terça-feira, 25 de março de 2008

Where the weak ones have no chance

Minha experiência com os irmãos Coen antes de Onde Os Fracos Não Têm Vez se resume a apenas três filmes: O Grande Lebowski (*****), Na Roda da Fortuna (*****) e Gosto de Sangue (****). Todos vistos em 2008 e os asteriscos são as notas que coloquei aqui no meu arquivo. Nada mal porque Fracos vai levar também 5 estrelas (e bem merecidas!). É o melhor filme que vi nos últimos seis meses. Uma excelente aula de cinema. A ansiedade era tanta que eu vibrei com os dois primeiros assassinatos do Javier Bardem que abrem o filme. Eu só estava um pouco preocupado por causa da polêmica sobre o seu final ser insatisfatório mas achei o roteiro brilhante. O final não é fácil mesmo. É o mais cru que lembro de ter visto num filme. Quem ficou com o dinheiro? Para mim foi o Josh Brolin. Não conheço o livro do Cormac McCarthy então só estou supondo. Ouvi uns chiados das pessoas no fim da sessão. A aparente ausência do destino dos personagens foge dos padrões mas acho isto atraente. Não vá esperando ver o xerife comemorando por ter colocado o bandido atrás das grades.

A história é sobre um caçador (Josh Brolin) que acha um belo malote de dinheiro e o assassino frio Anton “Sugar” Chigurh (Javier) é enviado para recuperar os dólares. Tommy Lee Jones é o xerife que segue os rastros de maldade deixados pelo Sugar. O espanhol Javier Bardem (Mar Adentro, Carne Trêmula) está assustador de verdade. E nem é por causa do cabelo. Sua personificação deste monstro já se imortalizou na história do cinema assim como Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes. Parece que estes dois vilões liberam o nosso lado sádico. Se você não tem este lado como eu, vai sentir da mesma maneira um certo prazer pelas maldades nas duas horas do filme. A única coisa que não gostei no Javier foi a sua voz de Darth Vader. O Josh também fez um trabalho expecional e ainda tem a Kelly Macdonald (que fez Trainspotting quando era novinha) como sua esposa. Não há o que reclamar do elenco individualmente e é melhor ainda quando estão contracenando. É uma maravilha ver os personagens serem construídos em camadas. O Javier atuando com o dono da loja, com o Josh, com a Kelly... Cada um deles representa uma camada que vai adicionando algo em nossa percepção sobre o Javier com o passar do tempo. Isto vale para outros personagens. Pegue todas as pessoas com quem o Josh Brolin atuou e você vai perceber também sua construção complexa. Só depois percebi que o Javier não matava todo mundo que cruzava o seu caminho. Normalmente ele costuma usar uma moeda para decidir. Parece absurdo mas se encaixa perfeitamente com sua mente psicótica. Alguns sabem domar a fera como a dona dos trailers e o Sugar a deixou viva sem consultar sua moeda. Mas no fundo eu queria que ele acabasse com ela. Há uma cena hilária de um grupo de mariachis cantando para o Josh, a fulga vai parar no México.

Deveria ser proibida a entrada de pessoas com alimentos barulhentos (=pipoca). Aquele longo e silencioso início no deserto do Texas ao som de crack-crack não é muito agradável. Aliás, o filme todo é assim seco, sem trilha sonora, lento. Eu achei fascinante esta narração árida quando vi A Criança dos Dardenne. Parece que tudo fica mais intensificado. Os momentos de suspense de Fracos são de primeira. Quem quase não teve um ataque cardíaco quando o Javier arromba a porta do quarto do Josh? Fracos explora um pouco de vários gêneros igualmente sem partir para um específico. É suspense, terror, ação, até lembra um filme noir. Nenhum estilo fica devendo ao outro. Perto dos Coen, os fracos não têm vez.

PS: Uma semana depois, descubro que entendi o filme todo errado.

