domingo, 28 de junho de 2009

O que importa é ser feliz

Como esta semana não tem nada atraente nos cinemas aqui, vou falar de um filme que vi há quase duas semanas chamado De Repente, Califórnia. Eu adoro o cinema alternativo, entendo isto como aquele filme que nunca vai ser distribuído amplamente pois não há público para ele e sua exibição fica restrita a poucas sessões porque aborda temas que não combinam com o gosto da turma da pipoca. Prefiro enfrentar dez sessões deste Califórnia do que uma do novo Transformers. E também resolvi falar dele porque fiquei chocado com ódio das pessoas em relação ao Perez Hilton por causa do incidente violento com o Black Eyed Peas. A agressão que ele sofreu não tem nada a ver com o filme mas como eu acredito que sua opção sexual seja um dos motivos de tanto ódio, lembrei de Califórnia que fala de homossexualidade.

A história é sobre um jovem de uma família disfuncional que está em crise com a namorada e passa a se questionar quando conhece o irmão gay do seu melhor amigo. Além disto, é surfista, quer entrar numa escola de artes e passa boa parte do seu tempo cuidando do sobrinho pequeno. O filme é muito irregular pois seu roteiro trilha um caminho que se perde nos exageros. O seu final feliz não soa tão feliz quando comparado aos acontecimentos da última parada em São Paulo. O diretor e roteirista Jonah Markowitz parece não enxergar a realidade lá fora. Mas eu até entendo sua postura porque Califórnia é, acima de tudo, um filme para dar esperanças a uma minoria que vem lutando pelos seus direitos. Por este lado é totalmente válido, como obra cinematográfica nem tanto.

Esta é a primeira vez que o Jonah dirige um longa-metragem embora seu currículo é vasto por trabalhos no departamento artístico de vários filmes dentre eles Jogos Mortais, Rocky Balboa e Alpha Dog. Sua experiência nesta área é explorada em Califórnia com bastante talento desde a fotografia das cenas com mar e praia até a direção de arte das locações externas. Como não conheço muitos filmes do gênero, não posso comparar a história de Califórnia com outras. Mas fico com a impressão de que ela foge de certos padrões e assim mostra uma nova perspectiva de um assunto que é normalmente mal retratado. Por exemplo, o melhor amigo do protagonista é hétero e o comedor da região. Se a gente pensa no senso comum, ele deve ser homofóbico por tabela. Só que não, pelo contrário! Mas sabemos que é uma situação mais fácil de ocorrer só na ficção. É nobre mesmo assim a tentativa do autor.

Muitas vezes a narração é interrompida para mostrar cenas de surf com uma bela canção, é como se faltasse assunto. A verdade é que nem me incomodei com isto. Mas achei desnecessário que, num filme sobre homossexualidade masculina, as duas únicas mulheres da história sejam as antagonistas. Quer dizer, só uma delas porque a outra toma uma atitude lá depois da metade que gostei bastante. E no começo esta só serve mesmo como pedra no caminho do protagonista. De Repente, Califórnia ganhou vários prêmios em festivais especializados e seu maior valor está na intenção do diretor de fazer um filme que preza pela simplicidade e transmite uma sinceridade tocante.

Nota: ***

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Eles comem e elas dão

Eu acreditei que A Mulher Invisível tivesse conteúdo. Fui, inclusive, com certa empolgação prestigiá-lo. E não demorou muito para eu começar a sentir vergonha de mim mesmo. Onde eu tinha me metido? O filme não passa de uma sequência interminável de gags físicas do Selton Mello e uma exibição gratuita do corpo quase nu da Luana Piovani. Até a Fernanda Torres, que quando faz comédia num ótimo filme como Saneamento Básico está fabulosa, não se salva aqui. Para não ser completamente injusto, foi a Fernanda quem salvou uma das cenas finais no restaurante. Mas isto não quer dizer grande coisa porque ela passa o filme todo somente dizendo que a irmã deve dar para o vizinho. É assim mesmo com esta linguagem. As mulheres dão e os homens comem para se referir ao sexo. O público morria de rir quando os personagens falavam deste jeito. O Vladimir Brichta de quem gostei muito em Romance está extremamente detestável em Mulher Invisível fazendo um tipo ultra machista. Aliás, o filme todo é machista mesmo que a personagem da Luana tente convencer o contrário. O Selton pode comer todas sem ser condenado enquanto a sua vizinha solitária é crucificada por ter cometido um "adultério".

