
Medos Privados é um retrato melancólico sobre solidão envolvendo seis personagens que interagem entre si num bairro parisiense. Tem o casal em crise conjugal que procura um novo apartamento, a dupla de irmãos que buscam um relacionamento, o bartender de um hotel e a secretária religiosa de uma imobiliária que esconde um segredo. Há uma cena no começo de um bar vazio de hotal que reflete bem a temática do filme. O que vem em seguida são situações do cotidiano urbano de pessoas que "sofrem" de solidão. Sofrer não é a palavra adequada porque os personagens não estão, de fato, sofrendo e nem vivem chorando por aí. É, no máximo, uma situação que eles tentam amenizar. As inúmeras tentativas mal sucedidas de revertê-la os fazem refletir se há realmente um obstáculo a ser vencido. Um deles resume perfeitamente quando diz que a vida não passa de uma jornada solitária. Ninguém ali é anti-social. Alguém pode discordar e dizer que eles sofrem já que não vivem assim por opção e sim por uma imposição da vida. Eu acho que a diferença está no fato de você considerar isto um problema ou não. E o final do filme deixou claro que os seis personagens sabem que o destino de cada um é este. É um caminho triste, saí da sessão um pouco abalado por causa disso. Mas se todos arrumassem um par romântico, o filme não valeria de nada. Medos Privados não é para ter nenhum fabuloso destino como o de Amelie Poulain.
Você não tende a gostar mais de um filme quando se identifica com ele? Sem querer deixar o texto muito pessoal, eu sei que não sou a pessoa mais sociável que existe então pude me ver na pele daqueles seis personagens. Cada um deles carrega algo meu. Mas não foi só por isso que gostei. Mesmo que o filme não tenha nada a ver com você, não tem como deixar de se cativar por algumas das cenas cômicas ou se comover em outras. Por exemplo, achei comovente a personagem Gaëlle que sai todas as noites e senta num restaurante esperando por alguém que nunca vai chegar. Todos os seis atores principais (coloquei os nomes deles na lista de marcadores) fizeram um excelente trabalho, foi como se o diretor nunca precisasse dizer o que deveriam fazer. Para reforçar o objetivo do filme e envolver mais o público, a equipe de fotografia moderou no uso das cores deixando os ambientes mais monocromáticos. Aquela trilha sonora no piano é de uma objetividade incrível. Ainda tem a neve usada constantemente como alguma simbologia e até de forma alegórica para a solidão. Imagino que tenha sido por alguma razão bem pessoal do Resnais.
Acho que só assisti três filmes franceses em 2007. O desenho As Bicicletas de Belleville, Caché do Michael Haneke e Amelie Poulain que estava na lista há muito tempo. Três estilos diferentes e todos memoráveis. Nem estou contando um em língua inglesa dirigido pelo François Truffaut. Gostei muito de Medos Privados. O Escafandro e a Borboleta acabou de ganhar o Globo de Ouro de Filme Estrangeiro. Não é uma produção 100% francesa mas é falada na língua. Então é mais um para aguardar.
Nota: ****
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