domingo, 30 de dezembro de 2007

2007

É uma situação tão triste quando você não consegue fazer uma lista dos 10 preferidos do ano por falta de opção. Pois é. A minha lista só vai conter sete e não vou adicionar mais três só para tapar buraco. Eu queria escolher os dez com bastante gosto mas não foi possível. Considerei os filmes de 2007 aqueles que efetivamente vi no cinema durante os últimos doze meses.

7 - Os Simpsons – O Filme: O ano teve uma boa safra de desenhos e animações que se salvaram e o campeão sem pensar muito foi a família de Springfield. Muito provavelmente Ratatouille deveria estar na lista mas como preciso ver de novo, achei melhor não colocar aqui. Ainda não vi as abelhas do Jerry Seinfeld.

6 - Bubble: Versão israelense moderna de Romeu & Julieta com consciência política e social. Filme angustiante.

5 - Superbad – É Hoje: A reinvenção da comédia adolescente em grande estilo. Eu lembro que ainda ria das piadas dias depois de ter visto. Os meses passaram e não lembro tanto de Ligeiramente Grávidos.

4 - Hairspray – Em Busca da Fama: O musical da garota diferente que quer ser famosa foi a coisa mais contagiante que vi este ano.

3 - Pecados Íntimos: O filme mais antigo desta lista faz refletir sobre os nossos conceitos morais e o elenco está impecável.

2 - O Ultimato Bourne: Ação inteligente do começo ao fim e se for dirigida por Paul Greengrass, melhor ainda. Imperdível.

1 - Tropa de Elite: Não achei que a pirataria fosse prejudicar tanto a sua performance. 2,5 milhões de espectadores foi muito pouco comparado aos 10 milhões que assistiram em casa. Independente de acusações de fascismo, Tropa deve ter sido o filme brasileiro mais audacioso já feito e impressiona pelo realismo. Eu vou com a maioria do povo brasileiro e escolho Tropa de Elite como o meu filme preferido de 2007.

Resolvi também "premiar" outros títulos do ano nas categorias a seguir:

"De novo nunca mais": Stardust - O Mistério da Estrela. Filme que você pode suportar uma vez mas duas é pedir demais.

"Não excedeu as expectativas": Dreamgirls – Em Busca de um Sonho. Queria muito assistir e gostei bastante. Só que não foi tudo aquilo que achei que fosse.

"Menção honrosa": Primo Basílio. Sabe aquele filme que você recomenda independente de ser bom ou ruim?

"Meu arrependimento": Jogos Mortais 4. Vergonha de ter sido tão positivo.

"Merece um segunda chance": Shrek Terceiro. A quantidade de piadinhas sem graça me irritou tanto neste Shrek. Acho que eu gostaria mais se assistisse de novo.

"Caça-níquel": Piratas do Caribe – No Fim do Mundo. Esvaziar o bolso do público é a principal tarefas destes piratas.

"Bomba": Nunca É Tarde Para Amar. É muito melhor você detonar um filme de um diretor conceituado. Eu nem precisaria me incomodar com esta comédia romântica com a Michelle Pfeiffer e o Paul Rudd mas este foi o meu pior filme de 2007.

sábado, 29 de dezembro de 2007

O velho e o novo

Eu participei de uma enorme maratona de filmes (1 François Truffaut, 1 Sergio Leone, 3 Wim Wenders, 1 Robert Altman) no Telecine Cult em dezembro que fiquei desanimando com as opções atuais nos cinemas. Então tive que ir mais uma vez à uma sessão de arte para assistir um filme chinês chamado Em Busca da Vida do diretor Jia Zhang Ke. Escolhi este porque foi o vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza em 2006. Sempre dou uma atenção a mais aos filmes premiados nos principais festivais - Cannes é o meu preferido. Tenho uma meta para ver os vencedores da Palma de Ouro, é difícil mas consegui ver três deles este ano: "Kagemusha" (1980), "Paris, Texas" (1984) e "A Criança" (2005).

