câncer causa a morte de 99% da população mundial. Will faz um cientista imune (não lembro o porquê) ao vírus e pesquisa a cura enquanto tem Nova Iorque aos seus pés. Os humanos infectados ficam raivosos e sensíveis à luz (por que uns morrem e outros viram monstros? Não prestei atenção). Enquanto ele tinha o filho como parceiro em Felicidade, agora o garoto cedeu a vez a um cachorro pastor-alemão. Lembrei até da cena do Will com o filho no banheiro do metrô quando apareceu ele agora com o seu cão numa banheira. Lenda falha em tentar mostrar o cotidiano do protagonista. Como gastar o tempo do filme só tendo um ator para dirigir na maior parte? Tem o Will se exercitando, dando banho no cachorro, conversando com manequins... Achei mais interessante ficar pensando se eu fosse o último sobrevivente do planeta (sem monstros). Preencheram o tempo com alguns flashbacks mas eu colocaria tudo como um prólogo. E eu nem achei os ângulos escolhidos pelo Francis Lawrence (Constantine) para mostrar NY vazia tão deslumbrantes. Mas gostei do Will jogando golfe em cima da asa do avião.

Há momentos bem irritantes. O maior deles é o “Damn it, Fred!!”. Fred é um manequim que o Will encontra e discute achando que é um humano. Depois ele manda bala no boneco. Dá para entender que viver naquela situação o individuo pode enlouquecer mas que é irritante ver o Will gritando com um boneco, isto é. Ele chega a conversar com outros manequins numa locadora mas esta cena é simpática. Todas aparições dos monstros são brochantes. Eles nem são assustadores. Acontece que há umas partes em que eles entram em cena de repente e os efeitos sonoros aumentam. São os típicos sustos de suspense meia boca.

Alice Braga surge depois da metade do filme como uma sobrevivente que ouve a transmissão que o Will envia todos os dias na esperança de alguém captar. Coitada. É triste só ser lembrada pelo papel de alguém que nunca ouviu falar do Bob Marley. É uma cena constrangedora. Tal capacidade de não conhecer o Bob se sobressai ao papel importantíssimo da atriz no desfecho da história. Lamentável.

Nota: **