
Para tratar de cinco pessoas com suas histórias distintas, é necessário um roteiro perfeitamente escrito que equilibre bem os dilemas de todos os personagens. Neste quesito, Linha é impecável. Bráulio Mantovani colaborou com o roteiro em sua finalização. O título Linha de Passe é referência a uma jogada do futebol e é pedir demais para que eu saiba do que se trata. Só sei que futebol é a paixão da Cleuza (Sandra) e do Dario (Vinícius). Inclusive, o esporte é a única carreira que ele se acha capaz de seguir. Dênis é um motoboy com tendências marginais, Dinho encontrou Jesus e Reginaldo, o caçula, está à procura do seu pai. A família agora está completa. Engano meu. Faltou o quinto filho que ainda está na barriga de Cleuza. Eu me identifiquei com todos eles, pude compreender suas vidas sofridas devido à falta de dinheiro e de uma identidade, como disse antes. É bacana como o filme não faz parecer que a falta de um pai abala a estrutura familiar. Mesmo quando a Cleuza pergunta se nenhum homem da casa é capaz de desentupir a pia da cozinha, ela não está reclamando da ausência de um marido. Quando o Dênis decide praticar furtos, não é por ser apenas uma forma de arrumar dinheiro fácil. É uma atitude ingênua de um ser humano à beira do desespero. A sua consciência da realidade ainda está presente. E se o roubo não dá certo, a sua complexidade vem à tona. Foi uma das minhas cenas preferidas quando ele meio que sequestra um carro e pede para o motorista levá-lo para longe. Neste momento, o Dênis não quer dinheiro. Já o Dinho foi buscar Jesus para atenuar sua realidade. Eu sempre questionei a sua fé, não por achar que fosse falsa mas por ele, inconscientemente, não saber o que ela representa. Um dos seus grandes momentos é quando comente um ato de violência sem necessidade. E quem disse que é possível condená-lo? O pequeno Reginaldo é uma espécie de pestinha. Algumas malcriações podem ter sido gratuitas mas não foi nada que atrapalhasse a nossa compreensão da obsessão do garoto em encontrar o pai. A história do Dario me causou menos impacto talvez por ele ser bem introvertido. Mas é comovente sua insistência em se tornar jogador após tantos fracassos. E mais uma vez como é possível condená-lo por falsificar sua data de nascimento?
Linha de Passe é um daqueles casos onde os atores do elenco se completam. Tem como destacar só um de Pequena Miss Sunshine? É claro que não. Em 2006, o prêmio de melhor atriz em Cannes foi para todo o elenco de Volver já que seria injusto premiar só uma. Pois em Linha também acho injusto só destacar a Sandra. O que importa mesmo é que Walter e Daniela entregaram mais uma vez um excelente trabalho de direção e fico com uma sensação de tarefa cumprida pois queria muito assistir Linha de Passe.
Nota: *****
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