Em Busca da Vida conta duas histórias paralelas de dois personagens que retornam a uma cidade à procura de seus cônjuges. Apesar da trama convencional, vale observar como o diretor explora o aspecto humano dos seus personagens, um pouco da cultura chinesa e as transformações que vêm ocorrendo naquela região do país. Ainda tem as paisagens deslumbrantes principalmente uma que ficou na cabeça de uma balsa num rio cercado por montanhas, é quase onírica. O ritmo lento pode prejudicar a sua absorção porque cansa um pouco e você só vai tirar o maior proveito se for atento a todos os detalhes. Sim, há detalhes que podem passar despercebidos. A falta deles não irá atrapalhar a compreensão mas servem para engrandecer a trama. É bom prestar atenção também na habilidade do Zhang Ke com a câmera. A magnitude das cenas é a junção do primeiro plano onde estão os atores com a paisagem ao fundo que narra um acontecimento (por exemplo, a foto que escolhi para o post).

Gostei de como o rio principal do filme divide a mesma nação em mundos diferentes. De um lado, é uma China mais desenvolvida e violenta. Do outro, uma população que parece anos atrasada e mesmo assim já usam celular como item de sobrevivência. Mundos distantes que preservam alguma característica do outro lado.

Mesmo com os meus comentários acima, achei o filme quase neutro. Não tenho motivo para desgostar e nem o achei fantástico. Talvez faltou um roteiro com meio e fim. Como você fica com aquela incerteza sobre aonde o filme vai chegar, achei que foi finalizado no meio. E o que significa aquele edifício que decola como um foguete? E o disco voador? É tão estranho que assusta. E este foi meu último filme de 2007.

Nota: 7,0

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A culpa é sempre do seu superior

Eu nunca parei para pensar quem seriam os meus diretores preferidos. Alguns nomes vieram à tona agora e considerando somente aqueles que estão em atividade, o dinamarquês Lars von Trier é um deles. Fui assistir a sua comédia O Grande Chefe que foi feita sem pretensão nenhuma como o próprio diretor narra durante o filme. É como se um dia ele tivesse acordado sem nada para fazer e quisesse bolar algo que não costuma fazer: comédias. Chefe é mais experimental também porque o diretor deixa de lado regras do movimento Dogma 95 e chega a usar uma técnica em que os movimentos das câmeras são controlados por computadores sem intervenção humana. Eu prefiro o LvT usando a câmera na mão e escrevendo sobre a sociedade americana (Dançando No Escuro, Dogville e Manderlay), é o que ele sabe fazer melhor. Eu saí com uma ótima impressão da "brincadeira", até porque vi numa sessão de arte (só assim para este tipo de filme) mas por uma questão pessoal, não é o meu tipo de humor preferido. Mas como é do LvT, eu respeitei quando um crítico o colocou em sua lista dos 10 melhores do ano.

O chefe de uma empresa a comanda recebendo as ordens de um fictício chefe maior. Quando ele decide vendê-la, o comprador exige conhecer o tal todo poderoso então um ator é contratado para exercer o papel. Logo ele vai descobrir que já tem uma imagem entre os funcionários. O Lars quis proporcionar uma reflexão sobre as relações interpessoais num ambiente coorporativo através de uma abordagem mais escrachada. Eu me identifiquei com a cena final do discurso de despedida porque a gente sabe que não é tão diferente na vida real mesmo que pareça absurda no filme. Eu presencei um momento parecido há pouco tempo. Algumas situações funcionaram porque o público se envolveu. Houveram outras em que ninguém reagia como o diretor esperava e o silêncio desconfortante dominava. A edição despreocupada com a continuidade pode parecer um estilo cult mas acho que neste caso não faz ninguém apreciar mais o filme. Uns dois ou três personagens me pareceram desnecessários. Gostei das cenas com a mocinha do RH e com a outra que recebe a proposta de casamento por email.

