quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Qualquer recuperação é viável

Mais um filme nacional está fazendo bonito nas bilheterias brasileiras. Permanecer três semanas em cartaz aqui em Maceió e com sessões bem cheias é um grande mérito. Eu já tinha gostado do trailer de Meu Nome Não É Johnny antes. Agora que vi o produto completo, posso afirmar que é melhor ainda. A história baseada em fatos reais - a grande propaganda do filme está justamente na divulgação de que é uma história verídica - conta a vida de João Guilherme Estrella, rapaz da classe média carioca que se tornou o maior comerciante de drogas do Rio entre os anos 80 e 90, foi julgado e reintegrado à sociedade em 1997. Hoje trabalha como cantor, produtor e compositor de música. João tem até dado umas entrevistas recentemente por causa do filme. Por não fazer julgamentos e não querer dar lições de moral, gostei bastante do filme. Até porque o João não é retratado como um dependente químico, ele foi usuário também mas entendi que o vício não chegou a se tornar um problema. Enquanto Trainspotting e Réquiem Para Um Sonho (meus preferidos sobre drogas) focam o consumo, Johnny destaca o comércio então não o vejo tanto como um trabalho educacional. Johnny trata mais de assuntos como a situação do sistema carcerário, policiais civis corruptíveis e de uma possível facilidade em comprar o pózinho branco.

O filme começa bem chatinho com a infância e adolescência de JGE mas felizmente acho que nem chega a durar quinze minutos. Já crescido, Selton Mello entra em ação encarnando o protagonista. Ele não trabalha, só vive de festas em seu apartamento onde as substâncias ilícitas são permitidas, tem um pai doente, a mãe (Júlia Lemmertz) foi embora... Um certo dia, Johnny tem a chance de negociar com um fornecedor e acaba levando jeito para a coisa. Quando seu primeiro fornecedor é preso, de quem ele vai pegar agora? Da Eva Todor! São situações assim que vão impulsionando o filme porque, no fundo, a maior parte dele é uma grande diversão. Não é tão divertido como pretende ser mas há realmente alguns momentos hilários. A fama de Johnny vai se espalhando e os negócios vão se tornando mais lucrativos chegando a ter compradores estrangeiros. Não sei se é a vida que ele sempre quis, mas com certeza é uma etapa de onde ele quer tirar o maior proveito. Cléo Pires faz sua namorada mas não é uma parceira de crime, apenas testemunha e consumidora. A Cléo está melhor do que eu esperava, talvez seu personagem tenha ficado um pouco nebuloso. Será que ela amava de verdade o João ou só queria torrar a grana em Barcelona e Veneza? O elenco coadjuvante está excelente. Há muitos desconhecidos e a Cássia Kiss que faz a juíza que decidirá o futuro de JGE após ele ter sido convidado a ver o sol nascer quadrado.

O drama deixa de lado as razões que o levaram ao envolvimento com as drogas. Entendi que ele se envolveu porque quis sem nenhuma pressão exterior. A gente vê um certo desequilíbrio familiar no começo mas acredito que não seja justificativa. Isto me lembra o irregular Aos Treze com a Evan Rachel Wood que prega o contrário: a falta de uma estrutura familiar é o fator responsável pelo "mal comportamento" dos nossos adolescentes. Ainda bem que Meu Nome Não É Johnny não explora nada disso, João nem é rebelde. Está mais para vendedor de peixe. É sério! Abriu uma peixaria e vendia os bichos recheados.

Quando Johnny é preso, pode parecer que o filme perderá o ritmo mas isto não acontece. Algumas cenas no presídio e no hospício parecem fictícias mas o que importa é que o público se divertiu bastante. Acho que estão lá só para criar um equilíbrio com o tom mais sério do descaso com os detentos e da superpopulação. Não pude deixar de notar que o João era o único branco na cela e ali do lado havia a cela só para africanos. Será que precisava disso? As cenas das audiências estão ótimas graças as atuações de Cássia Kiss e Selton Mello. O momento mais terno é quando ele desabafa dizendo que desconhecia o que é fora e dentro da lei (é marcante no trailer). A juíza feita pela Cássia é a autora da frase exibida no final que resume tudo o que acabamos de assistir. Ela diz que o caso do João Guilherme mostra que qualquer recuperação é viável. Outra grande cena é ela em seu apartamento refletindo sobre a sentença. Direito pode ser uma ciência exata? Eu acho assustador o destino de alguém estar nas mãos de uma determinada pessoa.

Mauro Lima assumiu a direção desta produção baseada no livro de mesmo nome. Ele foi o produtor de Lisbela e o Prisioneiro que também tem o Selton e dirigiu anteriormente Tainá 2. Ainda é um novato no ramo e teve seu nome mais exposto agora devido à história de Johnny Starr.

Nota: ****

Um comentário:

Anônimo disse...

gostei e adoro o selton

Lu