sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Blá blá blá

Eu já esperava que Leões e Cordeiros fosse unidirecional, só mostrando um único ponto de vista. É a guerra americanos versus inimigos. Eu prefiro muitos mais produções sobre guerras baseadas em fatos como o obrigatório Caminho Para Guantánamo ou documentários como o Fahrenheit 11 de Setembros do Michael Moore. Robert Redford fez LeC mais ideológico e menos crítico por isso não gostei. De um lado é o senador Tom Cruise vendendo sua nova e eficiente estratégia contra o Afeganistão para a imprensa e do outro é a jornalista Meryl Streep querendo publicar sua própria versão da história mesmo um dia já ter dito que o senador era um governante promissor. Há também os dois alunos do Redford que se vêem na obrigação do alistamento militar e vão lutar contra os talibaneses. Antes eles tentam se justificar numa apresentação para a turma mas não consegui entender os seus motivos. Acho que o objetivo do filme é fazer pensar sobre as justificativas tanto de um governo como de um cidadão para apoiar uma guerra.

O Tom Cruise fala em algum momento que está lutando contra a consciência medieval daquela gente. Mas quantos daqueles milhares e milhares de americanos que estão lutando sabem o porquê de estarem lá? É a mesma consciência do dois lados, não? Nem todos são como os dois alunos do Redford e acham que têm uma razão. Eu não consigo ver justificativa para querer participar de uma guerra. Só me resta pensar que tais pessoas estejam iludidas em seus próprios fanatismos. É muito simples dizer que sou contra qualquer tipo de guerra - é a visão de uma criança sobre o assunto - mas não tem como dizer diferente. Eu não gostaria de matar ou morrer gratuitamente a favor do patriotismo.

O filme ainda tem muita conversa longa entre o Redford e mais um de seus alunos. Nem lembro sobre o que falaram tanto mas o rapaz estava se dedicando mais a sua vida social do que a acadêmica. O professor tinha então que acordá-lo para a realidade porque conhecia o seu potencial.

Este foi o primeiro da onda atual de filmes políticos que entrou por aqui. Todos se caracterizam pelo fracasso de bilheteria e críticas não muito amigáveis. Se bem que o filme do Paul Haggis não foi tão massacrado como o do Redford. Li uma entrevista com o Jamie Foxx sobre O Reino e não é muito animadora.

LeC parece um apelo desesperado para acordar os americanos só que não é muito didático. Irão dormir muito ainda se dependerem destas abordagens.

Nota: 5,0

sábado, 24 de novembro de 2007

Imagine there's no countries

Três amigos dividem o mesmo apartamento numa área descolada de Tel Aviv chamada de Bolha porque seus moradores vivem fora da realidade. Mas não é o caso destes três amigos que são engajados em movimentos pacifistas principalmente contra os conflitos entre israelenses e palestinos. E ainda estão bolando a "rave contra a ocupação". Até aí parece apenas um filme político. No entanto, quando ele é dirigido pelo naturalizado israelense Eytan Fox que é gay assumido, o fator político serve somente como pano de fundo para uma grande história de amor homossexual. Eu conheci o trabalho do Fox em 2006 quando assisti Delicada Relação de 2002, história sobre dois jovens soldados que se apaixonam numa base militar no deserto de Israel. Só que até aquele momento eu não sabia nada sobre o diretor. DR não passa de um romance entre duas pessoas que independem de sexo e não aborda a diversidade da mesma forma que em Priscilla - A Rainha do Deserto ou o mais recente Transamérica. Quando li a sinopse de Bubble há umas semanas e vi quem era o diretor, a ficha caiu. A razão do romance de DR estava explicada.