O Grande Chefe é o meu filme menos preferido do Lars von Trier por enquanto e mesmo assim está muito acima da média das outras opções atuais por aqui. Finalmente Wasington já foi confirmado para 2009. A temática de Chefe me lembrou outro filme chamado O Que Você Faria? (produção entre Espanha, Argentina e Itália) que deve ser o meu preferido sobre os ambientes empresariais. Este ano eu vi também um filme chamado Querida Wendy e perto do final fiquei pensando como tinha a cara do LvT. Para a minha surpresa, quando os créditos finais subiram, adivinhem quem era o roteirista!

Nota: 7,0

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Emprego com os dias contados

Assisti A Lenda de Beowulf e nunca cochilei tanto numa sala de cinema. Não sei como mas mesmo assim acabei gostando desta mais nova animação do Robert Zemeckis que usou os mesmos princípios do Expresso Polar. Eu poderia assistir novamente sem problemas e garanto que não é só para pegar o que perdi durante os meus cochilos. Há algumas conclusões que eu tirei por achar que suas dicas estavam implícitas mas se estavam visíveis, apareceram quando fiquei inconsciente. Também posso estar totalmente enganado. Beowulf foi o primeiro poema épico escrito em língua moderna (inglês) que se tem conhecimento e o seu autor é desconhecido. Foi esta a fonte para Tolkien escrever O Senhor dos Anéis. E como a abordagem original é muito mais interessante! Prefiro muito mais a jornada do Beowulf do que a do Aragorn. Analisando o conjunto da obra, é claro que sempre irei preferir os Anéis mas não tem como negar que os dilemas do Beowulf são mais atraentes.

Havia um castelo na Dinamarca 500 d.C. cujo rei (Anthony Hopkins) adorava libertinagem, festas e compartilhava sua riqueza com o povo. O barulho das festas soa mortal para o demônio Grendel, uma criatura que mora num pântano próximo e é tão feio que faz o Gollum parecer modelo da Victoria's Secret. Em cada festa, Grendel invade o castelo e acaba com a vida de meio mundo de gente de forma mais brutal possível. Ao mesmo tempo, é um ser tão frágil quando mostra seus sentimentos a sua mãe. Não suportando mais a situação, o rei decide dar um precioso tesouro para quem acabar com o demônio. A história chega aos ouvidos do guerreiro Beowulf (Ray Winstone de Os Infiltrados e Cold Mountain mas não lembro onde) que vai oferecer seus corajosos serviços ao rei. O nosso guerreiro é tão honrado que só luta de igual para igual com o feioso. Nada de armas... e nada de roupas. Quem é que esperava ficar mais preocupado em ver as partes íntimas do protagonista do que prestar atenção na luta? Foram vários os momentos em que o público suspirou com as várias formas de esconder as partes frontais (bumbum tem a vontade). Foi divertido. Esta atmosfera sexual é bem presente no filme, é um reino que desconhece a palavra moralismo e sexo é tão natural como respirar. Os reis dormem cada noite com uma jovem diferente e tem o John Malkovich que tem preferência pelas belas virgens e não entendi porque ele só fala com uma voz robótica. Só que o Beowulf vai ter sua honra colocada em jogo ao conhecer a mãe de Grendel, a Angelina Jolie nua. Ele não resiste à tentação. É bom ver que ele não é o modelo perfeito de herói que pensávamos que fosse ou o modelo de herói de outras obras. Gostei do clima de incertezas e mentiras que se segue. Gostei também da ausência daqueles longos discursos sobre glória como em 300. Há frases que remetem um filme ao outro como "I am Beowulf" e "This is Sparta" mas não passa disso. A comparação entre eles é inevitável e prefiro Beowulf em todos os sentidos.

Há quem só goste da animação gráfica pelo avanço tecnológico. Eu nunca vi um filme do gênero só para apreciar o trabalho da computação gráfica. Beowulf foi totalmente diferente e deve ser um marco nesta área. Eu ficava o tempo todo olhando como os personagens estavam perfeitos, principalmente em close. É claro que não chegou ainda ao ponto de não sabermos mais quem é real ou CG mas não lembro de ter visto nada parecido. Há de chegar o dia em que os atores não serão mais necessários. Acho até bom porque deve ser tão chato ser um molde e como avaliar o trabalho de um ator desta maneira?

Nota: 7,5