sábado, 22 de setembro de 2007

A Caveira da Pirataria

Acabei de assistir Tropa de Elite, o filme #1 da lista dos mais vendidos nas barraquinhas populares de todo o país. Só para esclarecer, eu nem sei de quem era o disco mas estava a minha disposição e não hesitei. Não me orgulho de já ter assistido até porque irei vê-lo no cinema novamente. Não tenho problema algum em dizer que faço questão de pagar o ingresso e sou cliente assíduo da locadora. Sou colecionador de DVD e só tenho original. Nunca um filme nacional foi "comercializado" antes do seu lançamento e a situação cresceu de tal forma que só vem aumentando sua popularidade. É o filme brasileiro mais polêmico do ano, teve sua primeira exibição oficial na abertura do Festival do Rio e, acredito eu, terá o maior número de espectadores depois de 2 Filhos de Francisco mesmo com a pirataria. É claro que o fato de terem divulgado que a versão pirata não seria a definitiva não vai ser o responsável pelo sucesso do filme porque o resultado final só tem 4 ou 5 minutos a mais. E parece que o desfecho é diferente? Evitei entrar em detalhes. Tropa de Elite (ou Elite Squad como será divulgado internacionalmente, a versão do DVD já vem até com as legendas existentes em inglês) seguirá os mesmos caminhos de Cidade de Deus e Carandiru, ou seja, será sucesso garantido.

Com cenas de violência repulsivas, Tropa mostra a corrupção da polícia militar e o desafio do BOPE contra os traficantes das favelas do Rio de Janeiro. O roteiro está bem estruturado e teve contribuição de Rodrigo Pimentel que já foi capitão do BOPE. Tal posto é assumido pelo Wagner Moura que busca um policial capaz de ocupar o seu cargo ao mesmo tempo que dois aspirantes com linhas de raciocínio distintas iniciam suas atividades. Achei que o José Padilha não conseguiu atingir o ponto perfeito de realismo em todas as cenas. Enquanto alguns momentos são absurdamente realistas principalmente pelo trabalho impressionante do Wagner, outros pecam pela falta deste elemento talvez pela inexperiência do elenco coadjuvante jovem. Coincidentemente, a edição de hoje de um jornal local trouxe em sua matéria de capa uma manchete sobre o abuso de poder do BOPE. Tal questão sobre autoritarismo também é abordada no longa através de uma discussão numa faculdade de Direito que é frequentada por um dos policiais aspirantes. Eu gostei do conflito psicológico ao qual este policial será submetido e da parte em que ele espanca o rapaz no protesto burguês contra a violência. Mas a gente pode pensar que o filme é do ponto de vista da polícia e, de fato, é. Só que ela não sai bem na fita por causa dos acordos com os traficantes e do treinamento humilhante para se tornar um combatente da Caveira, por exemplo.

Tropa tem um apelo para um público de faixa etária bastante variada. Nas cenas de tiroteios, eu só lembrava dos psicóticos de lan house que viram a noite no Counter Strike. O filme é um prato cheio para eles e ainda está recheado de palavrões e torturas. Mal posso esperar para vê-lo novamente na tela grande e espero compreender alguns diálogos que não consegui entender. Parecia outra língua.

Nota: 8,5

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

David Morse como vizinho? Deus me livre!

Por alguma razão que eu não mais lembro, fiquei com vontade de assistir Paranóia na época em que ele estreou nos Estados Unidos há uns meses. Quando finalmente entrou nos cinemas daqui, onde foi parar meu interesse? É sério, só fui ver mesmo por "obrigação". Devo ter me empolgado porque ele recebeu críticas favoráveis e diziam que era protagonizado por um jovem astro em ascensão que eu nunca tinha ouvido falar, um tal de Shia LaBeouf. Só que Transformers, cujo trailer eu odiava cada vez mais que passava, chegou antes no país e também tinha o tal do LaBeouf. Minha implicação com ele começou por aí. Descobri agora que sua carreira um pouco discreta até então já vai fazer dez anos e ganhou um prêmio em Sundance no ano passado. Iremos vê-lo bastante ainda. Indiana Jones em andamento, não é?

Então fui assistir a Paranóia do LaBeouf sem esperar nada. E ainda bem! Assim foi mais fácil suportar o primeiro terço do filme que eu odiei pra valer. Não quis acreditar que teria que ver drama adolescente antes. O suspense demoraria a vir. O Shia é o típico adolescente descolado americano e usa camisa dos Ramones com a cueca aparecendo. O filme começa com ele e seu pai numa pescaria, aquele blá blá blá para se divertir e conversar certos assuntos sem a presença da mãe (Carrie-Anne Moss). Eles se envolvem num acidente na volta para casa e o pai morre. O Shia ainda está arrasado um ano depois. Ele nem consegue prestar atenção nas aulas de espanhol e o seu professor acaba fazendo um piadinha. Shia dá um soco nele e irá passar três meses em prisão domiciliar com um localizador GPS no tornozelo que o impede de sair de casa. A mãe cancela as contas dele do X-Box e do iTunes e ainda corta o cabo da TV para ficar sem pornografia. O que fazer agora? Exercer seu voyerismo, ué, e melhor ainda, com a nova vizinha loira gostosa. Observá-la nadando na piscina, fazendo alongamentos... o que há de melhor? Sem contar que o Shia é um bom camarada porque vai dividir a visão da loira com seu amigo tarado japonês que vem visitá-lo. A garota ficará amiga da dupla e os três começarão a observar um vizinho que acham ser o responsável pelo desaparecimento de mulheres.