Bubble é um ótimo filme com algumas falhas que não chegam a atrapalhar tanto o resultado final. Um dos três amigos é o Noam (Ohad Knoller) que também trabalhou em DR (e bem melhor em Bubble). Ele será um ex-soldado que trabalhava na fronteira do país, esta é a primeira cena do filme que mostra a dificuldade dos árabes em entrar em Israel. Quando volta para Tel Aviv, conhecemos seus dois amigos Yelli - que tem a cara do rapaz da propaganda do beijo do Mercado Livre - e Lulu. Logo eles recebem a visita de Ashraf, um palestino que Noam conheceu na fronteira, que traz um documento perdido de Noam. Os quatro irão morar juntos. Bubble é uma versão mais trabalhada de DR, com mais subtramas e um erotismo mais apimentado. Ashraf e Noam fazem o principal casal do filme. É um romance que se torna melodramático em alguns momentos. A Tel Aviv do filme é a cidade dos sonhos para se assumir a opção sexual então o problema mesmo vai surgir por parte das origens do Ashraf. A cena em que ele tenta contar tudo para a irmã é muito divertida. Já o momento em que ela não aceita dançar com ele é tão triste. As cenas de sexo me lembraram de Má Educação. Só que Almodóvar se saiu melhor. Acredito que os atores em Bubble sejam gays na vida real então quando você dirige o Gael Garcia Bernal e o faz encarnar Zahara, seus méritos são maiores. O elenco como um todo do DR está melhor. O problema em Bubble é o Yousef "Joe" Sweid (Ashraf) que pareceu inexperiente. O roteiro escrito pelo próprio Fox com o seu parceiro ainda reserva espaço para o humor.

Acho que as discussões políticas estão melhores aplicadas em Edukators, por exemplo. O ativismo da Lulu não parece sério em algumas partes. Achei muito exagerada a cena em que ela invade a sala do ex-namorado. Tudo bem que a motivação foi passional mas esta imagem atrapalha a consciência social do seu personagem. A juventude de Bubble protesta através da música. Realmente não sei os resultados de eventos como Live 8 e Live Earth. Não é ingenuidade achar que líderes políticos ficarão sensibilizados com tais manifestações? O mais importante é afetar a sociedade, principalmente aqueles que vivem na bolha. As canções do filme dão uma nova dimensão às cenas. Eu particularmente gosto de filmes com bastante músicas. É claro que a inclusão das mesmas deva ser justificada. E que surpresa foi ouvir um idioma tão conhecido e era Bebel Gilberto! Perdi a concentração na cena. Bubble também está cheio de referências desde Sex & The City a Jules e Jim. Achei muito estranho quando o Noam diz que não conhece a Britney Spears mas estou percebendo o seu lado irônico já que os personagens conhecem muito sobre a cultura ocidental.

Vale muito a pena assistir a um lado tão diferente daquela região que não envolve atentados e conflitos, sem falar que é preciso deixar o preconceito em casa. O curioso é que o momento mais angustiante é quando Bubble começa a virar um Paradise Now e finaliza com uma versão moderna de Romeu & Julieta. Por isso este filme pode afetar bastante. É uma angústia que me persegue durante todo o dia.

Nota: 8,0

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Estrela sem brilho

Eu nem iria ver Stardust - O Mistério da Estrela porque só entrou uma cópia dublada. Mas como um colega disse que gostou e a sua namorada queria até ver de novo... Não vou dizer que achei um completo desastre porque gostei, pelo menos, da amarração entre os elementos da história baseada na graphic novel do Neil Gaiman que deve ser mais interessante do que a adaptação cinematográfica. Mesmo assim Stardust definitivamente não é para mim. Eu gosto de fantasias mas esta história da estrela cadante abusou muito da minha boa vontade e nem serve como uma grande aventura escapista. O romance é representado em diálogos enfadonhos onde o mocinho Tristan (Charlie Cox) diz que é capaz de atravessar o oceano parar pegar uma estrela cadente (Claire Danes) e assim provar seu amor pela bela amada (Sienna Miller). Stardust é despretensioso porque não tem batalhas grandiosas ou efeitos especiais alucinantes. E Matthew Vaughn dirigiu muito convencionalmente e com movimentos de câmera já manjados nos filmes do gênero.