A história é a seguinte. O Selton é um homem apaixonado que fica louco após ser deixado pela companheira que o traía com um alemão (aqui o adultério não é condenado porque deve ser cômico). Toda esta cena inicial é bem previsível. A sua situação chega ao ponto de ele criar uma mulher ideal para curar a solidão. E o seu conceito de mulher ideal é: limpar a casa de quatro para ele de calcinha e sutiã e gostar de ter sido violentada pelo padrasto na infância. Um horror, não? Não é só o texto do Cláudio Torres (de Redentor que nunca vi e irmão da Fernanda) que possui estas barbaridades. A sua direção é do mesmo jeito. Numa cena em que o Selton e a Luana contracenam, ele está de frente para a câmera ao fundo no enquadramento e ela só de costas e próxima da câmera, o detalhe é que somente suas pernas são focalizadas porque sua função é servir de adereço naturalmente. Não é surpresa que a Luana não tenha nenhuma cena de nudez, seria inaceitável (=chocante) para os princípios do público alvo do filme.

O roteiro é muito fraco. São tantos marabalismos para separar o Selton da vizinha. Para que isto se sabemos que ficarão juntos no final? Imagino que seja para testar a nossa paciência. E quando achei que o filme iria acabar, ele estava chegando na metade. Foi um sofrimento terrível ter que suportar o restante. As pessoas ficaram quietas também por um tempo porque a Luana aparentemente finaliza sua participação e o Selton não iria fazer mais suas gags. Eu sempre achei que se podia tirar algum proveito até dos piores filmes. Depois de Mulher Invisível, eu mudei de opinião. Eu devia ter seguido a minha primeira intuição quando descobri que o Marcelo Adnet fazia parte do elenco. Ele tem aquele programa na MTV chamado 15 Minutos que nunca consegui ver mais de 5.

Nota: *

sábado, 13 de junho de 2009

Destruir a Casa Branca é coisa do passado

Eu não tinha nenhuma vontade de ver Anjos & Demônios porque acredito que uma história do Dan Brown já seja suficiente. Mesmo assim fui lá sem nenhuma expectativa e acabei gostando bastante. Não é nenhum grande filme mas também não vi problemas graves. É agradável, envolvente e um pouco filosófico sobre a questão fé x ciência. A história não toma partidos e basicamente diz que ambas as áreas podem viver juntas. Eu não sei se esta imparcialidade conta pontos para o filme, parece um maneira de agradar os dois lados por medo de uma repressão - e sofreu do mesmo jeito pelo Vaticano, já é até natural. Só que se A&D tendesse para um dos lados, a minha apreciação por ele iria depender do lado escolhido. Então sua imparcialidade, desta forma, parece uma saída justa.

Já gostei do seu começo por abordar dois assuntos da história recente: a escolha de um novo Papa e o LHC. Mais para frente iremos ver que o novo representante poderá ser um jovem padre. Aí me pergunto por que eles têm que ser velhinhos e retrógrados. Experiência de vida não é o mais importate. A trama se desenrola quando os quatro prefereti (os mais cotados para ser o novo Papa) são sequestrados e Robert Langdon de cabelo novo é chamado para decifrar o mistério com todos os seus conhecimentos porque uma certa mensagem foi deixada no local. A trama de O Código Da Vinci é imbatível no sentido de ser a mais instigante e provocante. Mesmo sendo bem inferior neste quesito, a adaptação de A&D é superior pois não me cansou em nenhum momento. Código foi extremamente longo, parecia que nunca iria acabar. A química entre o Tom Hanks e a Audrey Tautou era praticamente nula. Já a sua parceira neste é a atriz Ayelet Zurer. Quem? É, também nunca vi mais gorda. Ah, ela está em Munique do Spielberg de acordo com o IMDB! Isto não ajuda ainda, não lembro nada de Munique. O que importa é que ela teve muito mais afinidade com o Hanks em A&D e em nenhum momento foi sugerido um interesse romântico entre os dois. E ela foi a responsável pelo momento mais engraçado na minha opinião.