Começou o suspense. E mesmo assim é aquele estilo desgastado. Em um momento a música vai aumentando, algo terrível vai acontecer, o público vai se assustar. Ah, alarme falso. Mas ainda tomei dois grandes sustos. Um foi quando a Carrie-Anne aparece atrás do Shia. Mas como o filme não mete medo, dez segundos depois eu estava rindo por causa do susto. O melhor momento foi quando a câmera se aproximou do vizinho suspeito revelando que era o David Morse!! Eu, pelo menos, só percebi que era ele neste momento. Havia uma comunidade no orkut de pessoas que morriam de medo dele e a descrição era muito divertida. Tá, o David dá medo no filme mas é só ele. O segundo grande susto que tomei foi justamente quando ele apareceu na frente do carro da vizinha loira no estacionamento do supermercado. O clímax acontece numa casa escura com o Shia andando devagar, investigando o lugar, abrindo passagens secretas. Há relâmpagos do lado de fora. A gente sabe o que vai acontecer. Não digo que é filme de Sessão da Tarde porque tem um dedo no final mas é de Tela Quente. E, é claro, o protagonista pega a vizinha no final. Eu gostei quando ele explica porque observa os vizinhos dizendo que é para entender a vida, etc. Pensando melhor depois, vi que ele é um grande mentiroso. O que é que se tem para entender vendo a moça nadando na piscina, hein? O único momento em que me identifiquei com ele foi quando a garota ameaçou jogar o iPod dele na piscina e ele disse que iria perder 60 GB de sua vida. E falando em tecnologia, foi a primeira vez que vi o YouTube sendo mencionado no cinema. Paranóia não funciona como drama e nem comédia. E ainda insiste em tirar sua atenção com aqueles microfones que não param de aparecer no topo da tela.

David Morse é o destaque do filme. Foi a primeira vez que vi o LaBeouf atuando e achei que fez bem o que tinha que fazer. É um papel que qualquer um de American Pie faria sem problemas. Vamos esperar para algo mais sério no futuro o que deve demorar. Sem maldade, é impressão minha ou a Carrie-Anne não entraria mais nas roupas de látex da Trinity?

Nota: 6,0

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Se minha patroa tivesse um amante...

Fiquei com muita vontade de ver Primo Basílio quando assisti o trailer antes dos Simpsons. E felizmente entrou em cartaz aqui. Eu não vi nada novo na semana passada porque não soube qual era o menos pior: Licença Para Casar com a Mandy Moore ou A Volta do Todo Poderso. Na dúvida, fiquei em casa. Em compensação, assisti no feriadão um dos filmes de 2006 que eu mais queria ver e ainda não vi. O Prestígio (também conhecido como O Grande Truque). Dreamgirls, Filhos da Esperança e O Labirinto do Fauno são os restantes da lista. Vamos ao primo, adaptação do romance de Eça de Queiroz. Gostei muito até uma certa parte que corresponde um pouco mais da primeira metade. Depois exploram outros aspectos que tiram o charme da primeira metade que é a infidelidade e deixam o filme interminável. Acho que até ri onde não deveria.

O elenco Global da vez fica por conta de Débora Falabella e Reynaldo Gianecchini que fazem o casal romântico no final dos anos 50 que prega a fidelidade acima de tudo. Fábio Assunção é o primo e futuro amante da Débora. O casal ainda tem duas empregadas protagonizadas por Glória Pires e a sempre ótima Zezeh Barbosa. Laura Cardoso que eu pensava não estar mais viva ainda faz rapidamente duas cenas. A história é mais ou menos assim. Basílio (Assunção) chega em São Paulo da Europa. Ele e Luísa (Falabella) irão começar um ardente relacionamento enquanto seu marido está em Brasília trabalhando. Juliana (Pires) descobre a traição da patroa e usará isto para tirar dinheiro e ter uma aposentadoria decente. Na verdade, é mais uma vingança porque Juliana foi sempre maltratada por Luísa. O que gostei começa quando o filme deixa o público ansioso pela traição. A Débora sempre parece tão novinha e já está chegando aos 30. Acho que ela representa o desejo erótico do público feminino de ter o Fábio Assunção. E como o Gianecchini está fazendo um sotaque muito irritante, será mais fácil suportar o Assunção mesmo com seus verbos em segunda pessoa do singular. As cenas de amor entre os primos é de um erotismo belíssimo e intenso. Você sente as pessoas ao seu redor sem respirar. Os únicos momentos em que achei a Débora exagerada foram nas cenas em que ela se irrita com a Glória. O inverso se tornaria divertido depois. Há anos que eu parei de assistir novelas e Primo Basílio me fez relembrar aquela época. Há algumas características de dramalhões. A descoberta da traição pela empregada seria como o assunto dos próximos capítulos. A chantagem está no ar.