A tal estrela vai ser perseguida por algumas pessoas, cada uma tendo sua razão. Já falei o motivo do Tristan. A Michelle Pfeiffer, uma bruxa velha, vai atrás pela juventude e os filhos do Rei (Peter O'Toole) de Stormhold vão pela disputa pois quem pegar a estrela será o novo rei. Tirando umas boas revelações do final, você sabe o destino dos personagens desde o começo então é só esperar o tempo passar para suas suspeitas se confirmarem. E como demorou para passar! Foram 130 minutos intermináveis. A primeira metade foi a pior parte porque é somente depois que surge o Robert De Niro, o salvador de Stardust com o seu Capitão Shakespeare. A mudança de clima que ele provoca é tão revigorante. Foi o antídoto para o sonífero. Embora o filme todo tenha um humor peculiar, só o De Niro me fez rir de verdade. A Michelle é quem se destaca depois dele, mesmo assim com um trabalho regular. Li um trecho de uma crítica em que o rapaz dizia que ela estava deliciosa. Acho, às vezes, que a dublagem pode interferir. Nunca esqueço da voz jovial do Anthony Hopkins num Silêncio dos Inocentes que assisti na TNT.

É mais fácil assistir um filme que começa ruim e melhora ou um que começa bom e piora? Eu prefiro a primeira opção que é o caso de Stardust. Quando digo que melhora, quero dizer que se torna mais assistível. Tem uma luta muito estranha onde o Tristan luta com um morto controlado via boneco pela bruxa da Pfeiffer (aprendi que a denominação "Vodu" para isto é invenção dos antigos filmes de terror). Normalmente muitas idéias do que vou escrever surgem durante o momento em que estou assistindo o filme. Com Stardust, esqueci quase tudo quando cheguei em casa. Queria comentar algumas frases mas não lembro. Fim.

Nota: 6,0

sábado, 10 de novembro de 2007

Excesso de fofura pode fazer mal à saude

Eu fiquei tão fascinado pelo trailer de Hairspray que perdi as contas de quantas vezes já assisti. Ele emanava uma ternura tão irresistível que mal pude esperar pelo dia em que iria vê-lo por completo. E tem que ter muita coragem para esperar um filme com a Amanda Bynes e o Zac Efron. O elenco todo é curioso mas quem rouba todas as atenções é a novata Nikki Blonsky que é um exagero de fofura, no bom sentido. A temática de Hairspray é universal, é aquela história de nunca desistir dos seus sonhos e lutar por direitos iguais. Não é tão "feel good movie" como Pequena Miss Sunshine, por exemplo, mas não deixa de levantar seu astral e não acho que ninguém vai acordar amanhã e sair alimentando os ratos da sua cidade. Spray de Cabelo deve ser o musical mais contagiante que já assisti. É uma avalanche de cores, penteados e energia. Vontade de levantar nos números e assistir dançando não faltou.

Baltimore. Década de 60. Tracy (Blonsky), filha da versão feminina do John Travolta com o Christopher Walken, sonha em participar de um programa de dança da TV local cujo lema é algo como "Falte a escola e venha fazer uma audição". Michelle Pfeiffer é a mãe racista de uma das dançarinas do programa e vai acabar com o do Dia dos Negros, a única chance no mês em que os jovens do centro da cidade - coordenados pela Queen Latifah - têm para se apresentar. Tracy será dispensada por ser gordinha mas em outra oportunidade conseguirá ser a estrela do programa. Esta é a primeira hora do filme que achei bem superior à segunda. É igual ao Dreamgirls, depois de um momento cansa e precisa ter um número final que compense. No caso de Hairspray, a compensação vem faltando alguma coisa. A divulgação da vencedora do Miss Teenage Hairspray é tão anticlimática mas não deixa de ser o grande momento do filme.

Amanda Bynes com seu pirulito está como sempre, isto é, péssima. Zac Efron, que só deve ter sido liberado pela Disney por seu papel não comprometer a imagem do astro, está mais ou menos assim como a Michelle Pfeiffer. O James Marsden (o Ciclope de X-Men) faz parte do grupo dos que estão ótimos. O Travolta está tão caracterizado que você esquece que o papel está sendo feito por um homem. No entanto, suas partes divertidas só funcionam justamente porque ele está transvestido. Nikki Blonsky é o grande brilho do filme. Suas performances são tão contagiantes que quando ela não está em cena, o filme perde muito. É bastante tocante quando ela vai à escola em cima do caminho de lixo no seu primeiro número musical. A Queen Latifah já é veterana neste gênero. Tem uma piada engraçada quando ela fala que sua casa parece os subúrbios por causa da quantidade de brancos.

