
Eu não estava muito disposto para enfrentar um filme com mais de 150 minutos. Mas O Gângster do Ridley Scott é tão envolvente que você lamenta quando acaba. As ótimas atuações de Denzel Washington, Russell Crowe e elenco, um roteiro sem enrolações e a firmeza do Scott fazem do Gângster um filme imperdível, principalmente com as opções atuais por aqui. É a história verídica de Frank Lucas (Washington), negro americano que passa de motorista ao maior comerciante de heroína dos EUA na década de 70. O negócio de Frank é o melhor porque ele não tem um fornecedor, recebe direto a mercadoria do produtor asiático trazida clandestinamente nos aviões do exército americano no Vietnã. Assim ele pode vender mais barato e ter mais prestígio do que os concorrentes brancos da máfia italiana, sem mencionar o fato da droga ser 100% pura. A coisa foi tão lucrativa que Frank somou uma fortuna de 250 milhões de dólares. Na contramão, temos Richie Roberts (Crowe), o policial mais honesto que você possa imaginar. Richie será encarregado de comandar uma equipe (uma espécie de Intocáveis) que vai combater somente contra o grande tráfico.
É bom ver como o filme não se trata apenas de uma luta entre polícia e bandido dentro dos valores que conhecemos. Enquanto Richie se orgulha de sua honestidade ao recusar dinheiro do tráfico e denunciar os colegas corruptos, ele não consegue a guarda do filho. Frank pode ser frio e violento mas a primeira coisa que faz quando começa a encher o bolso é dar uma casa para a mãe (Ruby Dee). Tem também o Josh Brolin (espero ansiosamente por Onde Os Fracos Não Têm Vez) que faz o lado corruptível da polícia. É só receber uma boa quantia todo mês do Frank e todo mundo fica em “paz”. A Ruby está magnífica no pouco tempo que está em cena. Até vou torcer para ela no próximo dia 24 mesmo sem ter visto ainda as outras concorrentes de atriz coadjuvante. E querer conhecer os indicados antes da premiação não é algo possível morando aqui.
Os anos antes da queda do império do Lucas foram uma espécie de época de ouro para os comerciantes e consumidores. Imagine ter três quartos dos policiais de Manhattan envolvidos não somente com as organizações do tráfico como também tirando uma grana extra através de outros meios. Não é à toa que Frank pode matar ao ar livre em plena luz do dia e sair andando como se nada tivesse acontecido. O Gângster tem cara de filme violento mas até que está bem dosado. Só o último tiroteio no prédio de produção da Lucas Inc. foi um pouco desnecessário, parece que foi para seguir a fórmula. Há uma cena que ainda não esqueci de um bebê chorando na cama e sua mãe morta ao lado de overdose.
Nunca vi um microfone aparecer tanto no topo da tela como neste. O lado positivo é que num filme como O Gângster, isto é um mero detalhe insignificante.
Nota: ****