Nota: *****

segunda-feira, 17 de março de 2008

Shiva, o Deus dos advogados honestos

Foi uma benção ter entrado Conduta de Risco, assim eu pude fugir de 10.000 a.C. já que a experiência só com o trailer dele foi sofrível. Conduta ainda não é o que mais quero ver e nem sei o que escrever sobre ele pra falar a verdade. Eu gostei mais ou menos porque achei confuso. As subtramas da vida do Michael Clayton (George Clooney) me atrapalharam. Não compreendi a história dele com o restaurante e nem com a família. Já a linha de desenvolvimento central foi mais fácil de seguir. Eu não gosto muito de filmes sobre advocacia, a área em si não me atrai. O lado bom é que Conduta não é um filme com cenas de tribunal como Um Crime de Mestre (se bem que gostei deste). Está mais para um suspense investigativo em vários momentos. Conduta serve melhor como instrumento para grandes atores mostrarem o que sabem fazer. As três indicações ao Oscar de atores são justificáveis.

George Clooney trabalha numa empresa de advocacia cujo objetivo é limpar a sujeira de seus clientes. Para entender até que ponto isto pode chegar, o Tom Wilkinson, um advogado também da empresa, foi à loucura após passar os últimos seis anos limpando o nome de uma companhia de produtos agrícolas acusada de utilizar substâncias cancerígenas. A Tilda Swinton (a feiticeira das Crônicas de Nárnia) é uma espécie de conselheira da companhia em questão. Os melhores momentos de Conduta são quando estes três atores estão se confrontando. Os diálogos são bastante afiados e aquela narração do Tom Wilkinson logo no início já prova isto. Foi dele que eu gostei mais. Tendo assistido este filme agora, eu nunca apostaria na vitória da Tilda para atriz coadjuvante. Ela tem uma presença de cena incrível mesmo só enxugando o suor das axilas. Queria que seu personagem tivesse uma participação maior.

Conduta foi escrito e dirigido pelo Tony Gilroy (assumiu a direção pela primeira vez e muito bem) que também trabalhou nos roteiros da trilogia Bourne (!). Em relação ao roteiro, só não gostei da criação de um clima de suspense na cena com o rapaz instalando uma bomba no carro do Clayton. O Clooney vem se aproximando e será que o rapaz vai sair do carro a tempo? É claro que vai! A cena já foi mostrada no começo do filme.

Que interessante! Acabei de ler uma sinopse do filme que esclareceu todas as minhas dúvidas. É óbvio que não irei mudar o meu primeiro parágrafo.

E para terminar este post que escrevi só para arquivar Conduta de Risco, assisti também No Vale das Sombras do Paul Haggis. O filme não é ruim mas não merece um texto. Quero ver o que entra na próxima semana.

Nota: ***

terça-feira, 11 de março de 2008

A pipa do vovô não sobe mais

A adaptação de O Caçador de Pipas deve ser a maior de um best-seller depois de O Código Da Vinci. A diferença é que o Caçador não poderia gerar um blockbuster. E isto explica a passagem discreta dele pelos cinemas. Algumas pessoas que conheço amaram o livro, outras nem tanto. Fui para o filme conhecendo o básico: dois garotos e amigos afegãos vivem felizes em Cabul nos anos 70, algo irá romper a amizade, um deles foge para os EUA com o pai, etc. É uma pena dizer que odiei quase tudo neste filme e nem é por ele ter sido o responsável por eu ter perdido a liderança num bolão do Oscar. E fui com tanta boa vontade assisti-lo! Deve ser difícil fazer uma amizade honesta entre duas crianças sem adicionar pieguices. Para mim ficou bonitinho demais. Lembrei agora daquele A Cura com o Brad Renfro que está descansando em paz. Ou não. Prefiro a amizade destes dois de A Cura do que a do Amir e Hassan no Caçador. Por enquanto, esta é a parte feliz da história. O lado delicado vem com um bully (valentão) que atormenta o Hassan por ele ser um hazara. Não tem toda aquela segregação étnica mostrada em Hotel Ruanda? Aqui é parecido, só que sem as guerras civis. A discriminação só ficava nas palavras (pelo menos é o que está no filme).