Mas será mesmo que Hairspray serve como incentivo para aqueles que são "diferentes" e sonham com a fama? Eu consigo enxergar também este excesso de gostosura como um mundo tão distante que é inalcançável. O mundo em que você será a quantidade de spray que usa. Há uma parte em que o Christopher Walken fala algo assim "This is America, you gotta think big to be big". É nessas horas que a gente percebe que o musical é feito de americano para americano. Primeiro, usam o nome do continente para se referir à nação. Mas isto é tão comum que a gente nem liga, está nos noticiários, em todos os lugares e você não ouve a Inglaterra ou a França dizendo "Eu sou a Europa". Segundo, a frase deixa a entender que o sucesso só pode ser atingido na América (=EUA), a terra das oportunidades.

Esquecendo estes devaneios, Hairspray é delicioso e mostra que todos podem ver a luz no fim do túnel. Não é filme de auto-ajuda. A indicação ao Globo de Ouro para comédia ou musical já é certa, não? Ah, não é assustador que o filme seja dirigido pelo Adam Shankman de Um Amor Para Recordar? E por uma tremenda coincidência, antes de Hairspray, vi Hair, o musical de 1979, o belíssimo hino pacifista. Entre os dois, fico com os hippies.

Nota: 8,0

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Mãos e pés, para que te quero?

Vi mais um filme estrangeiro que praticamente não entrou em quase nenhum lugar ainda. Para ter uma idéia, Justiça A Qualquer Preço vai só estrear no Reino Unido em maio de 2008. Não sei se lançar um filme primeiro fora dos grandes circuitos é uma prática comum dos estúdios ou fui eu que nunca percebi isto porque sempre que vou assistir algo, já tenho alguma idéia baseada numa opinião alheia. Em relação ao Justiça, só tinha visto o trailer duas vezes. O filme está longe de ser ruim mas tampouco é uma maravilha. É um drama de investigação com o Richard Gere a e Claire Danes com doses de terror sobre maníacos sexuais.

Não sei exatamente o nome da profissão do Richard mas ele trabalha no Departamento de Segurança Pública e monitora ex-presidiários que foram condenados por crimes sexuais. Vai atrás deles para saber como anda a vida, se estão tendo recaídas, este tipo de coisa. Só que ele está se aposentando - forma delicada de ser despedido - e precisa de uma substituta (Claire Danes). Antes de deixar o cargo de vez, a dupla vai investigar o desaparecimento de uma garota porque o Richard acredita que o responsável é um dos seus "clientes". É uma espécie de treino para a Claire. O filme seria melhor se fosse mais instigante e tivesse menos aqueles cortes rápidos de imagem que tentam criar um clima sombrio. Só deixou seu lado de terror insuficiente. E as fotos de mãos e pés mutilados das vítimas não ajudam muito. A história ficou um pouco confusa, não consegui acompanhar todo o raciocínio da dupla. Os detalhes das subtramas me atrapalharam. Achei que o filme tinha durado duas horas mas só chegou a noventa minutos. E como cansa...

O Richard e a Claire tornam o filme assístivel. Na verdade, a película se resume aos dois. A Claire me pareceu muito frágil para ocupar o cargo do Richard. O elenco secundário está muito mal colocado. Há um rapaz chamado Russell Sams, o que bate na Avril Lavigne, que pareceu interessante em sua primeira cena mas ele praticamente some depois. Tem também uma moça chamada KaDee Strickland que está de razoável para péssima. Não sobra mais ninguém fora estes.

Olha só! Quando fui pesquisar os nomes dos dois atores secundários, descobri que chamaram um outro diretor que não está creditado para refilmar algumas cenas. Isto implica atraso nas datas ou lançamento direto em DVD porque o resultado não deve ter agradado aos executivos. Está explicado porque chegam antes por aqui. Nunca É Tarde Para Amar que também chegou antes é pavoroso. É melhor encerrar.

Nota: 6,0