terça-feira, 23 de setembro de 2008

Desafinando de verdade

Eu nunca tinha ouvido falar de Os Desafinados até poucos dias antes de sua estréia aqui. E ouvi falar tão bem que não pude deixar de criar uma certa expectativa. É simples assim: o segundo melhor filme nacional que vi este ano depois de Estômago. Enquanto este último parte para o lado gastronômico, Os Desafinados é mais ou menos um musical de bossa nova que conta a trajetória de um quarteto (Rodrigo Santoro, Ângelo Paes Leme, André Moraes e Jair Oliveira, o eternamente Jairzinho) carioca em busca do sucesso nos anos 60. Eles tentarão a carreira se mudando para a Big Apple onde conhecerão uma vocalista (Cláudia Abreu) para o grupo. E ainda tem o Selton Mello, um cineasta amigo do pessoal que está tentando acabar o seu filme. Isto tudo é contado através de flashbacks porque o tempo atual acontece na velhice dos personagens. Eu achei lindo os breves momentos em que os atores jovens e velhos foram colocados na mesma cena para fazer a transição entre o passado e o presente. Foi um detalhe mínímo que aconteceu umas duas ou três vezes mas achei bem marcante.

A primeira coisa que vale citar é como o filme não parte para uma história de ascensão e decadência mesmo que você fique com esta impressão no começo. Os Desafinados, aliás, muda de rumo tão fortemente que não parece mais o mesmo filme. Fiquei um pouco incomodado, devo dizer. Mas no caminho para casa fiquei pensando como esta foi a melhor saída. Ou eles faziam algo mais Mamma Mia! (ainda não vi) ou algo mais Across The Universe. Escolheram a segunda opção. Repito. Os Desafinados é mais ou menos um musical, melhor, é um drama musical. Quando resolvem destacar a luta do cineasta do Selton para divulgar o filme, nenhum vestígio sequer de que seja musical existe. A censura caindo em cima, os militares ocupando as ruas, é a cena política daquela época sendo explorada de forma crua. E também a cultural quando mencionam a vitória do Brasil em Cannes com O Pagador de Promessas. Eu não sei se foi a direção de arte, a fotografia ou o figurino que não me convenceu de que a história se passa principalmente nos anos 60. Muita coisa ali parecia tão contemporânea. É bem diferente de O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, um viagem ao passado praticamente. O AdoroCinema classifica o filme como comédia romântica! Faz até um pouco de sentido, quando eu disse que muda de rumo, muda mesmo. O personagem do Santoro é casado com a Alessandra Negrini (sempre uma graça), ele a trai com a Cláudia Abreu que se envolve com o Ângelo depois e por aí vai. Também não entendi porque alguns foram deportados se em nenhum momento a hipótese de que eles foram ilegalmente é criada.

As canções são excelentes, só engrandecem a experiência. E o Santoro nem desafina! A Cláudia Abreu visivelmente não é a dona da voz de suas músicas. E visível também ficou o Selton dublando o ator que faz sua versão mais velha. Todo o quarteto masculino mais o Selton transmite realmente uma energia agradável e inspiradora que parece transceder a tela do cinema. Eu não falei??!! Descobri agora que o Ângelo, o André, o Jair e a Branca Lima que dá voz às canções da Cláudia resolveram seguir com o grupo e já estão até fazendo shows. Os Desafinados do filme nunca alcançaram o sucesso e é um pouco amargo vê-los na velhice, não por causa da idade, mas porque o grupo foi vítima de certas infelicidades que afetaram o seu destino. O número final é o mais forte de todos por justamente servir de referência a um passado cujas vitórias foram apagadas pelos infortúnios da vida.

Nota: *****

Um comentário:

Anônimo disse...

eu não gosto do rodrigo santoro como ator mas mesmo assim esta película é uma delícia!

Lu