Mesmo com campeonatos de pipas, idas ao cinema e declarações quase amorosas (juro que não estou sendo maldoso porque se eu acredito na pureza da amizade dos hobbits da Terra-Média, não tenho motivo para fazer piadinhas com os afegãos) de um garoto para o outro, um mal estar vai destruindo a relação deles. Até agora eu não consegui entender a razão que levou ao rompimento. E não fui só eu! Pude ouvir as conversas de pessoas que perguntavam ao vizinho por que os garotos agiam daquela forma. Às vezes, eu nem sabia quem era o Amir e o Hassan, quem era o filho de quem. O Amir ficou decepcionado porque o colega preferiu ser fiel e acabou sendo estuprado? E por que o próprio Amir não interveio e impediu os valentões? Não dá para negar que é arrasador quando vemos o Hassan assumindo o roubo do relógio que ele não cometeu mas eu não conseguia acompanhar tais atitudes. Pode ser lerdeza minha. Parece que o roteiro não quer perder tempo moldando o caráter dos personagens.

Há duas cenas que considero marcantes durante a infância deles. A primeira é o estupro do Hassan que eu não fiquei chocado, só aquele sangue pingando na neve enquanto o garoto caminhava é que me causou um pequeno impacto. O curioso que não foi por pena dele e nem por raiva do bully. Como posso sentir raiva de um personagem mal construído que já entra em cena implicando? A outra cena marcante é quando o Amir fica jogando os tomates no Hassan pedindo para ele reagir e tudo o que este consegue fazer é esfregar um tomate na própria cara. Foi o momento mais sensível de todo o filme e o único que considero verdadeiro. O problema é justamente querer ser sensível demais. Parece que quer forçar o público a se comover. Em algumas cenas eu imaginava um letreiro gigante sobreposto piscando "CHOREM! CHOREM!". É claro que não estou menosprezando os horrores pelos quais estas crianças passaram. Só acho que para transformar isto num filme não precisa de exageros melodramáticos. Pois bem. Após humilhações e traições, os garotos perdem o contato. E com a ocupação soviética, Amir e o pai são obrigados a fugir do Afeganistão e vão para a América.

Começa a vida adulta do Amir (que é um dos terroristas do EXCELENTE Vôo United 93). Não tem muito o que falar sobre esta parte. Ele termina uma faculdade, se casa com a filha de uma família de afegãos que também vive na Califórnia e se torna escritor. Não dá para deixar de notar as tradições de repressão contra a pobre moça. Era só um aperitivo do que estaria por vir quando Amir volta a sua terra natal. Achei bem desnecessária a cena em que o pai dele sai do consultório porque o médico é russo. Eu só ri porque fui influenciado pelos outros. A pior parte vem a seguir quando Amir recebe um telefonema que o faz voltar ao Afeganistão em 2000.

O regime talibã está tomando conta do país. Então, a princípio, Amir vai ao Paquistão. É só colocar uma barba e um turbante que os talibaneses permitem a entrada no Afeganistão. O motivo da viagem de Amir logo ganha um novo sentido quando um segredo é revelado, digno de qualquer novela mexicana. Imagine quando Guadalupe conta ao seu filho Pedro Daniel que Jorge Luiz não é o seu verdadeiro pai. Amir é obrigado a repensar em tudo de mal que causou ao amigo de infância. A mensagem moralista da história é que nunca é tarde para se redimir. Somos obrigados a aturar isto por longos minutos enquanto vemos Amir em várias situações que o fará “corrigir” os erros do passado. As cenas de agressões físicas, perseguições e tiroteios não se encaixam na proposta do filme. Agora o pior momento de todos é a cena do apedrejamento da mulher adúltera para mostrar os horrores do regime talibã. Por que ela está lá se todos já conhecem os absurdos pregados por estes radicais extremistas? Se o filme não vai condenar, ela nem precisa estar lá. Também não está defendendo as práticas. Acredito que ser neutro é motivo de orgulho para o regime fundamentalista.