Que polícia despreparada era aquela? O sequestrador do filme eliminava com uma facilidade incrível. Umas aulas com os matadores da Camorra não fariam mal. A sequência que mais gostei foi uma em que milhares de fiéis esperam pela revelação do novo Papa na Praça de São Pedro e uma catástrofe começa a acontecer. Foi visualmente bonita e gostei não porque era o Vaticano que sumiria do mapa. Apesar dessa parte ser a mais eletrizante, a maior revelação só vem depois e nem foi surpreendente para mim porque eu já esperava. E olhe que eu sou péssimo para perceber detalhes.

Um pequeno problema do filme, quer dizer, não sei se é um problema mas quem consegue acompanhar o raciocínio do Robert Langdon? Um enigma é apresentado e logo ele vem com a resposta. O público não tem tempo para pensar. A maioria (including myself) não tem conhecimento suficiente de todas as igrejas italianas ou de toda a lenda dos Illuminati, por exemplo, então o filme sai perdendo quando bombardeia o público com questões que não iremos responder antes do Langdon, logo não temos como saber o próximo local da investigação. Mas como adaptar o livro sem ser desta forma? Acho que não tem como, a não ser que a fidelidade seja sacrificada.

O elenco coadjuvante deste é mais desconhecido com exceção do Ewan McGregor. Tem também o Armin Mueller-Stahl, o dono do restaurante de Senhores do Crime e o Stellan Skarsgård de Mamma Mia. Assim como o Ian McKellen roubava as cenas no Código, o Ewan ficou muito bem aqui. Mais uma vez foi dirigido pelo Ron Howard que teve uma década bem irregular com o seu ápice sendo Frost/Nixon? Convenhamos que Uma Mente Brilhante está caindo no esquecimento e ele é bem duvidoso.

Nota: ****

quinta-feira, 11 de junho de 2009

I'll be back

Eu acabei com o meu jejum de três meses de cinema ontem e isto me deu uma vontade de voltar a atualizar este bloguinho. Estou pensando em publicar textos mais variados sobre cinema para poder criar posts novos com mais frequência. Aí vou ver até quando a preguiça me vence novamente e desisto dele.

O jejum foi quebrado por Anjos & Demônios, a quarta vez que fui ao cinema este ano. Lá em janeiro eu assisti Romance com o Wager Moura e a Letícia Sabatella e gostei bastante. Um dos assuntos abordados é a censura sofrida pelos escritores de TV que devem sacrificar a sua criação artística em nome do interesse público. Só foi uma pena terem aliviado no final praticamente dizendo "Foi uma brincadeira, Rede Globo, a gente gosta das suas novelas". E neste mesmo dia assisti também o Falsa Loura do Carlos Reichenbach que divide opiniões. Eu detestei tanto este filme por causa dos 20 minutos finais. Valeu apenas por eu ter conhecido a promissora Rosane Muholland. Ela seria perfeita para O papel da Bruna em O Doce Veneno do Escorpião. Benjamin Button veio dias depois e não fui mais ao cinema até ontem.

A razão foi basicamente financeira e aproveitei para fazer uma experiência: não depender dos filmes que chegam aqui e abusar dos torrents. Foi uma ótima sensação de liberdade. Dei prioridade aos filmes das premiações de 2008, os principais chegaram aqui e outros ainda não como Rio Congelado, Valsa Com Bashir e Simplesmente Feliz. Mas as coisas vão melhorar a partir do segundo semestre, eu espero.

A minha volta ao cinema teria começado mais cedo se Star Trek fosse chegar aqui. Como o GSR não vai exibi-lo, não verei tão cedo. O verão americano é a pior época do ano, são tão poucas opções. Só vi Wolverine porque ele chegou nas minhas mãos, até que não é tão ruim tirando os primeiros quarenta minutos. Não verei os novos Uma Noite no Museu, Transformers e Exterminador do Futuro. Up só vai chegar em setembro (!!!!). Acho que o próximo vai ser Mulher Invisível...