Quando Gianecchini volta de viagem (sem sotaque!) e o Assunção volta para a Europa, o filme se perde um pouco. A relação com o amante era muito mais interessante do que com o marido. As cenas em que a Glória dava o troco na Débora, pelo menos, quebravam o clima maçante. Eu posso estar exagerando mas acho que demorou muito para sabermos se o marido iria descobrir a traição. Era a única coisa que o público queria saber depois do seu retorno.

Eu fiquei impressionado com o número de idosos na sala. Acho que para eles era como estar em suas residências assistindo a novela das oito. Foi muito simpático quando três senhoras de cabelos brancos entraram, andando devagar até acharem onde sentar. As freguesas do Baú merecem um momento de diversão.

Nota: 7,5

sábado, 1 de setembro de 2007

Bourne > Hunt + McClane + ... + Bond

Elogiar O Ultimato Bourne é quase uma redundância. A série foi finalizada com chave de ouro e mostrou como é possível fazer um filme de ação respeitável. Dizem até que Ultimato define o novo padrão para os futuros filmes de ação. Minha admiração começou há poucos meses quando aluguei Identidade e Supremacia. Dias depois, eu confesso, não lembrava mais tanto da trama. Mas e daí? O filme não vai deixar de ser ótimo por eu não lembrar das pessoas que o Jason matou ou das suas missões. Se você lembra da informação básica e dos personagens principais então está apto a ver Ultimato sem se perguntar o que está acontecendo. Naturalmente há pedaços do quebra-cabeça faltando mas é só assistir os anteriores de novo que resolve.

Matt Damon retorna no papel para descobrir o que o levou a se tornar Jason Bourne. Dizer que sua falta de memória é psicológica não estraga nada porque se você já conhece a essência da história, nenhum desfecho será mirabolante. Jason não seria tampouco fruto de experiência científica. Acho incrível como aqui as cenas de ação não são aleatórias, elas definem o protagonista. Finalmente assisti a trilogia Missão Impossível no último fim de semana e chega um momento em que você não aguenta mais o Tom Cruise batendo nos vilões. É barulho e pancadaria gratuita. A direção de Paul Greengrass que também dirigiu Supremacia dá um charme a todas aquelas perseguições automobilísticas, por exemplo. E o Jason é muito criativo na hora das pancadas. O que dói mais? Bater com o punho diretamente no rosto do adversário ou apoiar um livro no rosto dele e socar o objeto? Acho que sem o livro machuca mais. No entanto, Jason usa o livro. Mas a gente perdoa. Sua indestrutibilidade pode ser divertida para alguns mas a maturidade da franquia anulou qualquer riso meu nas cenas que possam ter parecido exageradas. Roteiro, edição e trilha sonora tornam a experiência mais agradável ainda. Sou agradecido principalmente pelos efeitos sonoros e trilha que silenciaram um grupo de adolescentes que só tinha ido para pertubar, pessoas com distúrbio de insegurança que precisam mostrar aos outros sua existência. Foi a pior platéia que já peguei e justamente na minha volta a uma sala de cinema do Shopping Iguatemi. A última vez que estive lá foi há uns 10 anos para ver O Exorcista quando foi relançado e espero agora vencer a preguiça de ir lá e aproveitar os filmes que só entram ali. O próximo passo será o Cine Sesi que é onde entram os filmes fora do circuito comercial.

Todo o elenco está muito bem, até a Julia Stiles com sua inexpressividade. É a mesma cara nos três filmes e isto já estava me incomodando um pouco. Ela deu uma entrevista ao David Letterman para divulgar o filme que foi muito divertida. A partir daí, eu comecei a me interessar mais pelo seu trabalho e excluindo a série Bourne, O Sorriso de Mona Lisa é o único filme com a Julia que eu já assisti. Nem lembro do seu papel nele. Então por causa desta entrevista, fiquei ansioso para vê-la no Ultimato. O seu momento mais marcante é quando ela encerra o filme dando um sorriso vendo a notícia sobre o Jason. Fiquei grudado na poltrona em estado de graça por um tempo. Eu queria somente um sorriso dela. Foi explicada a razão por ela vir ajudando o Bourne? Ela gostava dele, só pode. Achei que ela seria namorada do Jason antes de ficar desmemoriado. Se bem que esta informação também não é negada. Acho que prefiro a Franka Potente como parceira de crime dele. Mas como ela não pode voltar do mundo dos mortos... Falando nela, o Daniel Brühl (Adeus, Lênin e Edukators) faz o seu irmão numa aparição relâmpago. Só posso imaginar a função daquela cena. O meu momento preferido do Matt Damon é quando ele fala para o Noah Vosen (não lembro qual é o seu cargo na CIA mas é aquele que quer destruir o Bourne) que se ele (Noah) estivesse no escritório, ele (Jason) estaria cara-a-cara com ele (Noah). Não faltou vontade de levantar e gritar.

Se Ultimato não fugir à regra, devo esquecer a trama nos próximos dias mas a memória de que é algo extraordinário não se apagará.

Nota: 9,5