Nem vou mencionar o elenco do filme, olha o nome de um dos atores: Sayed Jafar Masihullah Gharibzada. Mas vou colocar os principais nos marcadores como sempre. A adaptação foi dirigida pelo Marc Forster de A Última Ceia e Em Busca da Terra do Nunca. Ainda não vi ambos. Eu tenho um certo fascínio pela região desértica do Oriente-Médio e com a ótima trilha sonora do filme dá para apreciar alguma coisa que não teria como somente lendo o livro.

Nota: ***

quarta-feira, 5 de março de 2008

Versão feminina de Ligeiramente Grávidos

Eu achei que fosse gostar bastante de Juno devido ao que aconteceu com Pequena Miss Sunshine em 2006/2007. Eu sabia que eram histórias distintas mas ambos foram distribuídos pela Fox Searchlight Pictures, tiveram um excelente desempenho nas bilheterias, foram um sucesso de críticas, receberam um Oscar pelo roteiro original e ganharam como melhor filme no Independent Spirit Awards. Como sou muito fã de Miss, estive empolgado durante meses por Juno. Pois é, não vi nada de mais nesta história da garota grávida. Não é que eu não tenha gostado de nada, apenas devo esquecer de tudo (exagero?!) nos próximos dias mesmo com aquela música chiclete da abertura. Não me causou nenhum impacto.

Juno (Ellen Page) é uma garota diferente de todas as outras. A gente está cansado disso, não? Acho que a personagem funcionou pelo ótimo trabalho da Ellen (eu nunca lembraria que ela esteve em X-Men). Sua Juno é carismática até a alma e acredito que o sucesso de público do filme foi ocasionado pela atriz. É maravilhoso como ela reflete a inocência e a maturidade nunca única pessoa. Mas não gostei de tudo nela. Certo dia ela resolve transar com seu melhor amigo/namorado (é um relação confusa mas simpática) e fica grávida. O garoto é feito pelo Michael Cera de Superbad. Ah, essa foi mais uma razão para assistir Juno. Estava ansioso para ver qualquer um da dupla de amigos num novo trabalho. Só que o Michael aqui não tem muito o que fazer.

Então Juno percebe que não tem coragem para fazer um aborto e decide ter o bebê para dar a um casal que não pode ter filhos. Jennifer Garner e Jason Bateman (da série Arrested Development) fazem o casal. Não sei se fui eu que não entendi os seus papéis mas eles me incomodaram do começo ao fim por não ter a certeza do porquê eles querem tanto o bebê da Juno. Juro que ainda acho que a Garner poderia ser chefe de uma quadrilha de tráfico de crianças. Não dá para entender se o que eles falam é verdade. Eu não confiaria nunca neles.

Não entendo porque todo este alarde em relação a Diablo Cody, ex-stripper que escreve um roteiro e ganha um Oscar. Qual é o problema em ter trabalhado (ou trabalhar) com sexo? Eu acho a Bruna Surfistinha inteligentíssima. Desde quando esta atividade é falta de inteligência por assim dizer? Aí eu me pergunto também se a Diablo foi premiada pela Academia porque sua protagonista desiste de um aborto. O prêmio de roteiro original era dela antes mesmo do anúncio mas parece que Juno dura mais de três horas.

Se eu tiver que destacar mais alguém do elenco além da Ellen, eles devem ser o J.K. Simmons, pai, e a Allison Janney (único trabalho no cinema em 2007 foi Hairspray), madrasta, da Juno. Gostei de como eles reagiram à gravidez dela e do ambiente familiar “esquerdista”. A cena em que eu mais entendi a Juno é quando ela brinca com um carrinho sobre o seu barrigão. Aparentemente é uma cena comum mas eu a classificaria como definitiva.

Eu defendo Juno (direção do Jason Reitman do ótimo Obrigado Por Fumar) apenas como um filme despretensioso e até divertido. Querer elevá-lo a um certo patamar de glorificação é exagero.

Nota: ***