quarta-feira, 9 de abril de 2008

Viva a Igreja da 3ª Revelação

Se Sangue Negro não for melhor que os Fracos dos irmãos Coen, é tão ótimo quanto este. Acho que o filme do Paul Thomas Anderson (de Magnólia - que ainda não vi e tenho certeza que seria perdoado de tal pecado pela Igreja da 3ª Revelação) tem a vantagem de ser mais eletrizante no sentido de provocar reações mais fortes. Algumas sequências são de encher os olhos graças aos excelentes trabalhos do Daniel Day-Lewis e Paul Dano, uma trilha sonora pertubadora e montagens belíssimas. Tudo isto em quase 160 minutos que raramente se tornam cansativos. O primeiro diálogo só é dito uns 15 minutos depois do início do filme (11:33 para ser exato). O explorador Daniel Plainview (Day-Lewis) de minas de prata encontra petróleo e decide mudar de ramo. Parece que a única atividade que dava dinheiro no final do século XIX e começo do XX naquela região desértica da Califórnia era extrair o tal líquido. Daniel recebe informações de um certo lugar onde o petróleo parece pedir para ser extraído e decide ir investigar com o seu filho. Lá ele se instala e começa o seu negócio mais lucrativo. A sua ganância e o conflito com o pastor local (Paul Dano) são os aspectos centrais de Sangue Negro.

Eu achei fantástica a sequência com o poço de perfuração expelindo o gás e entrando em combustão. O acidente é importante porque vai mudar a relação do Daniel com o filho devido ao que acontece com o garoto, só achei que faltou mostrar a reação da comunidade local em relação ao incidente. Imaginei que haveriam protestos. Tecnicamente falando, a montagem é riquíssima. Agora pude comprovar porque a trilha sonora (composta pelo Jonny Greenwood do Radiohead) foi bastante elogiada. A composição que toca nesta sequência é hipnotizante e tão intensa que você sente um alívio quando termina. É interessante como Onde Os Fracos Não Têm Vez deve ser seco mesmo e Sangue Negro funciona por optar pelo contrário. Sangue tem muito mais efeitos sonoros, além da trilha sonora.

O Daniel atua tão bem que fiquei tentando achar um ponto de identificação com o seu personagem. Acredito que ele não tenha uma natureza perversa. Desde que você não atrapalhe os seus negócios, sua vida está salva. Foi o que aconteceu quando o possível irmão dele surge no meio do filme. Já o desprezo pelo filho no final não me conveceu. Não acredito que o garoto só tenha sido usado pela imagem. Nunca é tarde para fazer um protesto político mas se Sangue Negro tivesse sido lançado no auge da invasão ao Iraque, seria tão mais voraz.

Eu nem sabia que o Paul Dano era um ator tão ótimo. Ele passa metade do Pequena Miss Sunshine mudo mas já percebi muito talento ali. Inclusive, vi no ano passado um filme pavoroso chamado The King com o Gael García Bernal em que o Paul fazia um filho de pastor. Mas em Sangue Negro, o cinismo do seu pastor da Igreja da 3ª Revelação é impagável. E ele batizando o Daniel e devolvendo as bofetadas? Achei hilário. Até lembrei de uma sessão de exorcismo numa Igreja Universal aqui perto de onde moro. Sempre passo pela frente dela e uma vez estava ocorrendo o exorcismo de uma moça. As sátiras de Sangue Negro a estes cultos são divertidas de verdade. É tão gratificante quando um diretor faz um filme ambicioso e consegue cumprir sua tarefa.

Fui conferir a trilha do filme e fiquei desapontado (e muitos outros pelos comentários postados na Amazon.com) pela falta da composição mais marcante tocada em Sangue Negro. Aí descubro que ela foi composta para outro filme, também pelo Jonny.

Nota: *****

3 comentários:

lola aronovich disse...

Vc ficou surpreso em ver que o Paul Dano é tão bom ator?! Little Miss Sunshine deve ser a melhor atuação de quase todos os envolvidos... Lá quem me impressionou mesmo foi o Steve Carell! Ai, mas quero ver Sangue Negro de novo. É muito bom mesmo!
Agora, deixa de vergonha e vai assistir Magnólia, pô! A Igreja da 3a Revelação pode te perdoar, mas eu...

Julio Cesar disse...

Eu me expressei mal. Quis dizer que me surpreendi por ele ter se superado. Ele estava ótimo no LMS e foi capaz de feito melhor.

Anônimo disse...

o que posso dizer do paul thomas? boogie nights, magnolia e sangue negro já dizem tudo.

Lu